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[Coletiva] Darren Aronofsky fala sobre 'Mãe!' em São Paulo



Por Victoria Hope

Nesta terça (19), Darren Aronosfky, aclamado diretor e roteirista veio ao Brasil divulgar seu mais novo filme 'Mãe!' e marcou presença na coletiva de imprensa em São Paulo. Conhecido por sucessos como Cisne Negro, O Lutador e Réquiem Para Um Sonho, o diretor falou sobre as diversas facetas de seu novo  filme e ainda fez campanha em prol da salvação da floresta amazônica.  

Um dos filmes que mais gerou polarização entre a crítica e o público, 'Mãe' sem dúvida deixou sua marca na indústria. No longa, um casal interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, vive em uma casa afastada, em um ambiente bucólico onde nada de novo acontecia em suas vidas, até que a chegada de inesperadas visitas coloca em risco não apenas o relacionamento já instável e até mesmo sanidade do casal. Você descobre mais sobre a trama do filme na nossa crítica. 

Na coletiva, Aronofsky abordou diversos temas que permeiam o universo de 'Mãe', desde a escolha do elenco e eco feminismo até mesmo no uso de símbolos e referências a outros clássicos do cinema. Para quem acompanha o trabalho do diretor mais de perto nas redes sociais, foi possível também conferir todas as inspirações que ele usou para o filme, incluindo livros como a obra eco feminista 'A Mulher e a Natureza' entre outros títulos relacionados ao enredo. 

O diretor ainda afirmou que cada uma de suas obras é muito pessoal e que sempre se coloca em todos os filmes que faz. Darren disse 'Eu era a bailarina em Cisne Negro, eu era o lutador em O Lutador, eu era o Mago da Matemática em Pi, eu era o Conquistador em Fonte da Vida', mas aquilo era apenas parte de mim'. 

Aronofsky também contou durante a coletiva que o seu primeiro roteiro de 'Mãe'! foi criado em apenas 5 dias e que para criar um material em tão pouco tempo, se inspirou em cantores que escolhem uma simples emoção e tornam aquilo em uma grande obra. 

Quando questionado sobre o aspecto mais social do filme, como a opressão sofrida por mulheres, Darren comentou que o filme aborda esse assunto atrelado ao tema religioso, no caso da personagem Mãe e sua relação com Ele (Deus), representado por Javier Bardem. Mãe é uma personagem completamente oprimida e negligenciada, então o diretor disse que queria que nós (mulheres) nos sentíssemos exatamente como ele, que nos incomodássemos com a forma que somos tratadas. 

Ele ainda comentou que há um tom de esperança em seus filmes, apesar de tantas tragédias. Darren acredita que mostrar a tragédia, nos faz buscar efetivamente por uma luz e essa luz pode ser revelada nos momentos de maior adversidade. 

Na coletiva também foram abordadas as conexões desse universo de 'Mãe', com outros clássicos, como o Bebê de Rosemary, mas Darren fez questão de ressaltar que não entendeu o motivo por trás do marketing de 'horror', já que para ele, o filme é um drama psicológico e pouco tem a ver com horror ou suspense em si. 

Sobre o curioso líquido laranja tomado por Jennifer toda vez que sua personagem passava mal, Darren disse que essa seria a única pergunta que nunca iria responder e que provavelmente iria levá-la para o túmulo. 

Além de abordar aspectos do filme, incluindo sua paixão pela sintonia do casting, Darren também não perdeu a oportunidade de falar sobre aspectos mais políticos do mundo hoje, dizendo que estamos em tempos perigosos e que nós devemos nos unir a uma causa maior, inclusive, trechos do próprio filme demonstram como o descaso para com o meio ambiente e para com as mulheres também estão nos matando aos poucos.  


Darren vestindo uma camiseta em defesa da Amazonia

Tivemos a oportunidade de perguntar algumas questões relacionadas ao casting e a alguns temas abordados no filme para o diretor e você confere todas as perguntas abaixo!

Amélie:  Como foi trabalhar com Jennifer Lawrence e Javier Bardem?

Darren: Foi excelente. A química e sintonia entre esses dois foi incrível, apesar de ambos serem pessoas muito diferentes. Me surpreendi com Jennifer, ela tem essa força que  faz com que todos os olhos se voltem para ela. Ela representa literalmente a Mãe. Já Javier tem esse aspecto sombrio sobre ele que é perfeito para Ele. Uma espécie mistério que ronda a personalidade dele. 

Amélie:  O que a personagem Mãe representa para você? 

Darren: Bem, ninguém nunca pensou em dar voz a Mãe Natureza, então pensei que seria uma boa ideia dar voz a ela, que realmente é quem acolhe todos nós sobre seu teto. Ela é a criação, o início de tudo. Pensei em como o nosso mundo seria se nosso mundo fosse estruturado pelo novo e velho testamento e qual seria a visão da Mãe Natureza sobre essas influências.

Amélie:  Falando em natureza, estamos em uma época em que as pessoas pouco ligam para preservá-la. O que pensa sobre isso?

Darren: O filme surgiu exatamente por conta de minha frustração com o descaso das pessoas para com a natureza e para com as mulheres e quão pouco estamos contribuindo à tudo o que nossa natureza nos deu, desde recursos naturais a um planeta. 

Amélie:  Você já foi tratado como a Mãe? Com convidados indesejados tentando mudar seu estilo de vida? 

Darren: Mas é claro. Não fomos todos tratados como a Mãe pelo menos uma vez em nossas vidas? Infelizmente, morando sozinhos ou com a família, sempre iremos receber muitas pessoas, às vezes indesejadas principalmente, mas isso faz parte, isso é o ser humano, mas eu mesmo já quis expulsar pessoas e quis que parassem de mexer em minhas coisas (risos).

Amélie:  Mas nós todos somos os convidados indesejados na Terra, não é mesmo?

Darren: Isso mesmo. Muita gente ficou brava por isso (risos), mas é a mais pura verdade. O filme é ao mesmo tempo uma exposição e um conto. É uma forma de dizer 'hey, isso é o que nós estamos fazendo com a Terra, isso é real. Nós precisamos decidir se esse é o futuro que realmente queremos'.

Amélie:  Você acredita que há um motivo por muitas mulheres e identificarem com a mãe?

Darren: Acredito que seja uma alegoria e ao mesmo tempo um aviso. Podemos usar a Mãe de exemplo, já que o corpo dela ( Mãe) representa a casa e a partir do momento em que visitas indesejadas chegam, ela perde absolutamente o pouco controle que tem sobre aquela casa (seu corpo). Entramos aqui na pergunta anterior: Isso é o que nós estamos fazendo com elas (mulheres), isso é o que fazemos com a Terra e isso é horrível, assustador. 

Amélie:  Uma das cenas mais pesadas, foi aquela onde o culto de fãs invadem a casa e destroem tudo. Qual foi a sua maior inspiração?

Darren: Na verdade, minha inspiração foi um documentário que você encontra no youtube, onde mostram a invasão de fãs na propriedade do John Lennon. Parece que ele estava sobre efeito de entorpecentes e muitos dos fãs que invadiram a casa disseram que ele se 'proclamou' como o Messias e realmente, isso é o que fazemos. Nós pegamos palavras que nos são dadas e decidimos como elas devem ser usadas para nosso próprio benefício e isso é muito perigoso. 

Amélie: Você tem esperanças de que o mundo ainda possa mudar?

Darren: Sim, sempre. Eu sou um otimista e acredito que estamos começando a ver a Terra se mover, assim como a personagem de Jennifer, que uma hora se cansa das visitas e se enfureça. Não podemos desistir agora, ainda há esperança.

Cenário da Coletiva

O filme é uma das grandes apostas do Oscar para Jennifer Lawrence e estreia daqui há uma semana em todos os cinemas do Brasil! :)

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