Por Victoria Hope
Quando se fala em filmes, qualidade do som de uma produção audiovisual impacta diretamente na percepção do espectador e é justamente a supervisão de som trabalha na construção da narrativa sonora de um filme e é claro que essa é uma das categorias técnicas principais da Academia ao longo das premiações.
Alien: Romulus, considerado um dos maiores filmes de terror de 2024, com direção de Fede Alvarez, atualmente está na shortlist do Oscar 2024 em diversas categorias, dentre elas, Melhor Som, que fica por conta da equipe supervisionada pelo brilhante Will Files.
Nossa equipe teve a oportunidade de bater um papo com Will e conhecer um pouco mais sobre a área de supervisão de som e sobre a carreira dele, que já esteve presente em diversos sets de produções que vão desde "Stranger Things" a "Batman (2024)", "Planeta dos Macacos", "Cloverfield" e muito mais.
Amélie Magazine: Como se sente em fazer parte da shortlist do Oscar na categoria de Melhor Som por um filme tão fantástico quanto Alien Romulus?
Will: É incrível! Eu sei que é praxe as pessoas falarem que é uma honra só em estar indicado, mas de verdade, isso é muito incrível fazer parte da shortlist, mas falando sério, sendo indicado ou vencendo, isso é uma benção da comunidade que ama filmes de qualquer forma.
É muito bom receber esse tipo de reconhecimento pelo nosso trabalho e também foi muto incrível ver os outros filmes que também estão na lista, porque são filmaços!
Amélie Magazine: Ainda sobre a indicação. Vamos imaginar que você pode viajar pro passado e contar para o pequeno Will que você está concorrendo a um Oscar. Qual será a reação dele?
Will: *risos* Ele jamais imaginaria que concorreria a um Oscar um dia! Mas para ele, o Oscar não seria a parte que ele ficaria encantado, mas sim o fato de eu ter trabalhado em Alien! Na realidade, se há alguns anos atrás você tivesse me falado que eu estaria trabalhando na franquia, principalmente em um filme do Alien que restaura o legado dessa obra, eu não acreditaria.
Trabalhar com essa estética principalmente, foi muito importante e eu confesso que ainda estou me beliscando *risos*. Estou muito orgulhoso e feliz em fazer parte disso e sei que o Will mais novo também estaria.
Amélie Magazine: Como fã da franquia Alien, você tem algum favorito e se sim, seria algum dos clássicos ou esse mais recente tem um lugar especial, por ser o primeiro onde trabalhou?
Will: Eu disse isso pro Fede e se você for perguntar pro Fede, tenho certeza que a reposta dele seria a mesma, então Alien 1, Alien 2 e Romulus! Claro que esse é o caso porque crescemos com esses dois primeiros, mas eu espero que as pessoas jovens que estão assistindo agora, talvez sintam o mesmo que a gente sentiu pelos primeiros, daqui há 20 anos em relação à Romulus!
É muito difícil não voltar para aquele primeiro filme, porque ele é tão profundamente inspirador para mim e aliás, continua inspirador. Eu e minha equipe falamos bastante dele, principalmente sobre o ponto de vista do design de som excelente, mas não apenas isso, também sobre ser um filme corajoso que tomou diversos riscos e por ser também um projeto onde fizeram escolhas criativas muito brilhantes, então ter a oportunidade de trazer algumas coisas de lá e aplicar no novo filme, foi uma alegria imensa.
Alien Romulus / Foto: 20th Century Studios |
Amélie Magazine: Como é o seu processo criativo quando vai começar a trabalhar no design de som de um novo projeto?
Will: A primeira coisa que eu faço é assistir filmes, honestamente. E nesse caso, as escolhas eram óbvias *risos*, é sempre muito útil. Eu também coloco a trilha sonora pra tocar e fiz muito isso enquanto estava dirigindo por Los Angeles, tentando absorver e viver naquele universo, o que é sempre muito útil nessa parte do processo criativo, mas essencialmente, é como uma tela branca, pois você começa a imaginar cenários e sons que caberiam no próximo projeto.
Mas é claro que em Romulus, tivemos muitas conversas com Fede, principalmente antes mesmo dele começar as filmagens do longa, então tivemos a chance de fazer esse brainstorm de ideias para os sons antes mesmo da gravação e ele também nos pediu para fazermos alguns sons ao vivo no set, ou seja, começamos esse filme muito antes do filme em si começar a ser criado.
Falamos sobre momentos chave do filme em termos de sons importantes, falamos sobre como queríamos que fosse a atmosfera no set, inclusive, ele queria que as pessoas realmente entrassem ali e que o som fosse bem alto e que a voz dos atores fosse mais alta para conflitar com o som e passar ainda mais realismo ao ambiente.
Ele ajudou em todo esse processo, então fizemos um monte de sons baseados em artes conceituais que ele nos enviou e no roteiro também. Basicamente tivemos que fazer sons do espaço, maquinário, ar soprando dos dutos e tudo mais que ele descrevia.
Tudo estava bem alto, então os atores realmente tiveram essa imersão no ambiente através do som e do design do set e o mais legal foi que a equipe deixava os sons altos antes de começarem a gravar as cenas para que os atores mantivessem a energia lá no alto e assim que a câmera começava a rolar, aí o som ficava mais baixinho, mas não a voz dos atores e isso funcionou bem.
Alien Romulus / Foto: 20th Century Fox |
Amélie Magazine: Três trilhas sonoras de filmes que mudaram sua vida.
Will: Eu diria Alien *risos*, mas sério, eu falaria isso mesmo, porque é tão inovador e original! Eles pegaram muitos conceitos de Star Wars em termos de design de som e foram ainda mais além, colocando sons estranhos e inesperados que funcionam bem no sci-fi, então isso é muito inspirador, principalmente com o uso minimalista da trilha sonora.
O próximo com certeza é O Iluminado. Esse é bem importante pra mim, pois a forma em que Kubrik, combinava música e ausência de som, da mesma forma que usava ausência de som com música; todas essas escolhas sutis, são justamente o que fazem esse filme ser tão assustador e efetivo.
E o terceiro seria Clube da Luta. Eu queria ter dito Se7en - Os Sete Crimes Capitais, mas vou dizer Clube da Luta. Ele é completamente imersivo em termos do uso de som como textura; tipo, está sempre chovendo, tem gotas caindo, tudo tem uma tangibilidade muito real.
Os dois filmes na realidade são deliciosos de se ouvir, tão texturizados e ainda assim com escolhas de som muito elegantes e de bom gosto, principalmente porque sou fã quando mexem com diferentes texturas do som.
Alien Romulus / Foto: 20th Century Fox |
Amélie Magazine: Será que podemos falar sobre aquela cena icônica do novo híbrido de Alien Romulus? Como foi o processo da criação de som para aquele momento que fez gelar nossas espinhas?
Will: Sim, aquela foi uma cena muito interessante de construir em termos de trilha sonora! Muitas vezes você vê uma cena e tem certa ideia de como ela vai soar e com Fede sendo uma pessoa tão criativa no estilo de direção dele, geralmente tem uma ideia muito clara do que ele quer ver em cada momento em termos de sons também e juro, nenhum de nós sabia como deveríamos proceder com essa cena *risos*, ou seja, tudo o que sabíamos é que queríamos um som que parecesse completamente deslocado do resto do filme, para trazer aquela estranheza, então o compositor Benjamin Wallfisch, também teve o mesmo processo criativo para a música.
O filme inteiro é bem sinfônico e lírico, melodicamente falando até aquele ponto, mas aí quando essa cena começa, tudo é muito sensorial, minimalista, estranho, com muita percussão, para trazer um certo pânico para a atmosfera.
Por anos sempre fomos obcecados por um som particular de uma sirene que é tocada apenas no trailer de Alien 1 e estávamos tentados a usar em Romulus e conseguimos colocar essa sirene ali na cena do híbrido, para fazer essa homenagem tentando usar instrumentos diferentes, mas no fim o que usamos mesmo foi um megafone para ampliar o som do ambiente, aí diminuímos a velocidade desse som e mudamos o tom até chegarmos no que queríamos alcançar, que essencialmente era aquela sensação de pavor que o som do primeiro filme traz.
Alien Romulus / Foto: 20th Century Fox |
É aquele tipo de som que faz sua pele saltar dos ossos! Tocamos esse som pro Fede e ele disse "É isso! Finalmente conseguimos! Vamos usar essa sirene na trilha junto com um som de pulsação, vamos tirar toda a linha do que é real e o que não é e vamos fazer o público perceber isso!"
E assim que ele me deu esse conselho, era como se eu finalmente tivesse me libertado. Isso foi o que me ajudou a criar essa cena, que pouco a pouco, foi tomando cada vez mais forma, mas aí quando achamos que já estava tudo terminado, no momento em que a criatura aparece, ele queria que tirássemos todos os sons a não ser pela sirene e pela respiração da criatura. É um dos meus momentos favoritos do filme de se assistir com o público, porque você tira todo aquele conforto do som familiar e deixa apenas a criatura em destaque no momento!
Você olha para aquela criatura horrenda e a audiência toda simplesmente fica sem ar! É algo que eu gostei muito de ver! Muitos palavrões foram ditos na sala do cinema nesse momento *risos* É um momento realmente único, onde o foco é apenas a criatura e o horror que ela proporciona.