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[Review] A Substância

 

Por Victoria Hope

A Subtância de Coralie Fargeat teve estreia no festival de Cannes desse ano e venceu  merecidamente a categoria de Melhor Roteiro e muito provavelmente, não passará despercebido durante a temporada das grandes premiações de cinema dos Estados Unidos.

Um dos trunfos dessa nova leva de filmes, é ver cada vez mais mulheres na direção de horrores corporais nos últimos; temos até mesmo Titane, grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2021 e agora, temos a Substância, que subverte o gênero, trazendo uma trama extremamente original, ainda que inspirada em um tema já explorado e que ainda merece mais análises ainda: O Culto às celebs e o etarismo que assola as mulheres na sociedade.   

A Substância é como se A Morte lhe Cai Bem fosse dirigido por Cronenberg, mas é claro que a comparação aqui é apenas relacionada ao terror corporal, já que essa nova abordagem é completamente única e talvez possa até mesmo ser comparada com a originalidade de A Mosca.


A Substância / Foto: Mubi

Sem tocar em spoilers, na trama, o público acompanha a história de Elizabeth (Demi Moore), uma atriz, ou melhor, ex-atriz, em seus 50 anos que agora, apresenta um programa de ginástica aeróbica na TV, mas vê seu mundo colapsar em sua frente ao ser chamada de velha por um dos donos do canal que trabalha; sendo esse cara, interpretado de forma hilária (e asquerosa) por Dennis Quaid.

Após um pequeno surto por conta disso e um acidente quase fatal, Elizabeth se vê obrigada a aceitar um procedimento estético que supostamente mudará sua vida e lhe dará uma versão melhor de si mesma, mas é claro que ninguém lê as letras miúdas e Elizabeth obviamente entra em uma espiral caótica que colocará sua vida em risco.

Esse é de longe o melhor trabalho da carreira de Demi Moore, é um de seus trabalhos mais inspirados, onde a atriz não tem medo de ser bela, grotesca, assustadora, triste e tudo que o texto a permite e até mesmo o que não permite, pois ela, ao lado de Margaret Qualley (Sue), vai muito além! 


A Substância / Foto: Mubi

A diretora do filme, Coralie Fargeat, tem um curta de 2014 muito especial disponível no YouTube, que também aborda a mesma questão do padrão de beleza da sociedade e sua relação com procedimentos e a tecnologia. Se chama Reality + e é uma boa opção para quem gosta de terror corporal, inclusive, é uma excelente ideia assistir esse antes de mergulhar nesse novo universo de Fargeat.

A Substância é talvez um dos filmes que mais acerte na questão de dismorfia corporal, que é quando a pessoa não se enxerga no corpo que tem e vê algo distorcido da realidade; algo que apenas precisa de melhora e nunca está perfeito. O filme faz um excelente papel em mostrar como Hollywood quebra o espírito de mulheres, principalmente mulheres mais maduras, acima de seus 50 anos, que são completamente descartadas por atrizes cada vez mais jovens e isso é possível sentir na pele, pois muitas mulheres já foram tratadas dessa forma, seja pela indústria, seja pelas redes sociais ou por círculos da vida real, eu mesma, fui uma delas e em momentos, senti como se eu, Victoria, assim como Elizabeth, fosse o alvo dos comentários do produtor e daqueles homens asquerosos de terno. 

Elizabeth é belíssima, mas ela não vê isso e seu narcisismo exacerbado nada mais é do que reflexo de sua baixa auto estima. Talvez algumas pessoas se incomodem com a exposição de corpos no filme, mas é possível ver a intenção da diretora em cada frame e desmistificar o corpo, principalmente feminino, é essencial. Seria um erro esse filme não ser indicado às próximas premiações. 

Nota: 9.5/10

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