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Por que a história entre Salim e o Jinn é tão importante em American Gods?



Por Victoria Hope 

American Gods, adaptação da obra de Neil Gaiman (Sandman) é sem dúvida uma das séries mais subversivas da temporada. Com a temática de deuses de diversas mitologias, a série aborda diversos assuntos desde o sistema carcerário norte americano, ao racismo, machismo, o culto à tecnologia, entre outras questões que assolam a América e o Mundo.

Dentro da história, acompanhamos a saga de Shadow Moon, um ex-presidiário que ganha a chance de liberdade ao conhecer Mr. Wednesday, que representa o Deus Nórdico Odin. Logo de início criamos um vínculo com Shadow, pois de longe, ele foge de todos os esteriótipos de um homem negro representado na mídia. Ele foi preso por conta de Jogos de Bilhar (por influência de sua ex- Esposa, Laura Moon), porém é um homem pacífico e passivo, confuso com o 'mundo dos Deuses', mas disposto a mudar de vida.

Poderíamos falar sobre outros diversos aspectos que tornam desta a melhor série do ano, sendo elas a diversidade do elenco, as referências histórico-culturais bem como a questão da sexualidade, muito bem abordada, mas iremos falar agora de dois personagens que trazem o 'coração' da série em sua essência.

Antes de conhecer a história de Salim e Jinn e conhecer sua importância para o enredo, é importante contextualizar os principais pontos da série. Primeiramente, o amor romântico é banalizado no início da série, pois Shadow, nosso protagonista, foi traído por sua ex-esposa, que em nenhum momento se arrepende do ato da traição e que por 'destino' acaba ressuscitando com a ajuda 'involuntária' de seu esposo.

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Shadow Moon / STARZ

Laura Moon, volta a vida e não se mostra arrependida, demonstrando que o amor entre ambos era fraco, apesar de Shadow amá-la incondicionalmente. A partir do momento em que ela retorna, Shadow a deixa ir, sabendo que eles nunca serão um casal novamente.

Outro aspecto sentimental é o '' amor'' em forma de reverência aos Deuses Antigos, estes que clamam por tributos de seus fiéis. A principal premissa da história é de que deuses ancestrais como a africana Bilquis, o nórdico Odin e até mesmo um Leprechaun Irlandês, exigem tributos e sacrifícios de seus fiéis, pois com a chegada da tecnologia , a sociedade parou de acreditar nessas velhas divindades, passando a reverenciar coisas novas como a Internet e a Mídia.

É a partir daqui que mencionamos Salim e sua história com o Jinn. O jovem Salim é um homem muçulmano e representante de vendas tentando a sorte na América. Sua vida é o que podemos chamar de um verdadeiro desastre, pois além de mal conseguir vender suas quinquilharias, ele é quase invisível para a sociedade americana, por ser árabe e por ser um homem gay (ainda no armário).

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STARZ

Todas essas características são extremamente importantes para trama, principalmente em tempos de conflitos entre o Oriente Médio e os Estados Unidos. A história de Salim poderia ser ainda mais triste, mas tudo muda quando ele conhece o Jinn.

Jinns são Ifrits, divindades que fazem parte da lenda do Oriente Médio, que diz que Deus (Alah), criou as pessoas com barro, os anjos e depois, Os Jinn, Pessoas do Fogo. Esses últimos, são como divindades que possuem fogo correndo em suas veias e no lugar de olhos, possuem chamas.

Salim não sabia que sua vida mudaria a partir do dia em que ele encontrasse o Jinn, mas isso aconteceu logo em que ele pegou uma carona em um táxi qualquer. O motorista logo cria empatia com seu passageiro, pois também é mulçumano e logo começa a conversar com Salim em sua língua natal.

Eventualmente, ambos descobrem ser nativos do mesmo local, Oman e quase que imediatamente sentem uma forte ligação. Salim logo se sente atraído pelo motorista, pois ele foi o primeiro contato que Salim teve com sua tão amada cultura após anos, ou seja,  finalmente ele encontrou alguém que o entende e o motorista se sente da mesma forma.

Em algum momento, enquanto seguiam pelo transito, Salim percebe que seu motorista está dormindo e ao tocar seus ombros, nota que o motorista é de fato um Jinn, com fogo vivo em seus olhos.

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Muitos acreditam que Jinns (Gênios) podem 'realizar' desejos, mas logo que Salim pergunta ao motorista se ele é um Jinn, este mesmo confirma, mas diz que não realiza desejos. Isso é muito importante, pois o Ifrit é uma divindade, mas na América ele vive dirigindo táxis, emprego considerado 'baixo' para pessoas de Oman, mas infelizmente é a única opção que muitos homens do Oriente Médio recebem ao chegar nos Estados Unidos.

Salim fica fascinado com as histórias do Jinn e se sente cada vez mais encantado com a Divindade. Vejam só, aqui a Divindade Jinn se coloca no mesmo patamar de Salim, coisa que já o difere de todos os outros Deuses de American Gods.

Os dois acabam indo para o mesmo hotel e passam uma noite juntos, em uma das cenas mais gráficas entre dois homens já apresentada na televisão até hoje. Novamente, a série poderia ir para o lado caricato aqui, mas o que houve foi completamente o contrário.

Vale lembrar que homossexualidade é crime em Oman, cidade natal dos dois personagens e tanto no livro quanto na série, percebemos que Salim sempre foi um homem gay acostumado a esconder sua sexualidade e que estava fadado a encontros anônimos e rápidos (por ter vergonha se ser quem era).

Em nenhum momento a cena é tida como um 'pecado' ou um segredo terrível. É a primeira vez que vemos uma relação amorosa tão positiva e saudável entre dois homens não brancos e muçulmanos na televisão.

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STARZ

Com o Jinn, pela primeira vez Salim se sente livre para fazer o que sempre quis fazer. Em um momento, ele até mesmo se ajoelha perante o Ifrit, a fim de engajar com uma atividade oral, porém logo ele é parado pelo próprio Jinn, que o faz levantar a altura de seus olhos,  reforçando mais uma vez que ele e Salim estão no mesmo patamar.

Diferente de todos os outros Deuses, o Jinn não quer ser reverenciado, nem exige sacrifícios. O que ele realmente quer é fazer uma troca através do amor. O Jinn não demanda nenhum tributo do seu fiel (Salim) em nenhum momento e isso já o diferencia de todos as outras divindades (como Anancy, por exemplo, que exigiu sacrifício de sangue dos seus fiéis).

Ao que tudo indica, desde a conversa do Jinn com o Salim no táxi, o que essa dividade mais quer é ser respeitada e ter uma vida digna, coisa que Salim também almeja. Aqui a felicidade do Jinn é encontrar alguém que o entende e ele encontra tudo isso no Salim.

É até chocante pensar em quão romântica a cena entre os dois foi, mas isso também se deve à mente extremamente habilidosa de Bryan Fuller, conhecido também por seu trabalho em Hannibal. A cena entre os dois poderia facilmente ter se tornado algo estereotipado e de mau gosto, mas o que foi apresentado foi uma das cenas de amor mais bonitas da TV atual.

A todo momento, o Jinn olha nos olhos do amante e o reverencia como uma divindade; Aqui o Salim é reverenciado com toques, olhares e tudo o que tem direito. Até mesmo a posição em que se encontram demonstra o máximo respeito que o Ifrit tem para com Salim.

Em um momento da cena, somos levados ao cosmos, em meio a um deserto, onde podemos ver a verdadeira forma do Ifrit, novamente demonstrando que o Jinn  vê Salim como algo divino, digno o suficiente para chegar ao Cosmos assim como todas as outras divindades.



Na história Deuses Americanos, nenhum dos Deuses retribui os sacrifícios e reverências de seus seguidores. Ou seja, ele pegam e pegam, mas não dão nada em troca, reforçando mais uma vez a diferença deles para com o Jinn, que não apenas reverencia seu fiel, mas também o dá algo em troca: Liberdade e coragem para ser quem é.

Após o ato entre Salim e Jinn, o Ifrit desaparece completamente, mas não sem deixar um presente ao seu amante: Uma nova vida e uma nova identidade. Descobrimos que o táxi era apenas um disfarce do Jinn e que a partir de agora, Salim tem um pouquinho da Divindade em seu próprio corpo.

A história dos dois poderia terminar por aqui, mas nos últimos episódios de American Gods, encontramos Salim novamente, agora cheio de confiança e mais feliz do que nunca. Ele está numa missão para encontrar seu Jinn e junto de Laura Moon e do leprechaun Mad Sweeney, segue viagem para grande batalha dos Deuses.


American Gods terá o último episódio da 1ª temporada disponibilizado na próxima segunda-feira (19/06) no serviço de streaming Amazon Prime Video. 

4 comments:

  1. Ótimo texto. A cena tinha ficado confusa pra mim mas o artigo me fez entender.

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  2. Amei a cena, realmente uma das mais românticas que já vi!!!!!!!

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