Por Victoria Hope
Essa edição do Sundance recebeu o incrível longa 'Girl Picture', dirigido por Alli Haapasalo, com roteiro de Daniela Hakulinen e Ilona Ahti, o filme é uma verdadeira carta de amor as mulheres em uma das épocas mais complicadas e maravilhosas de suas vidas: a adolescência. Com a mensagem de amor, respeito, sexualidade e descobertas, o filme conta a história de três garotas que estão navegando por suas vidas em meio a sonhos, alegrias e tristezas.
Girl Picture manifesta a energia jovial, força e a importância das amizades femininas, onde todas se apoiam, todas torcem umas pelas outras e sabem que podem contar uma com as outras nos momentos mais difíceis. De forma revigorante, Haaapalaso retrata com muita positividade e autenticidade, a vida desse trio de melhores amigas, interpretadas brilhantemente por Linnea Leino, Aamu Milonoff e Eleonoora Kauhanen.
Nessa quarta (26), tivemos a oportunidade de bater um papo com a diretora Ali sobre o filme e conhecer um pouco mais sobre o processo de criação desse projeto. Para conferir a crítica completa do filme, acesse aqui.
CONFIRA A ENTREVISTA
Amélie: O que a inspirou a contar a história de Girl Picture?
Alli: A ideia inicial veio das roteiristas Ilona Ahti e Daniela Hakulinen, que foi quem fez o pitch dessa história para mim, mas acho que todas nós compartilhávamos a necessidade de contar a história de uma jovem mulher ou a história de jovens mulheres, que seria 'hoje', moderno, fresh, talvez com personagens mais complexas do que estávamos acostumadas a ver nas telas.
Foi um dos nossos objetivos entregar uma história onde garotas estão no centro, onde elas vivem por conta própria, em seus próprios termos, onde não são definidas por garotos ou adultos e onde garotas são livres para ser quem elas são, sem estarem em perigo ou serem diminuídas como pessoas, mas também queríamos fazer isso de uma forma divertida e emocionante, com leveza mas com essa força para essa representação das mulheres.
Amélie: Quais foram os maiores desafios durante as filmagens?
Alli: A resposta chata é tempo e dinheiro (risos) porque nós tínhamos apenas 25 dias para filmar e tínhamos um budget pequeno, o que sempre é uma dor de cabeça. Existem coisas que queremos levar mais tempo fazendo e algumas cenas.
Mas artisticamente falando, percebi que o maior desafio era confiar na história, porque se você focar na parte artística, é um filme menor em termos de plot, pouca ação acontece e tudo acontece em uma frequência que funciona mais como um estudo dos personagens e você precisa fazer certo e fazer de forma real em relação a como as garotas se sentem.
Quais são as emoções delas e como fazer a audiência se conectar com isso e eu acredito que o público apenas se conecta, se isso for genuinamente real, não pode ser apenas 'esteticamente' colocado ali. É claro que eu acreditei na trama, mas fiquei me perguntando 'existe história suficiente?' Porque num filme de ação, você sabe que o roteiro tem que ser excitante do início ao fim, agora aqui como o roteiro é poroso, muito do que aconteceu teve que ser deixado para o set, o que é ótimo, mas também foi o maior desafio.
Amélie: Eu amei o casal sáfico e adorei o fato de que elas simplesmente existiam no plot, sem a necessidade da fase de 'sair do armário'. O que pode dizer sobre isso?
Alli: Sim, esse foi outro aspecto importante para nós. Nós, tanto eu quanto as roteiristas, acreditamos que a orientação sexual deveria ser tratada de forma comum, sem que (ela) seja um problema, aliás, ela não deveria ser. Ponto. Eu não digo que não tenhamos que fazer histórias sobre 'sair do armário'. Histórias sobre 'sair do armário' são muito importantes.
Eu tenho certeza que em vários lugares desse mundo, onde é extremamente perigoso revelar-se, então eu não estou dizendo tipo 'Ah, você sabe, chega disso, todos deveriam estar bem com isso', mas eu acredito que deveria existir um mundo nas telas, onde a orientação sexual não é um problema, onde é algo muito comum e aceito por todos, porque então isso existe ali, pode ser assistido por pessoas e pode empoderar essas pessoas que ainda não se sentem dessa forma, mas querem e eu gostaria de criar esse mundo.
Amélie: Enquanto filmava, você conseguiu se ver em alguma das personagens?
Alli: Não uma, mas todas as três (risos). Em vários aspectos, eu fui a 'boa aluna' como Emma, que era super focada na patinação, eu não fazia patinação artística, nunca fui atlética (risos), mas eu era uma garota muito focada, mas aí eu também sempre fui espalhafatosa e sempre me postei a frente, como Rönkkö e eu também era muito interessada nos garotos e em descobrir minha identidade, aprender tudo e também tem o lado da 'estranheza'.
Mas também acho que se uma dessas três garotas se tornasse uma diretora em suas vidas, essa garota seria Mimmi, porque ela é analista de filmes e que gosta de pensar criticamente em questões de cultura e sociedade e ter essas conversas. Ela também é interessada por artes visuais, então eu posso me identificar com todas elas.
Amélie: Como diretora, qual seria o projeto dos seus sonhos para os próximos anos?
Alli: Meu trabalho dos sonhos seria pegar o roteiro no qual estou trabalhando faz anos com Carolina, uma roteirista aqui da Finlândia, e essa história seria sobre uma mulher que vive uma vida dupla. Eu praticamente pensei na história original há muito tempo atrás, eu ainda estava em Nova York, na faculdade de Cinema e isso já faz praticamente 8 anos, eu acho e nós estamos escrevendo ele desde então. A história já teve várias voltas, mas está ficando pronto e sinto que nós estamos prontas para ele, então esse seria meu sonho se tornando realidade.
Amélie: Se você pudesse enviar uma mensagem para a Alli adolescente, qual seria?
Alli: Você não sabe agora, porque você ainda é nova e não tem a perspectiva, mas você não precisa resolver tudo sozinha imediatamente. A vida também irá levá-la, as coisas vão acontecer e você irá ganhar perspectiva. Nem tudo precisa acontecer agora mesmo, você pode acreditar na vida, ela vai te levar a lugares.
Amélie: Um recado para as mulheres que sonham em trabalhar como diretoras nessa indústria?
Alli: Acredite de verdade em você, acredite em quem você é. Seja você mesma. Esses são os melhores conselhos que eu tento dar a mim mesma até hoje. Você não precisa ser nenhuma outra pessoa, você precisa focar em quem é você mesma.
Você pode nem sempre saber quem você é e você talvez precise descobrir isso e isso pode levar tempo, mas é claro, nós mudamos, mas tente, tente tocar em quem você é e acredite nisso. Não tente mudar quem você é, não acredite em que tenta te diminuir.
Acredite que é boa, acredite que é inteligente, acredite que você é talentosa, porque você é e apenas, vai fundo, acredite em você mesma.