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[Review] Hamnet de Chloé Zhao é um retrato poético sobre o luto coletivo

 

Por Victoria Hope

Há quem diga que o luto é algo para ser sentido de forma distinta por cada indivíduo, mas em "Hamnet", novo filme da vencedora do Oscar Chloé Zhao estrelado por Jessie Buckley e Paul Mescal, chega para ressignificar essa dor através da adaptação de um dos clássicos de Shakespeare.

A adaptação da obra de Maggie O’Farrell, que inspirou o filme, conta a história de William Shakespeare (Mescal) e a sua esposa, Agnes (Buckley), celebram o nascimento do seu filho, Hamnet, no entanto, quando a tragédia atinge e Hamnet morre ainda jovem, isso inspira Shakespeare a escrever a sua obra-prima intemporal, Hamlet.

Em um filme carregado por performances brilhantes, especialmente de Jessie Buckley, que com certeza será considerada para a próxima temporada de premiações, acompanhamos a dor de uma mulher apaixonada por um homem que muito se preocupa com seus sonhos e ideiais e pouco passa tempo com sua família.

No seu âmago, Agnes entende a importância do que William está fazendo e entende que aquele ar do campo e toda a violência que seu esposo passava pelas mãos de seu próprio pai, estavam o adoecendo aos poucos. Mesmo com as crianças nascendo uma seguida da outra, seu marido continuava diststante, então ela sabe que não pode fazer nada a não ser deixá-lo ir.


Hamnet / Foto: Focus Features

Apesar do ritmo mais lento do filme, em nenhum momento se sentem as duas horas e cinco minutos de duração, muito pelo contrário, é uma história que parece se desenvolver até rapidamente demais, com a passagem do tempo sendo mostrada de forma dinâmica, mas sempre indo de acordo com o ritmo dos próprios personagens.

Existe um momento em "Hamnet" onde todos nós tanto expectadores quanto o público que rodeia os palcos de Shakespeare podem sentir a dor de Agnes; sentir o luto dela de perto e é nesse momento que as lágrimas escorrem sem parar porque aquilo é cinema! Não apenas a palavra cinema, mas aquele sentimento de quando se está em uma sala lotada de pessoas, todas respirando em uníssimo, passando pelo mesmo luto que aquela mãe ao ver a peça de Hamlet ganhar vida.

Aquele sentimento de que todas nossas vidas estão interconectadas mesmo que por apenas algumas horinhas, junto com a sensação de que podemos esquecer um pouco de nossas próprias histórias para além da grande tela e viver aquele sentimento de compreensão; É como se todos nós estivéssimos tocando a mão do personagem naquele momento, embalados pela belíssima trilha de Max Ritcher. 

A forma como Shakespeare ressignifica a morte de seu filho na peça, nos relembra em como a arte também acalenta perante ao luto e quando lhes faltaram palavras para dizer, William prefiriu mostrar para a esposa de forma corporal e mais humana possível de que eles nunca estariam sozinhos, não enquanto a arte continuasse a celebrar a existência  e a dor da perda de Hamnet. 

NOTA: 9.5

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