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[Review] 4 da espécie – A história do corpo coisa nenhuma

 

Por Victoria Hope

Em 4 da Espécie - A história do corpo coisa nenhuma, da dramaturga paulistana Michelle Ferreira, o público é provocado a questionar os 'papéis' impostos ao gênero pela sociedade, trazendo uma mensagem pontual, social e tão necessária nesse momento em que vivemos. Com estreia nessa sexta (10), a peça estará em cartaz até o dia 4 de dezembro no Sesc 24 de maio, localizado em frente à Galeria do Rock em São Paulo. 

Na nova peça da Má Companhia Provoca, tudo começa num feriado, mais especificamente no dia dos mortos, quando um grupo de quatro pessoas se perde em um chalé abandonado próximo a montanha. Ambientado em um múltiplos cenários com com 7 atrizes, a obra se sustenta no seu roteiro eficiente, ao passo que levanta questões importantes da sociedade moderna, bem como os papéis de gênero impostos pela sociedade, o patriarcado que afeta a população em geral e como regras impostas apenas por um grupo que é visto no 'poder', é extremamente terrível.

O elenco composto por Ivone Dias Gomes, Letícia Rodrigues, Lúcia Bronstein, Maíra De Grandi, Maura Hayas, Renata Augusto e Renata Guida é um show a parte, trazendo bom humor e emoções à flor da pele em performances que definitivamente vão marcar pra sempre. 

Logo de cara, o público é apresentado a quatro personagens distintos, Jaque Martini, Soni Kudler, Bibi Bibete e Lee Quatropani, que após uma partida de basquete, partem em aventura para um chalé em uma região vagamente desconhecida. Logo de início, o que parecia ser a oportunidade perfeita para o início de uma bela amizade, rapidamente se transforma em uma batalha de egos - e 'testosterona', onde 'ganha' quem fala mais alto.


4 da espécie - a história do corpo coisa nenhuma/ Foto: Laerte Késsimos
Aos poucos, os conflitos que antes eram minúsculos, como por exemplo, a busca por uma chave perdida, tomam rumos assustadores quando cada um começa a revelar seu verdadeiro caráter. Nesse jogo do gênero que domina as relações de poder, o que acontece quando quando a disputa territorial e 'fálica' toma os holofotes e personagens que achávamos conhecer, não são quem parecem ser?

Hora trazendo diálogos hilários, hora passando mensagens fortes e necessárias,  passando por temas como abuso de poder, abuso sexual, violência e corrupção política, com destaque para um forte monólogo  específico que vai fazer as lágrimas rolarem e a raiva acender o coração, 4 da espécie - a história de coisa nenhuma, triunfa ao apontar o dedo na ferida e trazer mensagens difíceis a serem digeridas, mas muito necessárias em momentos onde a repressão do corpo volta em nossa sociedade, mais forte do que nunca e se faz necessário tomar as rédeas de suas próprias escolhas, mesmo que elas sejam muito difíceis.

Quem é a sociedade para ditar os traços de um bebê que sequer nasceu? Quem deu o direito de colocar a criança que ainda não está aqui em uma caixa de papéis impostos a sociedade e o que nós, como seres humanos, podemos fazer para quebrar esse molde e destruir essas amarras? A grande mensagem que fica é, não estamos sozinhas, não estamos sozinhos e enquanto estivermos aqui, o pulso ainda pulsa e que juntos somos mais fortes. 

4 da Espécie - A história do corpo coisa nenhuma está em cartaz no Sesc 24 de Maio de 10 de novembro a 4 de dezembro, de quinta a sábado às 20h e de domingo às 18h. 

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