Por Victoria Hope
O documentário "Salão de Baile: This is Ballroom" traz um retrato da comunidade brasileira LGBTQIAP+ que frequenta e promove 'ballrooms', festas inspiradas pela cultura noturna de dança voguing que marcou os EUA nos anos 60.
Nascido em Nova York nos Estados Unidos, o ballroom era mais do que uma festa, era um ato de acolhimento para a comunidade queer, principalmente negra e latina; um espaço seguro para que as pessoas pudessem se expressar através da dança bem como também se conectar com outras pessoas da comunidade. Era mais do que diversão, pois era por si só, um ato de resistência.
Já aqui no Brasil, em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador entre outros, contam com coletivos que buscam fomentar essa cultura, promovendo diversos bailes, onde acontecem as competições divididas em diversas categorias, que podem ser dividas entre runway (desfile), face (Rosto), Body (corpo) e é claro, voguing entre muitas outras.
Categoria de Rosto no Salão de Baile: This is Ballroom / Foto: Mostra de SP |
Este documentário faz um excelente trabalho em mostrar a cena cultural ballroom brasileira, contando as origens desde suas raízes americanas, com as "mães" de cada casa criada nos Estados Unidos, revelando nomes que marcaram até mesmo o antigo documentário "Paris em Chamas", um retrato sobre a comunidade ballroom de lá, bem como traçando um panorama sobre as casas brasileiras que promovem ballrooms por todo o país.
Uma das precursoras da cultura ballroom, aliás, Crystal LaBeija, é dita como a criadora do sistema de “casas” e até hoje continua sendo maior referência mundial do movimento. Ela era uma mulher trans e negra, que decidiu fazer seus concursos e espaços de acolhimento após sofrer racismo na cena drag, que na época ainda era dominada por brancos.
Utilizando o mecanismo de reconstituição lúdica, participantes do documentário, moradores da Baía de Guanabara, contam as histórias de origem do ballroom lá fora e no Brasil, contando um pouco sobre suas próprias realidades, em sua maioria realidades periféricas. É incrível saber como a comunidade encontra meios de se conectar mesmo por meio desse movimento criado tão longe, nesse trabalho de resgate histórico.
Nota: 9/10