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[Review] Fúria Primitiva, estreia direcional de Dev Patel, é uma obra prima de ação

 

Por Victoria Hope

Um dos filmes mais aguardados do ano sem dúvidas é Fúria Primitiva de Dev Patel! O longa, que teve premiere oficial no festival SXSW desse ano, marca a estreia direcional do ator, que nesse filme, não apenas dirigiu, como protagonizou o filme e também roteirizou e conseguiu fazer tudo isso com primor, mas é claro,  contou com ajuda de Jordan Peele, que é produtor também do filme e fez questão que o longa fosse lançado nos cinemas, ao invés de ir diretamente para a Netflix.

Na trama, acompanhamos a história de um rapaz que tem sede de vingança por um crime que foi cometido contra sua mãe e sua vila inteira durante a infância do rapaz. O protagonista sem nome, que adota o título de 'Bobby', mais pra frente, se torna um rapaz marcado pelo trauma que vivenciou e no dia a dia, participa de lutas para conseguir grana extra e atingir seus objetivos.

Diferente de outros filmes de ação que vimos antes, Fúria Primitiva usa o tempo a seu favor, sem apressar a história, contando pouco a pouco a origem desse personagem e levando tempo para construir o universo desse filme, onde a realidade da trama, se encontra com a realidade do mundo real.


Fúria Primitiva / Foto: Diamond Films

Com cenas de ação eletrizantes, ultra-violentas e criativas, ao mesmo tempo em que esse é um filme sangrento, ele também é um filme que acalenta e consola, entregando pequenos momentos de alegria, comédia e doçura. 'Bobby' é um ninguém, mas como um dos vilões da trama diz, um dia, um ninguém pode se tornar alguém e essa fagulha pode ser a faísca que uma revolução precisa.

Um dos elementos que torna dessa uma obra tão distinta das outras é o senso de justiça a e trama inteiramente entrelaçada na cultura indiana, inclusive, se tem algo que Fúria Primitiva traz, é a celebração da cultura da índia; absolutamente tudo faz referência ao país, desde a escolha impecável da trilha sonora ângulos de filmagem, frases culturais, culto à Hanuman e até mesmo à grupos de pessoas que compõe a sociedade hindi.

É uma carta de amor à Índia, mas também uma carta de ódio contra a corrupção e contra à divisão de classes que assola as comunitárias da Índia, inclusive, o filme toca exatamente nessa ferida e traz em tela, muita representatividade que não costumamos ver no cinema indiano, que é a representação de indianos de pele mais escura e de hijiras, a comunidade trans do terceiro gênero, como é conhecido na Índia. 


Fúria Primitiva / Foto: Diamond Films

É difícil pontuar apenas uma cena incrível de ação no filme, pois cada sequência é mais incrível que a outra, porém, quem leva a cereja do bolo sem dúvida são as cenas onde vemos as hijiras mencionadas acima. Não apenas elas trazem as cenas mais doces e empáticas do longa, como também protagonizam uma cena de ação de tirar o fôlego.

Temas como transfobia são mostrados no filme, mas de forma discreta no início e um pouco mais explícita no meio, apesar de que Dev Patel é genial em não mostrar as cenas de violência inteiramente, inclusive, é aí que está a diferença de Fúria Primitiva em relação à outros filmes de ação, pois aqui, a violência sofrida pelos grupos marginalizados, não é fetichizada e não faltaram chances, mas é exatamente aí que Dev se diverge e mostra o que muitas pessoas dizem brincando, mas que parece real: Dev Patel é o female gaze, que traduzido ao pé da letra significa 'olhar feminino.'

Apesar do que aconteceu com a mãe do protagonista no passado, o filme faz questão de celebrar as mulheres e não fetichiza a violência infligida à elas. Há muito respeito envolvido e todos os personagens são muito interessantes, desde os vilões à personagens secundários que constroem essa história. 

Fúria Primitiva / Foto: Dev Patel

Dev provou ser uma força da natureza aqui e simplesmente entregou algumas das melhores sequências de luta já vistas, isso porque não apenas o ator é campão de artes marciais, como também se inspirou em cenas icônicas de filmes como John Wick e Oldboy, além de outros filmes do gênero e tudo isso, se mantendo ainda extremamente original e elevando cada cena com sua atuação.

Essencialmente, Fúria Primitiva é um ode aos marginalizados, uma promessa de que as coisas vão mudar se ao menos uma pessoa tiver força suficiente para causar essa mudança, mas é claro que ninguém faz nada sozinho e na realidade, até mesmo a pessoa mais solitária e que acha que não tem mais ninguém no mundo, não está só e junto à outros, uma pequena fagulha, pode se transformar em um fogaréu.

Com esse arrasa quarteirões de debut, Dev Patel olhou nos olhos de Hollywood e disse:' Olhe e veja o que eu posso fazer quando tenho liberdade para fazer mais!" e que prazer foi testemunhar a consagração de que Dev é um dos maiores realizadores que temos na indústria atualmente. Precisamos vê-lo dirigindo mais filmes o quanto antes!

NOTA: 9.5/10

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