Navigation Menu

Showing posts with label short film. Show all posts

SXSW 2025 | Video Barn (Short)

 

Por Victoria Hope

No curta de terror Video Barn de Bianca Poletti, duas garotas excêntricas que trabalham na locadora de vídeo local de uma cidade pequena tentam resolver os mistérios do passado obscuro da cidade quando uma delas desaparece misteriosamente. 

Estrelado por Grace Van Dien e Reina Hardesty, o curta homenageia os filmes surrealistas dos anos 80, misturando humor ácido, com a temática da amizade e a atração pelo desconhecido para criar essa história singularmente assustadora. 

Na trama, Jules e Hannah nitidamente tem uma amizade daquelas especiais onde há cumplicidade. Elas se unem pelo amor que tem por filmes de horror e suspense, o que ajuda a criar ainda mais uma atmosfera sombria para essa história.

O curta lembra em alguns momentos das obras surrealistas  inciais de David Lynch, com uma pitada da de Poltergeist e Twilight Zone. A trama é envolvente do início ao fim e nos faz querer acompanhar mais sobre os mistérios da cidade e sobre os segredos guardados naquela fita cassete

Poletti conasegue em um espaço bem curto de tempo, criar personagens envolventes e que realmente interesssam ao público, o que nos faz pensar que esse seria um excelente filme longa metragem mais para frente, com alguns toques aqui e ali para expandir ainda mais essa história.

As escolhas de figuros, maquiagem e roteiro também são excelentes e ajudam a criar a atmosfera oitentista, ano auge onde diversas produções com essa temática encantavam e assustavam diversas gerações. Atualmente existem poucas séries de televisão genuinamente de terror, então Video Barn é um sopro de criatividade que a indústria precisa para se renovar. 

NOTA: 9/10

SXSW 2024 | Dissolution (Short)

 

Por Victoria Hope

No curta dramático 'Dissolution' de Antony Saxe, uma mulher é forçada a enfrentar a deterioração física do seu marido idoso quando eles se encontram para assinar os papéis do divórcio. Sendo uma pessoa que viveu a vida inteira com os avós, que seguem casados até hoje após sessenta anos juntos, a história tocou profundamente.

Quando pensamos em juramentos de amor e casamentos, logo a questão que diz 'na saúde e na doença', realmente tem um grande papel, principalmente entre casais idosos, afinal, é uma vida inteira compartilhada com a outra metade. Será o amor e apenas ele, suficiente para manter um casal? E quando a doença atinge uma das partes, será que o amor continua o mesmo? Ou pior, será que um casamento que aparentemente não era tão alegre, precisa ser mantido apenas por convenções e conveniência?

O casal protagonista não parece mais nutrir os mesmos sentimentos, mas em sua idade, é tão raro ver divórcios acontecendo, que atualmente assumisse que se eles nunca se separaram antes, agora não vão e é aí que a trama revela a reviravolta.

Somos confrontados com esse casal que viveu uma vida inteira juntos, mas que hoje, sequer conseguem se comunicar apropriadamente, então 'Dissolution', faz um excelente papel em mostrar como essa relação vai se dissolvendo pouco a pouco, mas não de uma vez só. É claro que a esposa ainda vai se preocupar com a saúde debilitada do marido e é claro que o marido, por mais que não mostre, também vai sentir falta de ter alguém ao lado dele.

O recurso de mostrar pequenas fitas com momentos importantes gravados entre os dois no passado, apenas reforça que eles tiveram bons momentos juntos, mas também momentos tensos e ruins, porém, desde o início, o casal estava fadado a ter problemas na comunicação com os anos e agora cabe a eles, sentarem-se juntos e pensarem no que é melhor para os dois, já que por serem de outra geração, a possibilidade de divórcio antes parecia um conceito 'alien'.

NOTA: 9.5

SXSW 2024 | Jedo's Dead (Short)

 

Por Victoria Hope

No sensível curta 'Jedo's Dead' de Sarah Mine, durante a turbulência social e política do 11 de Setembro, uma jovem e o seu irmão confrontam-se intimamente com a perda quando descobrem o corpo do seu avô morto. 

O curta enquadra os rituais tradicionais que cercam a morte e a perda através dos olhos das crianças, com muita reverência, mas também pelos próprios conceitos e visões de mundo desses dois personagens. Sozinhos e confusos, eles percorrem os estágios do luto humano – do dolorosamente humano ao inescapavelmente transcendente.

Sempre que se fala em filmes protagonizados por elencos infantis, o ponto mais importante é relacionado à como a criança irá passar os sentimentos sem precisar do recurso das falas para mostrar o que está sentindo e no caso do elenco mirim de Jedo's Dead, esse trabalho é feito com primor. O elenco observa, corre pelo cenário do apartamento, demonstrando ira, tristeza, amor, lembranças boas que tiveram com seu querido avô; tudo isso num espaço curto de tempo.

Vemos também não um conflito, mas uma casa que possui duas crenças: Enquanto a irmã caçula reza para a santa católica no altar de sua a avó, o irmão mais velho segue com seus rituais tradicionais não ocidentais, eventualmente levando sua irmã ao seu lado para que ela declame os cânticos. É aquela fase do luto onde os indivíduos buscam por resposta ou acalento frente à morte, em cenas muito bem filmadas e apresentadas ao público.

Na trama, ambos passaram por um trauma recente, tanto o 11 de setembro, quanto a perda de seu avô, então se para adultos nesse cenário é algo muito difícil de lidar, para crianças, é ainda mais. Fica a pergunta, o que fazer a partir de agora? Como seguir em frente? Essas são as perguntas que a dupla terá que responder e descobrir com os anos. 

NOTA: 9/10

SXSW 2024 | If I Die in America (Short)

 

Por Victoria Hope

No drama 'If I Die in America' de Ward Kamel, um jovem luta por uma oportunidade de lamentar o seu marido depois de os seus sogros muçulmanos tradicionais exigirem que o corpo seja enviado de volta ao Médio Oriente poucas horas após a morte prematura.

De acordo com a prática muçulmana, o enterro deve ocorrer dentro de 24 horas após a morte - então, depois que o marido imigrante de Manny, Sameer, falece em um acidente, ele é confrontado por um representante da família de Sameer, o obrigando a assinar a papelada necessária para enviar o corpo de volta para o Kuwait. 

Manny inicialmente recusa, agarrando-se aos seus direitos como marido de Sameer, embora sabendo que a cada hora que passa a família de Sameer fica mais furiosa. Depois de um clímax emocional, estimulado pela alegação homofóbica da família de que o casamento de Manny e Sameer era apenas um acordo de green card, Manny percebe que suas objeções não mudarão o fato de que seu marido morreu - por mais que tentasse, ele não conseguiria atrasar o luto.

O curta é mais contemplativo e reflexivo, podemos acompanhar o protagonista passando sozinho por esse processo de luto e mesmo que a irmã esteja lá ao lado dele, é nítida a dor e o quanto ele se sente e está sozinho no mundo após de perder o amor de sua vida. ~

O sentimento conflituoso do personagem é mostrado de forma nítida e é impossível não sentir todas as dúvidas e toda a mágoa que ele está sentindo, afinal, será que ele está preparado para mostrar esse outro lado da sua vida para sua família? Com certeza adoraria ver um filme longa metragem que explorasse a relação de Manny com Sameer e tudo que levou esse casal aos acontecimentos dessa curta, delicada e ao mesmo tempo, forte história. 

NOTA: 9/10

SXSW 2024 | Caller Number Nine (Short)

 

Por Victoria Hope

No curta 'Caller Number Nine'', um operador de telemarketing acidentalmente liga para um programa de rádio e vence um concurso de rádio, entrando em um impasse com a apresentadora desequilibrada e que parece ter intenções sinistras. Uma série de absurdos começam a acontecer no dia a dia do personagem, sendo que o dia dele já estava horrível.

É impossível não sentir simpatia pelo protagonista, pois ele está apenas tentando fazer o trabalho dele no início, mesmo que esse trabalho seja chato e que para os clientes seja algo considerado extremamente insuportável, mas tudo muda quando ele descobre que ganhou um prêmio.

Imediatamente o personagem fica animado e feliz porque pelo menos recebeu uma notícia boa, após um dia horrível no trabalho, mas como costuma dizer o ditado, quando a esmola é muita, até mesmo o santo desconfia e a premiação excêntrica consegue apenas fazer o coitado do atendente perder cada vez mais a paciência.

Ambos atores são hilários no papel e a trama funciona por conta do timing que ambos tem, sendo a apresentadora ótima em representar aqueles típicos apresentadores de programa de rádio que tentar soar animados e alegres mesmo anunciando prêmios mixurucas e ao mesmo tempo, o protagonista ficando cada vez mais irado, apenas eleva ainda mais a performance de ambos. 

Essa é uma história simples, mas que tem muito potencial de expandir. Seria muito legal ver um longa metragem explorando mais sobre esse personagem azarado e sobre a apresentadora de rádio. O próprio final 'aberto', dá margens para milhares de perguntas. 

NOTA: 8/10

SXSW 2024 | Beeps (Short)

 

Por Victoria Hope

Sam não consegue dormir. Seu quarto é cercado por todos os lados por alarmes de fumaça, sinal de bateria fraca. Então ele faz o que qualquer solucionador de problemas com os olhos turvos faria... ele parte em uma odisséia para encontrar o chilrear irritante e, no processo, aprende sobre si mesmo, seus vizinhos e seu lugar no mundo.

Nesse documentário, é muito interessante ver essa dupla interrogando seus vizinhos para saber de onde vem o misterioso som, afinal, aquele som não vem do além e nitidamente, vai piorar caso os protagonistas não achem o local de onde aquele som está saindo.

Por mais simples que seja a premissa, é incrível poder acompanhar esse casal conhecendo seus vizinhos, talvez pela primeira vez, aprendendo um pouco mais sobre cada um deles e vendo todas as multitudes que um bairro pode oferecer. É nítido que Sam está ansioso com o barulho incessante e em alguns momentos, ele até oferece baterias extras para seus vizinhos e em algum momento, a própria audiência começa a ouvir o som.

O que parece apenas uma situação engraçada, logo se torna uma questão importante onde gentrificação é o ponto principal de discussão, sendo essa discussão extremamente relevante para esse momento em que vivemos. Em algum momento, a audiência também quer solucionar o 'mistério' de onde vem esse barulho, mas felizmente para todos, essa história tem um final 'feliz' e mostra que a empatia, é a principal chave. Viver em comunidade é a chave, se comunicar com os outros é a chave. 

NOTA: 8.5/10

SXSW 2024 | Beach Logs Kill (Short)

 

Por Victoria Hope

Nesta história assustadora sobre despertar ambientada em um jogo de futebol americano do ensino médio, a estrela do quarterback promete passar seu número da sorte para a garota mais merecedora do time. Mas quando o jogo dá terrivelmente errado, uma garota estranha detida tenta provar que é digna do amor, do legado e da alma da capitã.

Conhecemos logo no início a capitã do time e uma estranha e excêntrica garota que está presente no banheiro durante o treinamento do time. A estranha garota não aparenta fazer parte daquela equipe e logo dá indícios de que talvez tenha alguns sentimentos pela líder, mas após um estranho acidente após um jogo, tudo muda entre as duas.

Apesar da enorme quantidade de simbolismos mostrados em tela, o curta não faz muito para explicar exatamente o que está acontecendo em diversos momentos. Seria tudo aquilo fruto da imaginação da menina quer tem um crush secreto na atleta ou seria um fruto realmente sobrenatural que está acontecendo?

O suposto acidente que acontece com a líder do time pode sim ser uma metáfora para diversas coisas, incluindo a descoberta da sexualidade e o quanto dela mesma ela está disposta a dar para esse novo possível relacionamento com a garota desconhecida. 

Será que na verdade, ela está viva e bem, mas as pessoas ao redor, seja seu treinador, sua família e amigos da escola, na verdade não a estão julgando por seu 'novo' relacionamento? Tudo o que sei é que crescer é assustador e nada melhor do que um terror sáfico coming of age para mostrar esse momento tão deliciosamente sombrio e ao mesmo tempo, revitalizador. 

NOTA: 8.5/ 9

SXSW 2024 | APOTEMNOFILIA (Short)

Por Victoria Hope

No aterrorizante curta 'Apotemofilia' de Jano Pita, é noite de estreia, o teatro está lotado e Clara, a atriz principal, se recusa a sair do camarim. Algo dentro dela a impede de partir, algo que ela terá que enfrentar.

O curta de terror faz jus ao nome, já que cientificamente falando, 'Apotemofilia' é uma parafilia da vida real onde as pessoas se sentem excitadas com a ideia de perder membros do corpo por meio de amputação e com Clara, a protagonista da história, a audiência pode acompanhar de perto. 

Na trama, pouco a pouco, Clara vai perdendo a sanidade e começa a imaginar uma estranha criatura andar por seu corpo e quer se livras dela de qualquer forma, nem que para isso ela precise cortar partes do corpo. No início, o que a traz dor e medo, logo dá lugar à uma sensação indescritível de prazer que a protagonista sente enquanto se liberta do 'bicho', mas é claro que tudo faz parte de sua imaginação fértil.

Vejo essa história como uma anedota sobre a dismorfia corporal criada pelo universo do show business e do entretenimento, afinal, desde a cena inicial, Clara não parece que está muito animada para o show, enquanto seus produtores gritam com ela do outro lado da porta do camarim. Talvez tudo o que Clara queria, de forma meio torta, era se libertar daquela prisão que a indústria à impunha. Nessa alegoria, talvez se ela tirasse partes de si mesma para se tornar algo que ela não é, a indústria finalmente parasse de pressioná-la.

NOTA: 9/10

SXSW 2024 | A Crab in the Pool (Short)

 

Por Victoria Hope

No curta 'A Crab in the Pool', em um bairro degradado, Zoe e seu irmão mais novo, Theo, são deixados à própria sorte. Uma jovem adolescente, Zoe é uma bola de raiva assombrada por um terror íntimo. Theo, ainda criança, foge da realidade para um mundo fantástico. Durante um dia escaldante de verão, os dois filhos terão que romper o abcesso do relacionamento para não se perderem. 

A animação faz um excelente trabalho em mostrar as diferentes formas que irmãos de gerações diferentes lidam com temas como morte e luto. Enquanto o irmão caçula vive no mundo da fantasia, usando suas 'mãos' como óculos, em forma de manter viva a lembrança de sua falecida mãe, a garota adolescente e irmã mais velha, tenta lidar com suas próprias batalhas, ao mesmo tempo em que anseia pelo colo de sua mãe, que infelizmente perdeu sua vida para o câncer.

Ambos personagens passam por um turbilhão de sentimentos e por uma questão que assola pessoas em luta não importa a idade, que é a a busca pela resposta de como seguir em frente após uma perda? Os dois irmãos não exatamente se dão muito bem, principalmente a adolescente, que está na fase de achar que já é uma adulta formada, logo, ela não tem paciência com seu irmãozinho, mas aos poucos, ela vai perceber não apenas como é tão importante para seu irmão, quanto ele é para ela, como também ambos precisam estar juntos para se curar.

É uma belíssima e singela animação, que apesar de simples, tem muito a dizer e toca todos aqueles que já passaram por algo assim ou estão passando por isso nesse exato momento.  A grande mensagem que fica é a de que, mesmo quando alguém importante se vai, ainda temos uns aos outros aqui, as pessoas que ficam devem se manter unidas. 

NOTA: 9/10

SXSW | Make me a Pizza (Short)

Por Victoria Hope

No curta 'Make me a Pizza', uma mulher com muita fome diz a um entregador de pizza que não pode pagar pela pizza que pediu. Mas será que o sexo que ela oferece em vez de dinheiro pode ser equivalente ao verdadeiro valor de uma pizza? 

Existe algo que possa valer uma pizza, além do que o mercado decidiu? Juntos, os dois decidem que sua única opção é se tornarem eles próprios o objeto da pizza, transformarem um ao outro em pizza, para se tornarem livres.

O curta já começa com a estética que é puro anos oitenta, com um estilo de filmagem que parece ter saído literalmente daquela década. A música sensual de filme erótico toca ao fundo, fazendo com que o filme pareça ser algo que não é, ideia completamente genial.

Um dos trunfos do curta é a atenção aos detalhes e a caracterização, desde o figurino à maquiagem, que são cruciais para passar ainda mais aquela vibe oitentista que a história quer passar. Tudo parece estar de acordo com o plano nessa história, até que de repente, as coisas fazem um 360º que muda completamente o rumo da trama, indo da comédia ao terror em questão de segundos.

O elenco é hilário e a conversa back and forth entre eles realmente acerta o tom e aos poucos, é possível entender a mensagem anticapitalista e social por trás da construção de uma simples pizza. A simbologia não é nada sutil, mas muito engraçada e bem vinda, mas a virada surrealista é a cereja do bolo, ou melhor, o tomate da pizza e me faz lembrar de cenas icônicas como a cena da dança em cima dos feijões em 'Tommy' do The Who. 

NOTA: 8.5/10 

SXSW 2023 | Short Film | Fuck me, Richard

Por Victoria Hope

No curta 'Fuck Me Richard', recuperando-se de uma perna quebrada, Sally começa um relacionamento por telefone com Richard - um impulso de intimidade muito necessário em sua névoa sombria de solidão esmagadora e analgésicos. Eles falam sem parar e se apaixonam. As coisas ficam meio incompletas quando Richard começa a pedir dinheiro para pagar as "contas médicas" de sua mãe. Mas Sally tem seus próprios segredos, e nada é o que parece neste psicodrama movido a sexo por telefone sobre a emoção doentia de um bom e velho golpe.

Conhecemos Sally, a protagonista de, em seu estado mais vulnerável. Para usar a linguagem moderna, ela está com fogo no r***" desmaiada no sofá com uma perna engessada, cercada por embalagens de comida para viagem e frascos de remédios prescritos, chorando enquanto Trevor Howard confessa seu amor por Celia Johnson no antigo filme de Hollywood, Brief Encounter. 

Sally está em apuros quando passa por "Richard, 33", o parceiro aparentemente perfeito, bonito e de cabelos desgrenhados para realizar todas as suas fantasias de um cavaleiro de armadura brilhante.

Por um tempo, Richard parece feliz em desempenhar esse papel. Sua voz desencarnada ouve as confissões de Sally, ri e faz barulhos suaves nas horas certas, e quebra seus dias monótonos com sexo quente por telefone. Toda serelepe, Sally anda por seu apartamento em um vestido de lantejoulas e penas, mentindo para Richard sobre todos os amigos olhando para ela enquanto abrem a porta para outra entrega do Uber Eats

Mas logo as coisas começam a piorar quando Richard para em uma reunião pessoal e começa a falar sobre sua mãe doente e suas enormes contas de hospital. Uma vez que começamos a descartar Sally como uma mulher trágica e solitária, muito disposta a ser enganada, fica claro que ela pode ser a única jogando xadrez, não damas.

É impossível não sentir raiva de Richard que a partir do momento em que Sally para de servi-lo, imediatamente se torna o ser misógino horroroso que é, revelando sua verdadeira face. O final é aberto e mostra que não sabemos se Sally fez isso de propósito só pra pegar um misógino de jeito ou se ela foi mais uma vítima.

Nota: 8.5/10

SXSW 2023 | It Turns Blue

 


Por Victoria Hope

Morteza espanca a filha de 3 anos em uma de suas visitas semanais. Mais tarde, ele pede à irmã mais velha, Pari, que o ajude a acalmar a filha e a lidar com a situação. Pari cuida das feridas da criança e então para evitar que ela conte a verdade para a mãe, Pari inicia uma brincadeira e através dessa brincadeira tenta manipular a mente da criança para que ela se lembre de todo o ocorrido como uma simples brincadeira com o pai. Pari parece ter sucesso em cumprir seu plano, mas na cena final fica claro que a verdade não será escondida para sempre

Vencedor da categoria de Curtas do festival, esse filme iraniano conta a história de um pai que bate em sua filha e num dia, chama sua irmã para cuidar dela. A mulher percebe que tem algo errado com a menina, ela quer saber de onde aquelas marcas roxas e ferimentos surgiram e a partir daí, ela usa tinta de forma lúdica para que a criança conte, mesmo que da forma dela, o que foi que aconteceu.

Esse curta metragem merecia muito ser um longa metragem e a historia é emocionante e é quase impossível que o público não seja tomado por raiva das atitudes coniventes da irmã que dá a entender que encobre a violência do irmão para com sua sobrinha por anos, mas é nos minutos finais que o público passa a notar que o irmão já fez pior com ela e que ela fica imóvel diante da crueldade dele. 

NOTA: 9/10

SXSW | Texas Short | Eyestring

 

Por Victoria Hope

No curta de terror texano 'Eyestring', Veronica tem um fio misterioso crescendo em seu olho e uma mensagem enigmática de um serviço de linha direta. À medida que a linha cresce, sinais estranhos relacionados à mensagem da linha direta aparecem em todos os lugares. Cada pista que ela encontra apenas complica ainda mais a questão. Ela deve encontrar uma maneira de se libertar.

Eyestring é completamente intrigante e cativante. É impossível não querer saber o que está acontecendo com a protagonista e o que tudo aquilo significa. Seria a linha, uma metáfora para traumas passados que Veronica sofreu ou será que são segredos que ela guardou e escondeu por muito tempo?

Alena Chinault, que interpreta Veronica é uma força da natureza em tela e co-escreveu Eyestring com Javier Devitt, diretor do curta. Logo no início percebemos que a protagonista está enfrentando dificuldades de saúde mental e que o seu emprego, está apenas contribuindo para que seu TOC se torne cada vez mais difícil de lidar enquanto ela não consegue ajuda adequada.

Esse título daria um ótimo longa metragem de horror, principalmente após o final assustador onde o público passa a entender que a corda na verdade era uma criatura que estava escondida dentro da mulher o tempo todo. Seguindo o tradição de monstros que representam problemas de saúde mental, o filme é uma grande metáfora para o TOC, como ele pode crescer e tomar conta, além de afetar a vida da pessoa não tratada.

NOTA: 9/10

SXSW | Short Film | Closing Dinasty

 

Por Victoria Hope

Closing Dinasty é um emocionante e delicado curta que teve sua estreia no SXSW desse ano. Na trama, Queenie, uma menina precoce de 7 anos, transborda confiança e arrogância. Ela vasculha sem medo os metrôs e as ruas da cidade de Nova York em busca de maneiras de ganhar um dólar. 

De esquemas de caridade de basquete a venda de rosas, Queenie é implacável e imparável. À medida que acompanhamos um dia em sua vida, nos perguntamos quais são as verdadeiras intenções de Queenie e por que essa garotinha está trabalhando tanto em um dia de escola.

Este curta de Lloyd Lee Choi merece muito ganhar um longa metragem apesar do ritmo ser um pouco lento, pois o público vai ficar curioso para saber até onde as atitudes da menina podem ou não salvar a pele de seu pai, que aparentemente está devendo dinheiro para agiotas.

Closing Dinasty é uma carta de amor à comunidade imigrante asiática americana que mora em Chinatown e regiões próximas, onde os donos de negócios precisam fazer o impossível para manter suas lojas funcionando e para realizar o 'sonho americano'.

A atriz principal mirim Milinka Winata simplesmente dá um show de atuação nessa trama, mostrando o potencial de ser um dos nomes de revelação nos próximos anos, tomara que ela siga atuando. Toda a força do filme que ela carrega é o que torna esse projeto tão especial, pois ela consegue trazer a comédia e ao mesmo tempo drama em todas as cenas em que está presente.

NOTA: 9/10

SXSW 2023 | Midnight Short | We Forgot About the Zombies

 

Por Victoria Hope

No curta de terror 'We Forgot About The Zombies', dois caras acreditam que encontraram a cura para mordidas zumbis, mas será que encontraram mesmo? Nessa história hilária, os dois amigos encontram uma série de agulhas com supostos antídotos em uma casa abandonada e a partir daí começam a testar todos a fim de descobrir a cura.

É a típica comédia absurdista com toques de 'Cara Cadê o meu carro' e um pouco de Zombieland, mas definitivamente dá a sensação de que funcionaria muito bem em formato de longa metragem onde a história pudesse se expandir mais e mostrar as (des) aventuras desses dois atrapalhados na busca pela cura do vírus zumbi.

Curtíssimo, We Forgot About Zombies tem o formato e até o ritmo de um skit de comédia, filmado e atuado como um também, mas engraçado o suficiente para manter o público engajado com a piada. A direção poderia ter ido mais além ainda mesmo no espaço de 3 minutos, mas vale a ideia de uma expansão da história para o público poder se conectar mais com os personagens.

NOTA: 7.5/10

SXSW 2023 | Midnight Short | Pennies from Heaven

 

Por Victoria Hope

"Pennies from Heaven" é uma comédia curta sobre duas irmãs gêmeas excêntricas que trabalham em uma loja de conveniência e se deparam com uma caminhonete cheia de moedas. É uma farsa absurda no meio do deserto e os gêmeas seguem a aventura aonde quer que ela os leve - apenas para terminar de volta onde começaram.

A energia das irmãs é contagiante, as atrizes são hilárias e tem um timing ótimo que ajuda a desenvolver a trama de uma forma bem leve. Esse é mais um custa do festival SXSW que daria uma ótima série de televisão onde acompanhamos as desventuras dessas duas irmãs e sendo irmã gêmea, achei hilária a cena onde as irmãs são levadas à um bar apenas para gêmeos.

A crítica social por trás é bem sucinta e mostra como enquanto para alguns, moedas são apenas isso, moedas sem muito valor, para outros é uma mina de ouro. Vale lembrar que a trama venceu o prêmio do Júri  do SXSW de Melhor Curta da sessão Midnight! 

NOTA: 8/10

SXSW 2023 | Midnight Short | The Mundanes

 

Por Victoria Hope

Um dos curtas de terror mais inusitados, criativos e surrealistas desse ano no SXSW! Nesse curta conhecemos os Mundanes, uma família suburbana sem rosto com um apetite incomum. Este "Guia para a Família Feliz" é uma homenagem surreal aos PSAs clássicos da América do meio do século.

O filme todo é filmado como se fosse um comercial dos anos 50 sobre as famílias tradicionais brancas americanas daquela década, mas obviamente, a estranheza no ar está presente desde as primeiras cenas onde vemos a mãe, o pai e o filho sem rosto, se alimentando de pedaços de corpos humanos.

Mundanes abre espaço para diversas discussões que vão desde papéis de gênero impostos pela sociedade à monstruosidade imposta justamente pelos padrões. A família tenta se enquadrar naquele padrão de qualquer forma, mas eles não conseguem e nunca poderão ser aquela família de comercial de margarina. Talvez eles queiram fazer parte disso, mas sabe que nunca poderão ser tudo o que sonharam.

NOTA: 8.5/10

SXSW 2023 | Midnight Short | Every House is Haunted

 

Por Victoria Hope

No curta de terror 'Every House is Haunted', o corretor de imóveis disse a eles que a casa era mal-assombrada. Isso não impede que o casal millenial de longa data, Maya e Danny, se mude de qualquer maneira. Tem ótimos ossos, e neste mercado...

Depois de anos de compromisso e perdendo a noção do que ela quer, Maya encontra parte de si mesma que está faltando nos espíritos que ocupam seu novo lar. O curta é um excelente drama sobre o gênero de famílias americanas de filmes de terror, comprando casas mesmo sabendo que tem fantasmas ali.

Todo o conceito de Every House is Haunted é muito original e funcionaria bem como um longa metragem, principalmente se o público pudesse acompanhar maia do dia a dia desse casal convivendo com esses espíritos que rondam a casa, ou quem sabe até uma antologia com outras histórias de casas assombradas e a ligação entre moradores e fantasmas.

Essa é surpreendentemente uma história positiva em alguns momentos, que vai deixar o coração do público quentinho com a mensagem de que nem sempre o que não compreendemos, precisa ser assustador e que após o luto, é possível encontrar felicidade, mas ao mesmo tempo, isso não quer dizer que coisas assustadoras não estão à espreita...

NOTA: 10/10

SXSW 2023 | Short Film | Deliver Me

 

Por Victoria Hope

Jesse, um dos bilionários mais famosos da Terra, é o primeiro humano a clonar e se casar com sucesso. Depois de um ano de casado, Jora, o clone de Jesse, está chegando ao ponto crucial de uma crise de identidade. No dia do aniversário deles, Jesse convida o “seu” melhor amigo Roberto para lhe dar um presente. 

Roberto está apaixonado por Jesse e sofre de um amor não correspondido. A solução de Jesse é presentear Roberto com uma boneca sexual hiper-realista de si mesmo, como símbolo de amizade. A boneca é a gota d'água para Jora, que finalmente decide se revoltar contra a tirania de Jesse, elaborando um plano para finalmente escapar da prisão que chamam de lar.

O curta é genial em mostrar o 'casal' usando uma língua para se comunicar entre si e outras língua para falar com amigos e conhecidos do bairro, incluindo entregadores. Deliver Me é uma incrível metáfora sobre bilionários narcisistas que acreditam que o mundo gira ao redor de seus umbigos e que nada mais importa.

Até mesmo na dinâmica de casal onde os dois são a mesma pessoa, invariavelmente, o 'gênio' criador, colocou em sua cópia a função de 'esposa', fazendo a cópia utilizar vestidos, além de que a cópia possui uma vagina, para uso do criador. Basicamente ele criou um objeto e tratou o clone como apenas um brinquedo, como se o clone não fosse capaz de ter pensamentos, ideias e desejos.

O ator principal entrega absolutamente tudo em sua performance, representando três personagens que apesar de fisicamente serem a mesma pessoa, são extremamente distintos. Enquanto o bilionário é apático, soberbo e frio, seu clone é sensível, emotivo e possui uma fúria inigualável, já o terceiro, é apenas um boneco sexual que sorri e não tem pensamentos próprios.

Além das atuações, um dos pontos altos do filme é a direção de fotografia excelente, que ajuda o público a mergulhar pelo universo desse curta banhado por um cenário paradisíaco e que mesmo lindo, ainda assim, passa a sensação de solidão, muito próximo a como o clone se sente minutos antes de tomar uma atitude que aparentemente mudará sua vida, apenas para se deparar com a triste realidade de que ele estará sempre preso a seu criador e que eles nunca serão iguais aos olhos do bilionário.

NOTA: 9/10

Sundance 2023 | Rashad Frett inspira com o curta forte e comovente 'Ricky'

 


Por Victoria Hope

Ricky é o emocionante curta metragem live action de Rashad Frett que teve sua estreia nessa semana durante o festival Sundance, que acontece até o dia 29 de janeiro presencialmente em Utah e simultaneamente online. 

O drama conta a história de um ex-detento que após entrar em liberdade, tenta retomar a sua vida aos poucos enquanto busca por um emprego e conexão com o mundo exterior, agora já praticamente desconhecido para o homem que esteve tanto tempo longe de tudo e todos.

Esse é um curta crucial para mostrar a importância de segundas chances, mas também para mostrar que as vezes a vida entra no caminho e as consequências podem ser dolorosas. Com elegência, Rashad Frett trouxe esse curta que definitivamente merece ganhar um longa metragem para expandir a história tão importante desse personagem. 

Durante esse fim de semana, nossa equipe teve a oportunidade de entrevistar o diretor e mergulhar a fundo por dentro da produção e criação de Ricky, bem como pudemos conhecer um pouco mais sobre a mente brilhante que trouxe essa pequena joia rara ao festival. 


Ricky/ Foto: Sundance

Amélie Magazine: Em primeiro lugar, parabéns pelo curta instigante e poderoso sobre algo que afeta a muitos, que é essencialmente ter uma segunda chance. O que te inspirou a contar essa história?

Rashad: A inspiração para este filme veio de conversas com um amigo de infância depois que ele foi libertado de uma longa pena de prisão. Devido à sua ficha criminal, era difícil encontrar trabalho e ele lutava para ficar do lado de fora depois de tantos anos de encarceramento. Ele, junto com alguns de meus colegas que estavam no sistema de justiça criminal e testemunhando suas lutas após a libertação, influenciou o protagonista do meu filme.

Amélie Magazine: Quais foram os maiores desafios de filmagens para 'Ricky'? 

Rashad: O maior desafio foi um grande defeito no guarda-roupa na noite anterior à filmagem principal e uma tempestade de granizo que interrompeu as atividades do nosso set temporariamente.

Amélie Magazine: Como diretor, você poderia nos falar sobre 3 filmes que mudaram sua vida e o inspiraram a dirigir seu próprio projeto?

Rashad: Três filmes que mudaram minha vida foram “Faça a Coisa Certa” de Spike Lee, pois ver um diretor negro que dirigiu uma obra-prima destemida acendeu uma faísca em mim há muitos anos. Ver “O Profissional” de Luc Besson nos cinemas quando jovem me empolgou para saber mais sobre os meandros do cinema e, finalmente, “Onde Fracos Não Tem Vez” que foi crucial, pois é um clássico instantâneo dos irmãos Coen que me levou incentivou a ter uma carreira no cinema para toda a vida.

Amélie Magazine: E como foi o processo de escalação do elenco de 'Ricky'?

Rashad: O processo de casting foi intenso e levei mais de 6 meses para encontrar o elenco certo. Para o papel de Ricky, demorou ainda mais, já que seu papel era tão complexo. Passamos por muitas auto audições, mas finalmente vendo a performance de Parish Bradley, vi algo único que queria explorar um pouco mais. Fizemos três audições com Parish e depois uma leitura química com Maliq Johnson, que interpretou seu irmão, James. A partir de sua conexão instantânea na tela, foi tomada a decisão de escalar Parish como Ricky.

Amélie Magazine: Como diretor, qual seria o seu projeto dos sonhos?

Rashad: Meu sonho é dirigir um filme autobiográfico sobre uma figura influente em nossa comunidade. Além disso, um ótimo filme da Marvel também serve.

Amélie Magazine: Se você pudesse deixar uma mensagem para jovens negros aspirantes a diretores que também sonham em fazer seus próprios filmes e lançá-los em festivais como o Sundance, qual seria?

Rashad: A grande sacada é nunca desistir e, desde que você continue se esforçando, você chegará lá! Acredite em si mesmo, continue criando e aprenda com seus erros porque você só vai melhorar com o tempo.