Por Victoria Hope
Afrofuturismo, questões sociais e elegância: Pantera Negra é isso e muito mais
Esse talvez tenha sido um dos filmes ais esperados de todos os tempos da Marvel, mas antes de falarmos do fenômeno que foi Pantera Negra, que tal falarmos um pouco sobre história? Para quem não sabia, a indústria do cinema levou 25 anos para criar um outro filme de herói com um protagonista negro (T'challa).
Os primeiros a ganhar espaço no telão foram Spawn, O Sodado do Inferno e Blade, ambos filmes datam entre 1992-1995. Você provavelmente se deparou com pessoas que usaram ambos personagens para justificar a falta de representatividade até hoje, mas é muito importante lembrar que tanto um filme quanto o outro foram lançados em uma época em que a indústria do cinema pouco se importava com geeks ou fãs de quadrinho.
Blade e Spawn também apresentavam um outro problema; Na época em que foram lançados, suas classificações etárias no cinema eram de +18, ou seja, menores não poderiam ter assistido nem nos Estados Unidos, nem no Brasil na época. Grande parte das crianças dos anos 90, assistiram Blade apenas pela televisão, provavelmente através da TV aberta e em horários fora da grade infantil.
Outra coisa que ambos personagens tinham em comum eram o fato de serem anti herói e no caso do Spawn, praticamente vilões. O que pesa mais, é que na narrativa de ambas histórias, a cor dos personagens não possui nenhum peso na narrativa, nada é discutido; Só existe a pancadaria e nenhuma mensagem a ser deixada.
É claro que não estamos falando dos quadrinhos, mas sim dos filmes, incluindo Blade, que apesar de ser Marvel, foi lançado na época pela FOX, que até hoje possui alguns problemas em filmes de super heróis, apenas superando isso com Deadpool, após mais de 20 anos apostando em filmes de quadrinhos.
Pois bem, Pantera Negra foi o primeiro super herói negro das histórias dos quadrinhos, lançado em 1966 e não apenas seu nome é ligado a um enorme movimento social negro norte americano ( como dito pelo próprio criador, Stan Lee, como ele também representava a força e a riqueza africana.
Ele também foi o primeiro personagem negro dos quadrinhos a sair do esteriótipo de home negro do guetto, pois ele era o completo oposto; Ele era realeza e pela primeira vez, crianças negras do mundo todo, principalmente dos Estados Unidos, podiam se ver finalmente nos quadrinhos com a perspectiva de que suas vidas poderiam ser maravilhosas.
Um dos pontos mais altos a ser explorado no filme foi a força da mulher negra, principalmente das mulheres africanas, representadas pelo exército Dora Milaje, pela personagem Nakia, interesse amoroso de T'Challa e Shuri, a adolescente genial, irmã do Pantera Negra. Não apenas elas trazem humor às cenas, mas também força e sabedoria sem igual. Destaque para Danai Gurira (The Walking Dead), que interpreta a general guerreira Okoye.
Outro assunto muito bem explorado é a divisão das comunidades de Wakanda, separadas por tribos e famílias. Um dos personagens mais engraçados é M'Baku, que nos quadrinhos originais, era considerado o vilão de Pantera, e recebia o apelido de Homem Macaco. Esse nome original foi trocado sabiamente por Ryan Coogler, que manteve as imagens de gorila (na máscara do personagem), mas transformou-o em um guerreiro forte, com ótimo humor e empatia.
Ryan Coogler fez um trabalho incrível na exploração de Wakanda com sua visão única sobre panafricanismo. Até mesmo as cores das roupas acompanham as bandeiras do continente africano e cada detalhe foi minuciosamente pensado, inclusive outro detalhe muito bem feito do filme, foi o vilão Killmonger, interpretado por Michael B Jordan, que dá um show em representar o homem negro marginalizado, que foi tirado de sua tribo e teve que aprender pelo lado ruim, como o racismo afeta a vida de negros nos Estados Unidos.
O que faz de Killmonger um dos melhores vilões da Marvel não é sua raiva, mas sim os motivos de sua ira, que são completamente legítimos, afinal, ele não concorda que Wakanda detenha todos seus recursos, enquanto negros americanos continuam morrendo pelas mãos da polícia, vivendo em guetos ou sem perspectiva de um futuro melhor. Ele é um dos melhores vilões, porque apesar de radical, tornou muito difícil não concordar com seu ideal e realmente conseguiu acender a centelha de seu plano para T'Challa, que por meio de diplomacia, consegue realizar o plano original de Erik.
Por fim, finalmente recebemos um filme que explora o afrofuturismo, gênero literário ou de cinema que aborda futuras distopias onde negros possuem uma tecnologia extremamente avançada e não dependem do trabalho de colonizadores. Todo esse universo futurista é passado através das roupas, armas e toda a tecnologia utilizada em um país, no caso Wakanda.
Uma das cantoras e atrizes norte americanas que mais exploram esse tema é Janelle Monae (Estrelas Através do Tempo), que além de ter acompanhado as filmagens de perto e participado da premiere do filme, também é uma das mais famosas seguidoras do estilo afrofuturismo dentro da moda.
Esse foi definitivamente um dos melhores filmes da Marvel em anos e temos certeza de que as bilheterias serão astronômicas, afinal, essa representatividade realmente importa e só de notar o brilho no olhar das crianças e adultos negros que assistiram ao filme, já valeu a pena!
Pantera Negra já está em cartaz em todos os cinemas do Brasil!
Nota: 5/5