Por Victoria Hope
'Bird Box' surpreende e deixa nervos à flor da pele
[TW: Aviso de gatilho: O filme possui cenas explícitas relacionadas a s*icídio e sangue]---
O que faz de nós, humanos? Nossa sede por sobrevivência e busca por um significado? Nossa empatia? Nossas ações? O filme Bird Box, do streaming Netflix aborda todas essas perguntas e ainda vai muito além do que estas questões, mas para entender o enredo, vamos explorar a história por trás dessa nova produção.
Bird Box é uma adaptação do best-seller de mesmo nome, escrito por Josh Malerma e publicado em 2014, no mesmo ano de lançamento de outros sucessos como 'Para Todos Os Garotos Que Amei" e "Big Little Lies", porém com um clima mais adulto e sombrio em meio a tantos lançamentos infanto-juvenis da época.
Nem sempre obras originais são bem adaptadas para o cinema e para a TV, porém a opinião de fãs é unânime quando dizem que a nova adaptação da Netflix cumpriu muito bem seu papel em transportar o universo direto das páginas para a tela, com uma direção primorosa da dinamarquesa Susanne Bier, ainda que com certas ressalvas e mudanças de arcos e personagens.
Esse suspense incrível veio para mostrar a todos nós o que é horror de verdade e que o que não pode ser visto, é imensamente mais assustador do que os olhos podem ver. Vale lembrar que essa técnica é muito usada no cinema de horror japonês e é por isso que até hoje, clássicos do cinema asiático continuam a ser tão efetivos quanto na época de seus lançamentos.
Falando mais sobre a trama, o filme se passa no presente, onde um fenômeno estranho começa a ocorrer em nível global, iniciando na Rússia e se espalhando ao redor do mundo, até chegar num pacato subúrbio de Detroit.
Logo no começo do longa, nossa protagonista diz estar ciente dos ataques que estão acontecendo na Rússia e logo em seguida, vê em sua frente, os mesmos sintomas aparecerem em pacientes do hospital: Pessoas aparentemente pacíficas veem uma aparição misteriosa pairando sobre o ar e no mesmo instante são tomadas pelo desejo de tirar a própria vida.
A partir daí, ocorre um efeito 'bola de neve' onde todos os cidadãos, uma a um começam a se atacar ou auto flagelar sem nenhum remorso, muitas vezes dizendo palavras que faziam alusão a tristeza, como por exemplo, o falecimento de algum parente, o medo de não ter sido suficiente entre outras coisas que assombram a mente das pessoas que veem a 'criatura'.
Logo que as primeiras vítimas perdem a vida, Malory e um grupo de sobreviventes percebem que para não sucumbir a criatura, seus olhos devem estar vendados e todas as janelas também devem estar devidamente fechadas para que nenhuma fresta de luz apareça.
Sem grandes spoilers, vale reforçar que em nenhum momento vimos a tal criatura ou grupo de criaturas, o que faz o clima do filme ser ainda mais assustador. Quando Malory se vê num beco sem saída e com duas crianças em seus braços, ela começa a bolar um plano para tentar escapar e encontrar um lugar seguro, mas tem um detalhe: tudo isso vestindo vendas.
Apesar da trama assustadora, o filme vai muito além da temática de sobrevivência do mais forte, porque na verdade o real tema abordado é a empatia e sua importância para nossa sobrevivência em sociedade.
O grupo de Malory acredita em muitas pessoas que supostamente precisavam de abrigo e por conta disso, o grupo acaba entrando em maus lençóis, mas do início ao fim, o que está em jogo é a fé na bondade humana (ou falta de) e esse tema é abordado principalmente por uma das personagens secundárias mais empáticas, Olympia (Danielle MacDonald), que a todo momento, mesmo nas situações mais adversas, nunca deixa de acreditar na bondade e inocência das pessoas.
É claro que o filme abre uma brecha para diversas outras interpretações que vão além do básico que nos foi proposto. Poderia a diretora ter abordado o tema da depressão pós parto, representada através do fato de Malory sequer dar nome para os filhos e dizer que nunca quis ter filhos desde o começo do filme? Será que o filme aborda os medos que temos que enfrentar e aquela sensação de estarmos 'às cegas' toda vez que temos de tomar uma nova decisão?
Voltando para a trama principal, em nenhum momento do filme sabemos a origem real do fenômeno, ou seja, apenas sabemos que ele está acontecendo e começou em algum lugar na Rússia. Tudo o que podemos dizer é que essa criatura ou ser '''invisível''' é capaz de imitar sons de vozes humanas e também manipular suas mentes para que os humanos vejam seus maiores medos antes de morrerem.
A cada minuto, a trama se torna mais tensa e sombria, ao ponto de que você nem sequer conseguir desgrudar do seu sofá, mas é uma experiência que vale muito a pena, principalmente porque o filme abre espaço para questionarmos nossos próprios propósitos e motivações.
Toda a construção das cenas, desde a escolha de som e cenários, levam o filme a outro patamar, principalmente porque enquanto você está na expectativa de ver o que está acontecendo, tudo o que você vê fica a mercê da visão dos próprios personagens, então em muitos momentos, você como expectador, sente como se e estivesse na pele do personagem, andando por florestas ou rios, com vendas cobrindo seus olhos.
Será que você deveria confiar naquelas pessoas estranhas? Quem estenderia a mão para você? Será que você ( na pele de Malory) conseguirá salvar as crianças e garantir sua própria sobrevivência? Essas são as perguntas que vão continuar na sua mente do início ao fim da trama.
Não é um filme fácil de entender além de ser violento e não recomendado para pessoas que possuem muitos gatilhos relacionados ao tema, mas para quem curte esse gênero de thriller psicológico, vale a pena dar uma chance!