Por Victoria Hope
O que acontece quando um diretor humaniza duas das figuras religiosas mais importantes da última década? Dois Papas é um drama fictício de 2019, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e escrito por Anthony McCarten, com base na obra de McCarten, "O Papa". Estrelado por Anthony Hopkins (Hannibal) e Jonathan Pryce (Game Of Thrones), o filme tem tudo para ser um dos grandes candidatos ao Oscar do ano que vem.
Começo essa crítica dizendo que não sou católica e pouco conheço da religião, mas mesmo assim, o assunto é extremamente importante para todos nós jornalistas, principalmente após a divulgação de casos históricos como o retratado no premiado 'Spotlight'.
A história fictícia dos dois papas, mostra uma suposta amizade e rivalidade entre os papas Bento XVI e Franscisco, o atual papa. Em duas horas de filme que não são sentidas de forma alguma, vemos o embate entre conservadorismo ortodoxo e uma visão mais humanizada e democrática.
Two Popes / Netflix |
Com uma fotografia e montagem belíssimas, acompanhamos as conversas acaloradas entre os dois personagens, com diálogos impecáveis que se destacam pela sua carga emocional. Há momentos em que vemos uma câmera trêmula, focando apenas nos rostos dos atores e o resultado é incrível.
Tirando a parte da ficção de lado, a trama aborda diversos temas que aconteceram na vida real de ambos papas, desde a ditadura ao escândalo de abusos sexuais infantis dentro do Vaticano, mas tudo apenas 'pincelado' para que a carga do filme não ficasse tão pesada.
Com atuações de tirar o fôlego, Dois Papas é uma obra simples, positiva e otimista sobre os novos rumos da igreja católica, principalmente do Vaticano, com a chegada do argentino Francisco, apaixonado por futebol, tango e sua amada Argentina.
Two Popes / Netflix |
Além das diversas piadas extremamente pontuais e hilárias entre as farpas trocadas, existe na trama uma boa quantidade de comentários sociais não apenas sobre questões LGBT, divórcio, além da necessidade de voltar às raízes da religião.
Vários temas políticos também são abordados no filme de forma leve e despretensiosa, apesar de que o filme não poupa detalhes ao mostrar os horrores da ditadura que aconteceu na Argentina e que perdurou por muitos anos até que a democracia chegasse.
Esse é um dos filmes que faz você se sentir leve ao final, mas também faz questão de mostrar que há um lado muito obscuro dentro do Vaticano que precisa ser escancarado. Além das atuações brilhantes, o filme conta com uma trilha sonora impecável e cenas dignas de quadros.
NOTA: 10 / 10