Por Victoria Hope
Exhuma, considerada até então a maior bilheteria do ano na Coréia, é terceiro filme dirigido e escrito por Jang Jae-hyun, após The Priests (2015) e Svaha: The Sixth Finger (2019). Além do filme ter as lentes de um dos maiores nomes do terror e suspense contemporâneo, o filme conta também com um elenco composto por grandes nomes como Choi Min-sik, Kim Go-eun, Lee Do-hyun e Yoo Hai-jin.
O filme escolhido para a abertura da segunda edição do Festival de Cinema Coreano (KOFF) em São Paulo, toca em uma ferida necessária e ainda recente na memória da população coreana, principalmente em termos do tema de colonização e guerra que assolaram o país por anos no passado.
Em Exhuma, após de sofrer uma série de eventos paranormais, uma rica família coreana que vive em Los Angeles convoca uma jovem dupla de xamãs em ascensão, Hwa Rim e Bong Gil, para salvar o recém-nascido da família, mas assim que a dupla chega ao hospital, Hwa Rim sente que uma sombra escura de seu ancestral se apoderou da família em um 'Chamado Grave'.
Exhuma/ Foto: Koff 2024 |
Usando da temática da espiritualidade e xamanismo, o longa mostra como algumas feridas do passado precisam ser resolvidas, do contrário elas podem voltar para assombrar a todos que ainda estão vivos, incluindo até mesmo crianças. De forma respeitosa, o longa aborda o respeito que a sociedade coreana tem para com o mundo espiritual e toca no tema de luto e cerimônias que devem ser seguidas após a morte de um ente querido.
Com uma boa dose de drama e terror, Exhuma usa da temática espiritual para falar sobre as mazelas da Guerra entre Coreia e Japão e como esse conflito marcou de forma negativa a história de quem sobreviveu. O filme não poupa mensagens textuais sobre essa dor, porém também toca na temática da sobrevivência do povo de forma sutil.
Durante as filmagens, até mesmo uma xamã real foi chamada para que as cerimônias que ocorreram em tela fossem mais seguras e corretas. É muito interessante notar algumas semelhanças culturais com países diferentes, pois todas as cenas lembraram muito cerimônias de matriz africana, o que nos leva a crer que muitas práticas são semelhantes e ainda assim com suas pequenas particularidades em cada país.
Exhuma / Foto: KOFF 2024 |
É importante traçar o contexto histórico do filme para entender inteiramente sobre o que ele fala, principalmente com as figuras que aparecem ao longo da trama, como o espirito do Samurai, que representa o Deus da Guerra, na mitologia japonesa, e devido a isso, ele acaba sendo um dos principais inimigos ou entidades malignas dos coreanos.
Isso ocorro devido as tentativas de colonização japonesa no decorrer dos anos. Na realidade, esse espirito remete a guerra Imjin, que aconteceu no final do século XVI, no qual, depois de um periodo de unificação dos feudos japoneses, o principal senhor feudal, Hideyoshi decidiu ampliar a dominação japonesa pela península coreana, com o objetivo de chegar a China.
Historicamente, a Coreia acabou vencendo a guerra e expulsando os japoneses e isso é representado de forma brilhante no em Exhuma, com a sobrevivência dos xamãs e essa sobrevivência do grupo é um lembrete de que os coreanos prevaleceram e prevalecem sobre o colonialismo japonês. Jang Jae-hyun não traz muita sutileza em suas mensagens, mas em casos como esse, o filme precisa desse sentimento mais humano, mais cru, para passar a mensagem. É um dos filmes que amantes de cinema de horror com certeza vão adorar saborear.