Por Victoria Hope
Baseado em uma história real, A Maldição da Freira (Devil's Doorway) vai além do horror ficcional e também aborda períodos sombrios da história européia para expectadores mais atentos à temática da igreja católica inserida nesse cenário.
Em 1960, dois padres foram enviados pelo Vaticano para investigar um evento milagroso em um lar irlandês, construído para órfãs, grávidas solteiras e mulheres com distúrbios mentais. Quando estes dois homens conhecem uma adolescente grávida e com sinais de 'possessão demoníaca', descobrem que algumas portas não devem ser abertas.
Contextualizando o cenário histórico, esses asilos realmente existiram na Europa, principalmente na Irlanda e recebiam também o nome de 'Casa das Mulheres Perdidas' ou Asilos de Madalena, eram instituições que abrigavam mulheres com deficiências físicas ou mentais, porém historiadores afirmam que não apenas pacientes com essas características estavam presas lá.
Muitas mulheres que possuíam a mente completamente saudável, também eram abandonadas nestes locais por outros motivos e pouco importava a idade de cada uma delas, pois a lista de 'abrigadas', incluía moças vítimas de abuso sexual, mães 'solteiras', mulheres que sofreram aborto espontâneo, garotas de programa e rebeldes, pois segundo valores sociais e religiosos da época, mulheres assim eram consideradas 'vulgares' ou de caráter duvidoso.
Sabem o que é mais assustador? Essas Casas de Madalena ao redor da Europa e América foram fechadas apenas em 1996 no mundo inteiro, ou seja, essa é uma ferida muito recente na história e apenas demonstra como essa ainda era uma realidade muito próxima.
Essas instituições eram verdadeiras prisões onde as 'pacientes' eram mal tratadas e obrigadas a prestar serviços exaustivos, como lavar lençóis, atuar como parteiras de outras 'residentes' e rezar exaustivamente por horas a fio e A Maldição da Freira aborda justamente esse tema.
Na trama, acompanhamos a saga do jovem Padre John, que com sua câmera, sai em sua busca de evidências para comprovar que milagres existem, enquanto é guiado por um cético padre mais velho, chamado Padre Thomas.
Por ser filmado completamente em 16mm, o filme 'copia' o estilo de filmagens feitas por 'câmeras de mão' daquela época e isso captura de forma primorosa a essência dos anos 60 e traz uma qualidade 'antiga' às imagens, o que faz com que o filme pareça bem mais genuíno e saído 'diretamente daquela época'.
Apesar dos belíssimos cenários e da escolha impecável de figurino, o filme peca ao esbarrar várias vezes na própria trama e ao usar clichês básicos de found footages com diversos jumpscares que não acrescentam em nada na trama e apenas servem de pretexto pra fazer os expectadores pularem da cadeira.
O filme com certeza funcionaria um pouco melhor se fosse apenas um drama sem a temática sobrenatural, pois o tema abordado é muito interessante por si só e não depende desses artifícios, mas como a proposta é um filme de terror, eles cumprem bem seu papel ao que foi proposto.
Vale destacar também algumas performances do filme, incluindo a da Madre Superiora, sem contar todo o elenco, que fez um belíssimo trabalho em demonstrar toda a tensão da história, porém, o terceiro e último ato do filme não atende muito às expectativas criadas pelas ótimas performances, pois cai na mesma trilha de clichês do gênero Found Footage, com direito a gritaria, câmera correndo, jump scares, vozes de criancinhas e até mesmo depoimentos dos padres.
Reforço mais uma vez que o filme funcionaria de uma forma muito mais elegante, caso prezasse mais pelo lado investigativo e pelo drama real ao invés de focar apenas no fator do 'medo'.
Por fim, um dos detalhes que nos cativou, foi uma frase que com certeza ficará em nossas mentes por muito tempo: "Todo mal que eu vi, veio sempre da humanidade". Essa frase dita pelo Padre Thomas não apenas dá o tom ao filme, como também diz muito sobre o mundo real.
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