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[Review] O Tigre Branco

 

Por Victoria Hope

O Tigre Branco da Netflix é talvez uma das adaptações que eu mais esperava assistir em 2021. Se assim como eu, você também já se deparou com a famosa capa de livro com um tigre branco rolando pelas livrarias nacionais desde 2015, certamente também se surpreendeu com a notícia de que esse best seller indiano de Aravind Adiga

Com uma temática muito necessária e relevante para os dias atuais, O Tigre Branco, dirigido por Ramin Barahni, pode ser considerado o 'Parasita' e 'Que Horas Ela Volta' da Índia, tratando com humor sarcástico, a desigualdade social do país pelo ponto de vista de um jovem que pertence a casta baixa indiana.

Na trama, conhecemos a história de Balram Halwai (Adarsh Gourav), um jovem indiano que vive em um dos bairros mais necessitados da Índia e sonha em um dia ser bem sucedido com o emprego de motorista. Ao longo da trama, o protagonista narra os acontecimentos de sua vida com muita sinceridade e até mesmo inocência.

O Tigre Branco / Netflix

A todo momento, nos diálogos trocados entre Balram e os outros personagens, principalmente seus patrões, Pinky (Pryanka Chopra-Jonas) e Ashok (Rajkummar Rao), percebe-se a diferença gritante de hábitos que separam as classes na Indía.

No começo, Balram ainda tem uma visão muito otimista sobre o novo emprego, afinal, segundo o próprio, o desejo de servir uma família rica, estava enraizado em sua mente desde a infância. Vemos Balram vivendo uma infância relativamente 'positiva', apesar de sua família viver na 'miséria', mas é justamente por conta disso, que o garoto se esforça para se destacar como melhor aluno da sala, mas no momento em que ganha uma bolsa, a necessidade de sobreviver, faz com que ele deixe a escola para começar a trabalhar.

Apesar do filme seguir o mesmo clichê de mostrar extremos da riqueza e da pobreza na Índia, sem mostrar as nuances de classe, o filme acaba por apresentar uma nova visão à essa divisão, brincando com ironia e expondo preconceitos que até nós mesmos, de países ocidentais, carregamos.

O Tigre Branco / Netflix

Um dos ápices do filme, é quando Balram finalmente entende o que está acontecendo e finalmente se revolta com tantas injustiças, mas é a partir desse momento que o filme se transforma, com um plot twist que era esperado, mas que vem de inesperada, graças à atuação impecável  e nada previsível de Adarsh Gourav, que carrega sozinho, toda a trama, com humor, ironia, raiva, tristeza e nos faz imergir ainda mais na experiência de Tigre Branco.

A transformação do personagem em um dos homens mais poderosos da Índia é incrível de se ver, mas ao mesmo tempo assusttadora, enquanto o protagonista segue narrando todos os fatos, mantendo sua verdade do início ao fim. Por mais que ele se torne um 'vilão', em nenhum momento ele perde sua essência, afinal, tudo estava ali desde o começo: O desejo por vingança e o sonho de se tornar poderoso.

Balram sempre foi o Tigre Branco. Desde a infância, com sua frustração pela vida miserável de sua família e pelo roubo do pouco que tinham por ricos corruptos, até as injustiças que aconteciam com a população do 'galinheiro'. Apenas em sua transformação, percebemos que ele sempre foi um Tigre à espreita, sonhando com o dia em que estaria livre da gaiola. 

O Tigre Branco / Netflix

'O Tigre Branco', apresentou um dos protagonistas mais tridimensionais que eu já vi em qualquer mídia. Balram não é totalmente bom ou ruim, ele é humano, tem sonhos, desejos, alegrias, mas também muitas tristezas. Você não necessariamente se identifica com ele, mas muito do que acontece com ele, pode ou não ter acontecido com você e isso apenas atiça a sua sede pela vingança do Balram.  

Na parte mais técnica, ainda faltam algumas coisas para ser considerado um filme de gênero que pode concorrer ao Oscar, mas é definitivamente um novo passo para divulgar o cinema indiano para o mundo e criar produções cada vez mais diversas dentro do contexto de Hollywood. 

Não é um filme fácil de ser digerido e por ser longo demais, cerca de duas horas, a experiência acaba se tornando maçante em alguns momentos, mas não deixa de ser uma história interessante com um desfecho para lá de satisfatório. 

Nota: 8.5 /10

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