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[Review] O Corvo (2024)

 

Por Victoria Hope

Para fãs da versão clássica de O Corvo, muito tem sido falado sobre essa nova versão estrelada por Bill Skarsgård e a cantora FKA Twigs, principalmente por conta do legado sombrio do filme. A nova trama é baseada nas HQs de mesmo nome, porém, uma escolha curiosa foi a apresentação do visual do protagonista, que aqui, ainda é Eric Draven, mas visualmente falando, se assemelha muito mais ao Michael Korby, protagonista das graphic novels The Crow: Wild Justice!

A trama das HQs chega a ser parecida tanto no Corvo clássico de 1989 de James O'barr quanto em Wild Justice, afinal a história do Corvo é sempre a mesma; um homem e sua esposa ou namorada são mortos e esse homem, tomado pelo espírito da vingança, retorna como o Corvo para se vingar daqueles que tiraram sua vida e a vida de sua amada.

Essencialmente, O Corvo é e sempre foi uma história de amor, mas uma história de amor repleta de tragédias e nisso o novo longa acertou, afinal, não tem muito como sair dessa trama. No novo filme, acompanhamos Eric (Skarsgård ), um cara desajustado, dependente químico e que tem uma paixão por desenhar e que conhece na prisão Shelly Webster (Twigs), uma pianista e compositora que esconde um segredo obscuro.


O Corvo, Foto: Imagem Filmes / "Os Amantes" de Magritte, Foto: Acervo Magritte

Juntos, eles se apaixonam e fogem da prisão e a partir daí começam a viver um doce romance, mas tudo começa a dar errado, quanto os 'fantasmas' do passado de Shelly retornam em busca de vingança. A premissa é muito bacana, as cenas entre Bill e FKA são bem bonitas, com direito a inspiração em quadros como o clássico  'Os Amantes' de René Magritte, pintura que curiosamente é ao mesmo tempo romântica como também trágica, já que a pintura representa uma barreira de tecido impede o abraço íntimo entre dois amantes, transformando um ato de paixão em isolamento e frustração e é exatamente isso que acontece quando Shelly perde sua vida e Eric retorna do mundo dos mortos sem ela. 

A partir daí, a violência toma conta das telas, mas desde os primeiros minutos, tudo parece muito fácil, o caso dos dois amantes acontece em segundos, assim como Eric tem as ferramentas exatas para fugir da prisão, ou seja, ele poderia ter saído à qualquer momento, como também, as facilitações de roteiro ocorrem o tempo todo.

Tudo o que Eric e Shelly precisam misteriosamente está disponível para eles, com Mcguffin atrás de Mcguffin, recurso onde tudo aparece quando os protagonistas mais precisam. Tirando isso da frente, vemos um Eric torturado pela dor, que precisa tornar sua vingança real. Por mais que o elenco esteja bem no filme, as escolhas de roteiro são frustrantes, afinal, pouco sabemos do protagonista e muitas pontas soltas fizeram com que o filme carecesse de detalhes essenciais para transformar a trama em algo mais robusto.


O Corvo / Foto: Imagem Filmes

A trilha sonora também deixa a desejar, porém, é importante não comparar esse novo longa com o clássico, já que as propostas eram diferentes. Aqui a trilha é mais embalada por sons experimentais e bandas mais modernas. Não há rock, o que causa um estranhamento, já que o personagem sempre foi associado ao gênero, mas já que a proposta era fazer algo diferente, poderiam ter incluído até mesmo uma música da própria FKA Twigs, que está muito bem no papel de Shelly, aliás, e até da uma palhinha de seus talentos musicais ao longo do filme, mas a sua falta na trilha sonora não parece uma escolha muito acertada.

O Corvo é um filme simples, mas que entretêm durante suas duas horas, porém, alguns momentos poderiam ter sido mais dinâmicos e explorar a vida daqueles dois personagens para além de sua vida como casal, pois pouco sabemos de ambos os personagens, principalmente de Eric. Essas lacunas narrativas são sentidas principalmente durante a metade do filme e a partir daí, restam apenas as cenas de violência bem intensas para justificar a chamada de que o filme é de 'ação'.

As sequências de luta são bem coreografadas e lembram muitos momentos das HQs, porém, o filme essencialmente é um romance, aliás, o que é algo super válido e que foge do gênero mais 'brucutu' de filmes de ação. Talvez com um roteiro mais encorpado e desenvolvimento dos personagens, esse poderia ser um dos filmes mais legais do ano.

NOTA: 8/10

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