Por Victoria Hope
Papagaios, suspense nacional de Douglas Soares teve sua estreia no Festival de Gramado e também está em cartaz na 49ª Mostra de Cinema em São Paulo e definitivamente foi um dos meus filmes mais antecipados do evento. Na trama, Tunico (Gero Camilo) é o mais famoso “Papagaio de Pirata” do Rio de Janeiro, uma categoria de pessoas que adoram aparecer ao fundo das reportagens, perseguindo repórteres para todos os lados a fim de terem seus 15 minutos de fama na TV.
Após um grave acidente em um parque de diversões, Beto (Ruan Aguiar), um jovem misterioso que trabalhava em uma das atrações do local, se torna obcecado pela figura de Tunico e logo se torna seu pupilo, a fim de buscar fama a qualquer custo; qualquer custo mesmo.
O longa, repleto de ambiguidades, toca em uma ferida profunda que vem há muitos anos (ou até mesmo séculos) antes da criação dos influencers digitais. O desejo de ser visto, para deixar uma marca seja na sua comunidade ou no mundo é algo fascinante de acompanhar, afinal, como dizia o ditado, "quem não é visto, não é lembrado" e se tem um personagem que tem medo de ser esquecido por todos, esse é Tunico, interpretado de forma brilhante por Gero Camilo, não é a toa que o ator venceu o Kikito de Ouro em Gramado por esse personagem tão envolvente.
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| Papagaios / Foto: Olhar Filmes |
Toda a artmosfera do longa é muito bem construída, em um slow burn muito bem construido, onde muitos dos diálogos são focados pelo "não dito", onde olhares e gestos dizem mais do que mil palavras e é nesse momento onde Ruan, em seu papel estreante em longa metragem, entrega absolutamente tudo em uma performance devastadora, no melhor sentido da palavra, apresentando esse personagem tão controverso, sedutor e ao mesmo tempo assustador.
Enquanto Tunico parece ser um livro aberto, Beto parece ser um enigma a ser decifrado e qual foi a minha surpresa ao perceber a virada de chave, quanto o público finalmente entende qual dos dois personagens realmente esconde suas verdadeiras intenções.
Uma das cenas mais belas do longa, é embalada por uma trilha envolvente enquanto Tunico e Beto ensaiam suas posições em frente a um espelho, quase como que numa dança que representa a movimentação dos papagaios de pirata em frente as câmeras. É o tipo de cena que marca um dos momentos mais icônicos do cinema brasileiro e diz muito sobre o tutor e seu pupilo.
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| Papagaios / Foto: Acervo Leo Jaime |
A direção de fotografia é incrível e ajuda a criar a estética típica dos anos 90, quando os celulares estavam começando a chegar, mas a internet que conhecemos hoje ainda não existia, então percebe-se que a única mídia onde os papagaios poderiam aparecer era na TV e no rádio, alías, após o filme, será impossível assistir aos noticiários sem imaginar que as pessoas de fundo são papagaios de pirata até mesmo nos dias de hoje.
Traçando uma comparação ainda mais moderna, é possível comparar os papagaios com aquelas pessoas que surrupiam vídeos de outros criadores de conteúdo, colocam uma tela verde para replicar o vídeo ao fundo e ficam em frente a tela sem dizer nenhuma palavra, apenas acenando com a cabeça e fazendo gestos com as mãos, como se tivessem feito "um grande mousse", quando na verdade estão apenas tentando ganhar seus minutos de fama em cima de um conteúdo que tem bastante alcance, como vídeos virais, por exemplo.
Papagaios traz diversas mensagens relevantes e sai completamente fora da curva de projetos mais recentes do cinema nacional e apesar do ritmo mais lento, com certeza vai fazer fãs de suspense se apaixonarem por essa história e por seu elenco. O final é de cair o queixo e extremamente ambíguo, o que vai fazer com que o público questionar qual é a verdadeira intenção dos protagonistas até o último segundo.
NOTA: 8.5/10

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