Por Victoria Hope
Apresentado anteriormente em estreia mundial no Festival de Cinema de Comédia de L'Alpe d'Huez e agora em cartaz no Festival de Cinema Francês no Brasil, "Voz de Aluguel" conta a história de um escritor idoso em busca das sombras e de um jovem imitador em busca da luz.
Na trama dessa comédia deliciosa dirigida por Fabienne Godet, Baptiste (Salif Cissé) gostaria de viver da sua arte, mas na verdade vende seguros por telefone enquanto espera que o sucesso bata à sua porta. Pierre (Denis Podalydès) gostaria de viver da sua arte, mas as muitas exigências que o sobrecarregam tornam esse sonho impossível.
Um dia, porém, Pierre tem uma ideia: sugere que Baptiste se torne seu dublador. Ele quer entregar seu celular particular para Baptiste para que este possa gerenciar todas as suas ligações, pessoais e profissionais, permitindo que ele se concentre em escrever seu próximo romance sem se distrair com a vida.
É claro que Baptiste fará mais do que apenas responder e interpretar: ele inventará e reinterpretará as histórias contadas pelo excêntrico escritor e como uma espécie de espírito benevolente, ele tenta, através de sua mentalidade peculiar e perspectiva externa, organizar a vida de Pierre, o que leva a um turbilhão de mal-entendidos, triangulos amorosos e muito mais! Confira abaixo a conversa que nossa equipe teve com Fabienne e Salif em São Paulo:
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| Voz de Aluguel / Foto: Festival de Cinema Francês |
Salif: Estou muito feliz por estar aqui! Desde quando soube que viria ao Brasil, estava muito ansioso e entusiamado porque não conhecia o país! Não sabia da relação dos brasileiros com o cinema francês então está sendo uma grande descoberta!
Fabienne: Também estou muito feliz! Fiquei enstusiasmada em estar aqui! Ainda tenho uma semana para conhecer os brasileiros e para trazer um pedacinho da França para eles! Também quero participar das festas e tomar muitas cairpirinhas (risos) e me divertir no Brasil!
Amélie Magazine: Nosso protagonista Baptiste não é apenas muito talentoso como também é muito confiante e engraçado! Dito isso, Salif, Você se identifica com o personagem?
Salif: Depende muito das situações, mas por conta do teatro, isso me ajudou muito. Isso me proporcionou um certo charme para conseguir mais confiança em mim mesmo e hoje eu acho que domino situações de stress de uma forma melhor, mas é claro que em algumas situações, assim como todo mundo, em que a gente não tem tanta confiança em si.
Amélie Magazine: Qual é o momento mais marcante do filme para vocês e que pretendem levar para o coração a vida toda?
Fabienne: Gosto muito de duas cenas específicas! Uma cena em que o Pierre o Baptiste estão num jantar e Pierre acaba falando algumas coisas pessoais e eles brincam juntos, é nesse momento que a amizade deles começa! E é claro, a música do final, onde o Salif canta com uma voz masculina e feminina e realmente essa canção é interpretada com uma atuação tão boa de Salif, que me emociona toda vez que assisto. Não me canso de ver!
Salif: É engraçado que para mim também são essas duas cenas que eu escolheria (risos). A primeira, principalmente do ponto de vista de ator, é que o Denis (Pierre) é um ator muito talentoso, muito profissional, que oferece um leque de emoções muito grandes, mas não necessariamente entregando uma sensibilidade muito pessoal e eu senti que nessa cena algo muito pessoal que o Denis entregou nos olhos dele, que é uma coisa que a Fabienne procurava e senti que ela estava procurando isso no Denis e esse momento foi muito bonito!
Essa parte de intimidade que vi nos olhos dele. Além disso, todas as músicas do filme não são apenas performances, são conectadas e muito com a emoção do filme!
Amélie Magazine: O filme fala muito sobre o uso da tecnologia dol telefone celular e das redes sociais. Gostaria de saber de Fabienne, se essa crítica foi inserida de forma intencional na história, como uma "cutucada" nessa obrigação das pessoas estarem online e disponíveis o tempo todo.
Fabienne: Realmente pensei nisso, inclusive tem um filme que fiz chamado "Um Lugar na Terra", com o Benoît Poelvoorde, um famoso ator belga, que diz que a maior liberdade é não ter que responder ao telefone. Até pensei se colocaria essa frase no filme, mas acabei desistindo.
Acho que é muito importante a gente estar presente, porque muitas vezes estamos com alguém, mas ao mesmo tempo estamos conectados o tempo todo no celular, proque achamos que temos que responder imediatamente para as outras pessoas o tempo todo, quando na verdade é muito mais importante você se dedicar à pessoa que esta com você presencialmente; é importante estar presente com ela! E na minha idade, tenho ido cada vez mais na direção de estar presente e no tempo presente!
Amélie Magazine: Salif, você é muito talentoso! Quais são suas inspirações que o levaram para a carreira dos palcos e cinemas? Afinal, aqui você não apenas atua, mas também é comediante e canta! Como foi esse processo?
Salif: Muito obrigado! Foi muita sorte na verdade e não algo que calculei ao longo do tempo! Foi algo sempre muito orgânico. Sempre admirei os atores, costumava pesquisar sobre a vida deles pelo wikipedia, acompanhava a trajetória deles também, mas eu mesmo não pensava em ser ator até o momento em que fiz teatro como muita gente faz e acabei percebendo que existia algo natural nisso para mim.
Quando eu deixava de atuar, sentia muita falta, então foi isso que me levou a me dedicar mais. Admirei muitos atores do teatro e tive muito apoio de pessoas que admiro e tenho no coração.
Amélie Magazine: Se vocês pudessem voltar no tempo e mandar uma mensagem para o seu "eu" ainda criança, qual seria?
Salif: Eu diria para ele não se questionar demais, para ele aproveitar mais, viver mais no presente e diria também para ele ficar tranquilo! Não pense no lado negativo, veja as coisas pelo lado positivo!
Fabienne: Não necessariamente para eu pequenina, porque tive a sorte de ter uma infância muito feliz com pais muito compreensivos que me deixavam sonhar, mas para eu jovem, tive muitos bloqueios sociais principalmente no meio do cinema, mas uma coisa que me ajudou muito foi uma frase marcante, porque eu achava que tinha muitos defeitos e a frase que me inpirou foi "Não tente ser outro, outra coisa do que você já é", porque como eu era tímida, eu admirava muito as pessoas extrovertidas e eu queria ser outra pessoa. Mas minhas amigas diziam que eu tinha algo ótimo, que era saber escutar, então eu parei de querer ser outra pessoa e depois dessa frase até pensei: "Ah, até que tenho minhas qualidades" (risos)
Amélie Magazine: Três palavras que defininem "Voz de Aluguel"
Salif: Amizade, Encontro e Instrospecção
Fabienne: As Artes, Música e a Graça!

