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Mami Wata, filme nigeriano com diretora de fotografia brasileira Lílis Soares chega ao Filmicca

 

Por Victoria Hope

A FILMICCA acaba de anunciar suas estreias de Julho, com lançamentos exclusivos e inéditos. Entre os destaques estão “Mami Wata”, de C.J. “Fiery” Obasi, vencedor do prêmio Especial do Júri para a Direção de Fotografia no Festival de Sundance, que é assinada pela brasileira Lílis Soares, o drama “Music”, de Angela Schanelec, premiado com Melhor Roteiro no Festival de Berlim, e “A Fragilidade do Gelo”, de Anthony Chen, exibido na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes.

Confira a programação de julho:

MAMI WATA – UM FOLCLORE DO OESTE AFRICANO

Mami Wata / Foto: Divulgação

A obra “Mami Wata” é o terceiro longa-metragem do talentoso realizador nigeriano C.J. “Fiery” Obasi. Este poderoso folclore do oeste africano recebeu o prêmio Especial do Júri para a Direção de Fotografia, que é assinada brilhantemente pela brasileira Lílis Soares. O filme estreia com exclusividade na FILMICCA no dia 18 de Julho

MAMI WATA é uma divindade adorada pelos habitantes da remota vila de Iyi, na África ocidental. Mama Efe, sua representante, exerce autoridade espiritual na vila, até que a morte de uma criança perturba a paz da comunidade. O poder da divindade passa a ser questionado por aqueles com diferentes ideologias, e Prisca e Zinwe, filhas de Mama Efe, se unem para salvar sua aldeia e restaurar a glória de MAMI WATA em Iyi.

MUSIC – UMA PREMIADA RELEITURA DE ÉDIPO

Music/ Foto: Divulgação

Livremente inspirado no mito de Édipo, “Music” é o mais recente trabalho da realizadora alemã Angela Schanelec. A obra recebeu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim, do júri presidido por Kristen Stewart. Estreia exclusivamente no dia 4 de Julho

Após uma noite de tempestade nas montanhas gregas, um jovem é encontrado ferido e um recém-nascido é achado abandonado em um abrigo de pedras. A criança é acolhida e criada por uma família local, Jon cresce sem conhecer a mãe e o pai. Anos depois, após um trágico incidente, Jon é preso e conhece Iro. Os dois formam uma família e mantém uma imediata conexão, principalmente, através da música, que irá, por sua vez, assombrá-los e sustentá-los.

A FRAGILIDADE DO GELO – UM CONTO AMOROSO DE INVERNO

A Fragilidade do Gelo / Foto: Divulgação

Seleção Oficial do Festival de Cannes, Mostra Un Certain Regard, “A Fragilidade do Gelo” é o novo longa do realizado Anthony Chen. Este sensível drama romântico, segue um incomum triângulo amoroso durante um inverno no Norte da China. Estreia com exclusividade no dia 25 de Julho

Na fria e invernal Yanji, uma cidade na fronteira norte da China, o jovem urbano Haofeng, que visita Xangai, se sente perdido e à deriva. Por acaso, ele faz um passeio guiado por Nana, uma charmosa guia turística que o fascina instantaneamente. Ela o apresenta a Xiao, um simpático, mas frustrado, funcionário de um restaurante. Os três se unem rapidamente em um fim de semana de bebedeira. Confrontando seus traumas individuais, seus desejos congelados lentamente descongelam enquanto eles buscam se libertar de um mundo gelado.

ELLIOT PAGE APRESENTA “UM CAROÇO DE ABACATE”

Um Caroço de Abacate/ Foto: Divulgação

Com produção executiva de Elliot Page, “Um Caroço de Abacate” é uma história de empoderamento, livre de violência, para nos despertar dias melhores. Este premiado curta de Ary Zara, artista trans, e estrelado pela brasileira Gaya de Medeiros, esteve na shortlist do Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano.Estreia dia 12 de Julho

Larissa, uma mulher trans, e Cláudio, um homem cis, se encontram certa noite nas ruas de Lisboa. Duas pessoas, duas realidades, cujas diferenças são afastadas ao dançarem até o amanhecer.

Aclamado terror 'Fale Comigo' estreia nesta quinta nos cinemas

 

Por Victoria Hope

Chegou a hora de ver o terror mais aguardado do ano nas telonas. Com distribuição da Diamond Films, Fale Comigo (Talk To Me) chega aos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira, 17 de agosto. A venda de ingressos está disponível e o público já pode garantir um lugar no cinema na semana de estreia. 

Elogiado pela crítica, público e por diretores renomados, Fale Comigo acompanha um grupo de jovens que ficam obcecados pela adrenalina de invocar espíritos usando uma mão embalsamada. Até que um deles vai longe demais e liberta terríveis forças sobrenaturais. Assistimos a estreia no Sundance desse ano e a nossa crítica completa você confere aqui


Fale Comigo / Foto: Diamond Films

Para os diretores Danny e Michael Philippou, Fale Comigo é um retrato sobre jovens que não conseguem lidar com seus sentimentos e buscam por válvulas de escape. “A Mia (Sophie Wilde) está tentando enfrentar questões comuns da adolescência - e é por isso que ela não está lidando com o fato de ter perdido a mãe há dois anos. Suas emoções reprimidas causam uma ansiedade constante. E, quando surge a oportunidade de escapar disso experimentando a possessão, mesmo que seja assustador, ela se joga - e adora.”.

Fale Comigo será lançado no Brasil nas versões dublada e legendada. O filme contará com apoio de acessibilidade para todos os públicos. Por meio do aplicativo MovieReading, a partir da estreia estarão disponíveis recursos de audiodescrição, legendas descritivas e LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

Sundance 2023 | Marija Kavtaradze fala sobre delicado e tocante drama vencedor do festival 'Slow'

 

Por Victoria Hope

Slow, delicado drama lituano que venceu a competição no Sundance desse ano em uma das principais categorias, centra-se em uma dançarina que se apaixona por uma artista cuja sexualidade representa um desafio para ambos como casal. O filme de Marija Kavtaradze traz o desafio de abordar a assexualidade no relacionamento amoroso e sexual de um casal onde enquanto uma pessoa é ace, a outra é allo, o que significa que enquanto uma pessoa tem atração sexual e relacionamentos o tempo todo, a outra pessoa busca por uma conexão mais íntima distante do sexo. 

Na trama, Lena, uma dançarina contemporânea, acaba de conhecer Dovydas, um intérprete de língua de sinais que tem a tarefa de auxiliá-la em algumas aulas de dança que ela terá de dar a um grupo de jovens com deficiência auditiva, em um programa que os levará a uma apresentação em uma praia.

Assim que acaba a primeira aula é óbvio que os dois se conectaram e logo saem de lá juntos, caminhando, conversando e se encontrando para jantar. O seu encontro é típico de um filme romântico normal, só que tem uma particularidade que o vai tornar especial e que é um dos eixos deste muito bom drama de origem lituana que se apresenta na competição internacional de Sundance.

Conforme as coisas começam a ficar mais íntimas, Dovydas deixa claro para Elena que ele é assexual. Ele não sente desejos desse tipo, nem atração física por outra ou outra pessoa. Isso não quer dizer que ele não a ame, que não tenha interesse em ficar com ela e até mesmo se apaixonar, mas para Elena tudo se torna um pouco confuso. Será que  Lena será capaz de continuar com Dovydas apesar disso? Ao final do Sundance, conversei com a diretora e roteirista Marija Kavtaradze para discutir essas questões:


Marija Kavtaradze, diretora e roteirista de 'Slow'

Amélie: O que é intimidade para você? 

Marija: Uau, essa é uma pergunta difícil (risos). Eu fiz um filme justamente para pensar sobre isso, sabe? Quando eu escolho o tema de um filme durante o processo de escrita, penso que quero algo que seja complexo e difícil para que eu não me sinta entediada e tenha motivação para continuar escrevendo e investigando sobre o tema, então eu parei um bom tempo para pensar sobre intimidade, principalmente entre dois personagens. O que é o detalhe especial que cria intimidade quando não existe o sexo envolvido? Qual é o pensamento da pessoa assexual sobre intimidade naquele momento?

Eu estava buscando os momentos que passassem intimidade e que também fossem bem realistas, então eu não saberia dizer isso de uma forma mais compacta, mas acredito que tem a ver com sentir segurança, sentir-se calmo, cuidar com a pessoa que ama e (criar) uma língua que apenas duas pessoas entendem.

Piadas que apenas duas pessoas entendem, do tipo, se você contar a piada pra uma terceira pessoa, ela não vai entender, porque é algo que só funciona entre aquelas duas pessoas, entende, sabe? Porque a piada interna só é engraçada entre as outras duas pessoas. (risos), então é isso, para mim, acho que intimidade é isso. 

Amélie: Ontem me deparei com uma frase que dizia 'O amor é mais do que romance'. Você poderia destrinchar essa fala? O que entende por ela?' 

Marija: Eu acho que romance, de alguma forma é algo que você olha do lado de fora, porquê para mim é mais fácil sentir romance e pensar sobre romance quando eu assisto filmes, leio livros ou ouço músicas românticas. Acho que romance é mais sobre uma percepção e amor é algo que você sente por outra pessoa ou por você mesmo, é um sentimento. 

Amélie: Indo para um lado mais pessoal, se você pudesse voltar no tempo e conversar com a Marija ainda pequena que hoje é uma diretora de cinema no Sundance, como Marija criança' iria reagir? 

Marija: Eu acho que ficaria muito orgulhosa, mas mini eu talvez tivesse dificuldade em acreditar nisso. Ela me perguntaria sobre o que é o filme, eu explicaria e ela ia dizer 'ew, mas o que isso que dizer?' (risos). Quando eu era bem nova e adolescente, eu sempre quis fazer filmes então eu ficaria muito orgulhosa em saber que consegui concretizar isso. 


Slow / Foto: Sundance 2023

Amélie: Personagens assexuais masculinos são raríssimos de se encontrar na mídia, então foi uma surpresa notar que Dovydas é o personagem assexual da história. Poderia comentar sobre sua escolha?

Marija: Justamente como você falou, tem poucas pesquisas sobre homens assexuais, menos histórias também e logo no começo, eu sabia que queria representar um personagem assexual masculino. Eu como uma pessoa sexual e uma mulher, acredito que seja mais fácil entender esse sentimento, porque é isso que mais vemos na mídia, seria fácil mostrar a perspectiva dela e apesar de que o filme destaca ambos os personagens, acho que é mais fácil para mim ver pelos olhos das mulheres.

Acho que nós como sociedade, acreditamos que é mais aceitável ver mulheres assexuais representadas, já que homens tem o esteriótipo que diz 'ah, homens só querem sexo, eles só pensam naquilo', enquanto as 'mulheres não querem, elas tem dor de cabeça'. Tudo isso uma 'realidade' enquanto crescíamos, mas aí eu cresci, conversei com amigas e percebi que muitos dos namorados delas não queriam sexo. Aí eu tive um estalo e pensei 'Peraí! Estavam mentindo pra gente o tempo todo' (risos). 

É claro que existem situações diferentes, casais onde uma pessoa tem mais sex drive e a outra não, mas pode ser diferente para cada casal, então eu só queria com Slow, mostrar uma mulher que gosta de sexo, que gosta da vida e se sente confortável e um homem que também gosta da vida que leva, está confortável e que não precisa de sexo e ele não perde a masculinidade dele por isso.

Você sabe que ele sente a necessidade de 'se sentir homem', então dessa forma, escolhendo um homem assexual, eu tenho mais possibilidades de explorar papéis de gênero, o que esperamos em um relacionamento. O que é natural? O que é um relacionamento? É sobre isso. 

Amélie: Nos conte sobre três filmes que definiram e inspiraram sua carreira.

Marija: É uma pergunta difícil porque eu sempre acho que vou esquecer um importante (risos), mas vou dizer que alguns filmes estavam na minha cabeça enquanto eu estava criando esse. Gosto muito do diretor norueguês Joachim Trier que se chama Oslo, August 31st. É um filme muito especial e posso dizer que inspirou minha carreira. Eu era uma estudante de filme quando vi pela primeira vez e isso me inspirou a escrever o meu primeiro filme. 

Aí temos Weekend de Andrew Haigh que também assisti muitas vezes e é um dos meus filmes favoritos caso eu tivesse que fazer um top 10. Eu adoro o trabalho do diretor, adoro a forma que ele escreve, o elenco é incrível, enfim, eu poderia passar horas e horas elogiando esse título.  Posso dizer que também aprendi muito com Joanna Hogg em Souvenir Parte 1 e Souvenir Parte 2, claro que são filmes muito diferentes, mas eles abordam intimidade e romance também.

Talvez um filme mais recente seria o trabalho de estreia da Carla Simón que é Verão de 1993, é um dos filmes que eu sempre volto na minha cabeça, pois Carla é uma diretora incrível e eu adoro ela. Tá vendo, esse é o tipo de pergunta que a gente pensa em falar 'preciso falar de tal filme, mas não consigo falar de todos' (risos). Se eu fosse falar de um filme que formou meu gosto cinematográfico desde adolescência seria o grande Krzysztof Kieślowski, que é um diretor polonês com filmes incríveis como 'Não Matarás', talvez esse filme me impactou mais. Depois disso, é como se nenhum outro filme que eu assisti, não chegou perto do impacto desse, pois foi esse que me fez pesquisar e querer saber mais sobre filmes.

E é claro, pra fechar, Agnès Varda, não só como roteirista, mas também como diretora, é uma grande inspiração para mim e para a minha carreira. Toda vez que eu estou escrevendo um projeto novo e penso que não está bom ou que eu deveria deixá-lo pra lá, penso na Agnès e reflito 'Se ela se preocupasse tanto com o que ela faz, ela nunca teria chegado em tantos filmes. É claro que ela deve ter passado por isso também, mas nada disso muda a carreira dela e eu tenho a impressão de que ela é uma pessoa calma e que faz o que ama fazer, então eu estou tentando pegar um pouco disso para mim.

Amélie: Atualmente um novo discurso está dominando as redes sociais, principalmente essa semana, que é a discussão sobre cenas de sexo em filmes. Enquanto algumas pessoas são contra cenas que demonstrem momentos sexuais, outras estão defendendo. Pensando nisso, como você dirigiu Slow, um filme que aborda justamente o lado da sexualidade ou falta dela, poderia comentar sobre esse assunto? 

Marija: É um assunto muito interessante. Acho que se as cenas de sexo são cenas que acrescentam e não apenas cenas de sexo, acho que são importantes. Existem muitas cenas de que eu amo e são bem construídas, agora se é uma sequência erótica sendo mostrada por inteiro, eu pessoalmente não preciso, sabe? Não estou interessada porque não vejo o ponto daquilo estar ali. 

Quando eu assisti Normal People, vi que tinham muitas cenas de sexo belíssimas, mas elas são todas diferentes e você pode sentir a dramaturgia de cada uma delas. Você pode ver como os personagens mudam depois dessa cena, como o relacionamento deles também muda, então eu nem diria que são cenas de sexo, são simplesmente cenas onde personagens estão fazendo sexo. Pensando na sua pergunta agora, estou refletindo, porque eu estava pensando mesmo sobre isso e tive uma ideia: 'Se nas cenas de sexo que estamos mostrando, se aquilo não parece verdadeiro, no sentido de sentimento, aquilo seria só pornô.

Isso geralmente não é nada realista, principalmente com personagens femininas, mas é claro, isso é tema pra outro dia. Então eu acho que ver pessoas que estão fazendo sexo e você vê que isso é algo que afeta e modifica o relacionamento dos personagens em cena, como por exemplo, as vezes o sexo não é bom, as vezes o personagem não gostou, ou o personagem gostou, então é importante mostrar realidade por trás disso. Você sabe, cenas de sexo em filmes de ação quase sempre não são necessárias, mas elas sempre vão estar lá (risos). Tem um timing de filme onde a cena de sexo acontece em um filme de ação, você sabe que os personagens lutaram, estão cansados e aí tem uma cena de sexo super intenso e você sabe que não faz sentido, eles nem teriam energia! (risos)

Acho que é uma discussão mais profunda porque, cada diretor precisa adicionar ao filme, cenas que ele acredite que contribuam para o andamento da trama, então acho que isso é o mais importante. Algumas cenas me deixam entediada e sempre acontecem com o uso (exacerbado) do corpo da mulher nua, sabe? E isso é algo entediante e não precisa ser. 

Sundance 2023 | The Accidental Getaway Car | Award Winner

 


Por Victoria Hope

O filme foi o vencedor do Sundance na categoria de Melhor Direção de Drama para Sing J. Lee! Na trama baseada em fatos reaisLong, um motorista vietnamita do sul da Califórnia, atende uma ligação tarde da noite pedindo uma carona. Já de pijama, ele aceita com relutância, pegando um homem, Tây, e seus dois companheiros. 

Mas os homens, condenados recentemente fugitivos de uma prisão do condado de Orange, tomam Long como refém sob a mira de uma arma, colocando-o em seu plano de fuga. Quando surgem complicações, os fugitivos e seu refém se escondem em um motel, e um tenso jogo de espera se desenrola.

Os visuais impressionantes de Sing J. Lee e a estética voltada para o humor definem o tom para uma intensidade enervante, pontuada por momentos de humor e calor. Inspirado em uma história real, este não é apenas um filme policial, mas um retrato comovente desse velho solitário e seu relacionamento com Tây. É difícil exagerar a presença cativante e comovente de Hiệp Trần Nghĩa ao carregar os fardos do passado de Long - expressos por meio de interlúdios líricos e suavemente surreais: guerra, campo de reeducação, separação familiar e agora seu acentuado isolamento, tendo perdido todos os "casas". ” ele já conheceu.

O elenco está afiadísimo, mas a história por alguns momentos se arrasta, o que demonstra que um corte mais generoso faria bem para o filme que é excelente, mas que acaba se alongando demais em alguns momentos, porém, isso não fere a produção, mas sim, caso o filme seja adquirido por estúdios, talvez alguns cortes de minutos tornariam esse projeto ainda mais especial. 

NOTA: 8.5/10

Sundance 2023 revela lista de filmes premiados do festival

 

Por Victoria Hope

O Festival de Cinema de Sundance divulgou nesta sexta-feira (27), logo após evento presencial e virtual, a lista de filmes premiados pelo Juri, sendo o grande ganhador do Prêmio do Júri de Drama dos EUA, o emocionando longa A Thousand and One, estrelado por Teyana Taylor, o que marca o segundo ano consecutivo onde um filme estrelado por atriz negra e com foco em narrativas negras, ganha o festival na categoria dramática.

Já o Prêmio do Júri de Documentário dos EUA foi para Going to Mars: The Nikki Giovanni Project, enquanto os vencedores escolhidos pelo público foram The Persian Version na categoria Drama  dos EUA e Beyond Utopia na Categoria Documentário.

Para quem acompanhou o festival e não teve a chance de ver todos os títulos, os filmes premiados serão exibidos pessoalmente e pela plataforma online do Festival no sábado, 28 de janeiro, e no domingo, 29 de janeiro. A diretora da programação do festival, Kim Yutani, comentou:

Os artistas que compõem o Festival  Sundance de Cinema 2023 demonstraram senso de urgência e dedicação à excelência no cinema independente. Os vencedores do prêmio de hoje destacam as realizações mais impressionantes de nossos programas no atual momento das artes cinematográficas.” 

Esse ano o Sundance recebeu 111 longas e 64 curtas-metragens – selecionados entre 15.856 inscritos – foram apresentados em Park City, Salt Lake City e no Sundance Resort, enquanto mais de 75% dos longas-metragens, além de curtas e episódios independentes, foram disponibilizados na plataforma online do Festival até domingo (29).

CONFIRA A LISTA DE VENCEDORES:

GRANDE PRÊMIO DO JURI

Filme Dramático dos Estados Unidos: A Thousand and One (dir. AV Rockwell)

Documentário dos Estados Unidos:  Going to Mars: The Nikki Giovanni Project (dir. Joe Brewster e Michèle Stephenson)

Filme do Cinema Mundial:  Scrapper (dir. Charlotte Regan)

Documentário do Cinema Mundial:  The Eternal Memory (dir. Maite Alberdi)

PRÊMIO DO PÚBLICO

Documentário dos Estados Unidos: Beyond Utopia (dir. Madeleine Gavin)

Filme Dramático dos Estados Unidos: The Persian Version (dir. Maryam Keshavarz)

Filme do Cinema Mundial: Shayda (dir. Noora Niasari)

Documentário do Cinema Mundial: 20 Days in Mariupol (dir. Mstyslav Chernov)

Prêmio NEXT inovador: Kokomo City (dir. D. Smith)

PRÊMIO DE FAVORITO DO FESTIVAL

Radical (dir. Christopher Zalla)

PRÊMIOS DO JÚRI PARA DIREÇÃO, ROTEIRO E EDIÇÃO

Prêmio de Direção para Documentário dos Estados Unidos: Luke Lorentzen, A Still Small Voice

Prêmio de Direção para Filme Dramático dos Estados Unidos: Sing J. Lee, The Accidental Getaway Driver

PRÊMIOS DE CURTA-METRAGEM 

Prêmio do Grande Júri para Curta Metragem: When You Left Me on That Boulevard (dir. Kayla Abuda Galang)

Prêmio do Júri para Curta Metragem de Ficção Americana: Rest Stop (dir. Crystal Kayiza)

Prêmio do Júri para Curta Metragem de Ficção Internacional: The Kidnapping of the Bride (dir. Sophia Mocorrea)

Prêmio do Júri para Curta Metragem para Não Ficção: Will You Look at Me (dir. Shuli Huang)

Prêmio do Júri para Curta Metragem de Animação: The Flying Sailor (dir. Wendy Tilby e Amanda Forbis)

Prêmio de Melhor Direção para Documentário de Cinema Mundial: Anna Hints, Smoke Sauna Sisterhood

Prêmio de Direção para Filme de Cinema Mundial: Marija Kavtaradze, Slow

Prêmio de Roteiro: Maryam Keshavarz, The Persian Version

Prêmio de Edição: Daniela I. Quiroz, Going Varsity in Mariachi

PRÊMIOS ESPECIAIS DO JÚRI

Prêmio Especial do Júri para Documentário de Cinema Mundial para Visão Criativa: Fantastic Machine (dir. Axel Danielson e Maximilien Van Aertryck)

Prêmio Especial do Júri para Documentário de Cinema Mundial para Vérité Filmmaking: Against the Tide (dir. Sarvnik Kaur)

Prêmio Especial do Júri de Cinema Mundial para Visão Criativa: Animalia (dir. Sofia Alaoui)

Prêmio Especial do Júri de Filme de Cinema Mundial para Cinematografia: Lílis Soares, Mami Wata

Prêmio Especial do Júri de Filme de Cinema Mundial para Melhor Performance: Rosa Marchant, When It Melts

Prêmio Especial do Júri de Curta Metragem Internacional para Direção: AliEN0089 (dir. Valeria Hofmann)

Prêmio Especial do Júri de Curta Metragem Americano para Direção: The Vacation (dir. Jarreau Carrillo)

Prêmio Especial do Júri para Documentário dos Estados Unidos por Clareza de Visão: The Stroll (dir. Kristen Lovell & Zackary Drucker)

Prêmio Especial do Júri para Documentário dos Estados Unidos por Liberdade de Expressão: Bad Press (dir. Rebecca Landsberry-Baker & Joe Peeler)

Prêmio Especial do Júri de Filme Dramático dos Estados Unidos para Elenco: Elenco de Theatre Camp

Prêmio Especial do Júri de Filme Dramático dos Estados Unidos para Visão Criativa: Equipe Criativa de Magazine Dreams

Prêmio Especial do Júri de Filme Dramático dos Estados Unidos para Atuação: Lio Mehiel, Mutt

Sundance 2023 | Kokomo City

 

Por Victoria Hope

Kokomo City assume um manto aparentemente simples - para apresentar as histórias de quatro profissionais do sexo transexuais negras em Nova York e na Geórgia. Filmado em impressionante preto e branco, a ousadia dos fatos da vida dessas mulheres e a franqueza que compartilham complicam esse empreendimento, colidindo com o cotidiano com comentários sociais cortantes e a escavação de verdades há muito adormecidas. Compartilhando reflexões sobre desejo complicado, tabu de longo alcance, identificação no trabalho de parto e muitos significados de gênero, essas mulheres oferecem uma análise sem remorso e cortante da cultura negra e da sociedade em geral de um ponto de vista que vibra com energia, sexo, desafio e sabedoria suada.

Este retrato vital é a ousada estreia na direção de D. Smith. Uma veterana da indústria da música e produtora, cantora e compositora indicada ao Grammy, Smith traz suas habilidades sonoras em uma harmonia impressionante com um estilo visual cuja coragem e ousadia combinam com a energia e o espírito que ela extrai de seus participantes. Sem filtros, sem vergonha e sem remorso, Smith e seus súditos quebram o padrão moderno de autenticidade, oferecendo uma refrescante crueza e vulnerabilidade despreocupada com pureza e polidez.

É um excelente documentário sobre sex work e a relação de mulheres trans à margem que por não terem escolha, atuam nessa área mas sonham com uma nova vida, onde não apenas elas tem um emprego fixo, mas que independente do emprego, o que elas querem é respeito, dignidade e uma vida livre da transfobia e do racismo institucional da sociedade. 

NOTA: 9/10

Sundance 2023 | Victim/Suspect

 

Por Victoria Hope

Rae de Leon, uma repórter que trabalha no The Center for Investigative Reporting, descobre um número surpreendente de casos legais em todo o país que envolvem mulheres denunciando agressão sexual à polícia, apenas para serem acusadas de fabricar suas alegações. Essas mulheres são então acusadas de crimes, às vezes enfrentando anos de prisão. Víctim/Suspect segue de Leon enquanto ela reúne relatos em primeira mão de várias mulheres jovens e suas famílias e entrevista policiais e especialistas jurídicos. Simultaneamente, de Leon reexamina elementos das investigações policiais iniciais, desenterrando gravações reveladoras de entrevistas policiais de mulheres relatando sua agressão sexual.

A diretora Nancy Schwartzman cria um documentário investigativo profundamente atraente e provocativo, que certamente provocará empatia e indignação, que se destaca como um testemunho poderoso do trabalho cuidadosamente construído de repórteres determinados como de Leon. Victim/Suspect ilumina, com precisão e foco, como as políticas de policiamento sistêmico locais e nacionais motivam os detetives a tratar as vítimas como suspeitas e impactam diretamente não apenas os casos dessas mulheres vulneráveis, mas também suas vidas.

Esse é um documentário pesado, porém necessário para trazer luz ao absurdo que é a coerção da polícia. As fitas de interrogação geram ódio quando notamos os oficiais mentindo sobre provas contra as vítimas e as torturando psicologicamente para arrancar uma confissão de algo que elas não fizeram. 

NOTA: 8.5/10

Sundance 2023 | Daina Reid fala sobre o terror Run Rabbit Run

 

Por Victoria Hope

No terror dramático Run Rabbit Run, adquirido pela Netflix no Festival de Sundance 2023, acompanhamos uma mãe que luta para conseguir lidar com o luto, a maternidade e um vazio em sua existência que mostra que algo aconteceu no passado; algo que mudou para sempre a vida dessa mulher.

Com intepretações maravilhosas, incluindo Sarah Snook (Succession), o Run Rabbit Run é um  psicologicamente ambicioso, banhado pelos belíssimos cenários australianos apresenta uma história sobre culpa, mas também sobre maternidade e e traz a reflexão angustiante sobre um tema que raramente é discutido: Todas as mães são boas? Todas as mães são más? Existe o meio termo? Essa entre outras questões são exploradas no longa. 

O filme , definitivamente vai criar diversas discussões relacionadas a trama e aos personagens apresentados. Pensando nisso, durante o Sundance, nossa equipe teve a chance de conversar com a diretora Daina Reid (The Handmaid's Tale), a diretora de Run Rabbit Run,  sobre esse projeto ambicioso, explorando diversas questões relacionadas ao gênero de terror, cinema, maternidade e mais. 


Run Rabbit Run / Foto: Sundance

Amélie: Quais foram os maiores desafios durante as filmagens de Run Rabbit Run?

Daina: Primeiro de tudo, (a pandemia) de Covid, que acabou pegando parte do tempo das filmagens, mas o maior desafio foi trabalhar em uma história tão pesada emocionalmente, principalmente trabalhando com Sarah Snook. Tivemos que ir a lugares sombrios como o medo de não ser um bom pai ou mãe para seus filhos. Luto, digo, todo o luto, sabe? Recentemente eu perdi meu pai durante as gravações e foi difícil ir para o set todos os dias em um filme sobre luto, tendo que passar pelo meu próprio luto pessoal.

Quando eu era atriz e sim eu já fui (risos), eu fazia comédias e eu realmente adorava fazê-las, então filmando esse projeto aqui, eu percebi o quão diferente os dois são um do outro. No dia a dia, realmente foi pesado abordar esses temas, a culpa também, então, foi bem desafiador, mas ao mesmo tempo recompensador. Sarah foi incrível, o cenário estava lindo, então tudo isso compensou. 

Amélie: Assim como neste filme, muitos títulos do gênero de horror contemporâneo tem mostrado a relação entre mães e filhas, trazendo o tema de trauma geracional. Você pode falar um pouco disso?

Daina: Quando eu me tornei mãe, eu achei isso algo muito desafiador e nós geralmente não abordamos as nuances disso, sobra a maternidade, sabe? Existem mães maravilhosas, existem mães terríveis, mas nós sempre estamos no meio termo, então pensamos sobre a realidade de ambas. Isso é algo que a gente pensa, sabe? Quando eu me tornei mãe, eu pensei 'Será que vou infectar minha criança com meus problemas?", "Eu não quero que essa criança se torne um reflexo, eu deveria trabalhar isso em mim'.

Então pegamos essa ideia com a personagem de Sarah para explorar esse tema. Pegamos essa ideia e pensamos, pois não sabemos se aquilo tudo está acontecendo ou se tudo se passa na cabeça dela. Talvez seja um medo que ela está passando, mas ela definitivamente está infectando sua filha com isso e geralmente esse é o pensamento quando pensamos em maternidade e paternidade. 

Amélie: Você poderia falar sobre 2 filmes que inspiraram sua carreira na direção? 

Daina: Preciso pensar mesmo nessa. Acho que Quanto mais Quente Melhor, que é um filme que não tem nada a ver com esse (risos). Eu adoro o trabalho de Billy Wider, então vou falar dois títulos, primeiro esse e o segundo, Last Weekend, porque ambos filmes são tão diferentes e pensei: 'Esse mesmo diretor fez filmes tão distintos um do outro, mas tão lindamente construídos". Eu adoro filmes de gênero e adoro quando o gênero é subvertido. Eu sempre quero ver conceitos. mas não me dê satã (risos). O que esperar de uma história? Foi isso que ajudou a pensar no conceito de Run Rabbit Run

Mas na realidade, o que me inspirou mesmo a fazer esse filme foi uma série de televisão chamada The Terror, que novamente, não é a mesma coisa, mas traz diversos personagens rodeados por essa trama sobrenatural. Então isso foi bastante inspirador. 

Amélie: Imagine que você pudesse conversar com a Daina de 7 anos e dizer que hoje é uma diretora e está na Netflix e no Sundance. Qual seria a reação dela?

Daina: Que pergunta interessante, porque eu tinha 10 anos da primeira vez que assisti Star Wars, eu sou daquela geração e ver esse filme, foi o que me fez querer me tornar uma diretora. Isso foi 3 anos depois, então eu me pergunto o que ressonaria para uma criança de 10 anos. Acho que eu sempre amei filmes, sempre assisti filme. E obviamente vi um que explodiu minha mente com os dez anos. Talvez eu achasse legal ou talvez eu simplesmente só me convidaria para dançar, que era o que eu fazia na época.

Amélie: Qual é a principal mensagem que você quer passar ao público com esse título?

Daina: É muito difícil falar sobre isso sem soltar spoilers (risos), mas acho que posso dizer, seja verdadeiro com você mesmo. Acredito que esse filme seja ser brutalmente honesto e refletir sobre seus próprios comportamentos. pois todos nos precisamos fazer isso. 

Amélie: Três palavras para definir Run Rabbit Run

Daina: Desafiador, Solitário e expositivo

Sundance 2023 | Rye Lane

 

Por Victoria Hope

Os caminhos de Dom e Yas colidem no momento menos oportuno: quando Dom (David Jonsson de Industry da HBO) está chorando feio em um banheiro, preparando-se para uma refeição estranha com sua ex, que o traiu com seu melhor amigo. Cuidando de suas próprias feridas de separação, Yas despreocupada decide pular de cabeça na briga para diminuir a dor como o par de Dom. O que se segue é um dia de caos impulsivo e alegre, enquanto esses dois londrinos de 20 e poucos anos vagam por Peckham por bares de karaokê e playgrounds, enquanto se aproximam da possibilidade de abrir seus corações novamente.

Em sua estreia visualmente inventiva, a diretora Raine Allen-Miller nos lança em um mundo lúdico e vibrante, moldando uma comédia romântica que celebra o encontro com a pessoa certa na hora errada. Os novos personagens de Nathan Bryon e Tom Melia saltam da página a uma velocidade vertiginosa nas mãos de Oparah e Jonsson, canalizando todas as frustrações do cansaço enquanto se agarra à esperança de encontrar o verdadeiro negócio. Assim como seu homônimo no coração pulsante do sul de Londres, Rye Lane é irresistível.

O melhor filme do Sundance até então! O elenco é afiadíssimo e é impossível não chorar de rir com essa comédia e se encantar com todas as participações especiais com grandes nomes britânicos do cinema que aparecem de surpresa ao longo da trama. Rye Lane está pronto para as telonas ou para os streamings e a boa notícia é que o filme é da Searchlight, ou seja, logo mais o filme com certeza terá sua estreia para o grande público. 

NOTA: 10/10

Sundance 2023 | Landscape with Invisible Hand

 

Por Victoria Hope

Adam é um artista adolescente que atinge a maioridade após uma aquisição alienígena. Os Vuvv, uma espécie de extraterrestres hiperinteligentes, trouxeram uma tecnologia maravilhosa para a Terra, mas apenas os mais ricos podem pagar por ela. O resto da humanidade, com seus meios de subsistência agora obsoletos, precisa juntar dinheiro na indústria do turismo. 

No caso de Adam e seu interesse amoroso, Chloe, isso significa transmitir ao vivo seu namoro para a diversão dos Vuvv, que acham o amor humano exótico e interessante. Quando o esquema de Adam e Chloe dá errado, Adam e sua mãe precisam encontrar uma saída para uma burocracia alienígena cada vez mais assustadora.

Landscape with Invisible Hand / Foto: Sundance

O roteirista e diretor Cory Finley (Thoroughbreds, Sundance 2017) retorna a Park City com esta viagem de ficção científica descaradamente original que apresenta uma atuação extraordinária de Asante Blackk. Baseado no romance do vencedor do National Book Award, M.T. Anderson, o filme encadeia cuidadosamente suas fantasias cômicas com uma sensibilidade melancólica que leva o público a uma exploração minuciosa de classe e comércio.

Além dessa temática, outro ponto que deixou marcas foi a crítica às redes sociais e a monetização da vida diária de blogueiros, ao ponto em que o público não sabe dizer o que é real ou não e até que ponto estão dispostos a comprar (literalmente), a ideia daquelas personas virtuais. 

Landscape with Invisible Hand é em sua essência, uma grande mensagem de como a arte e os artistas são mentes fundamentais para lutar contra ditaduras (como no caso, a extraterritorial apresentada no filme). A trama também mostra a qual ponto pessoas que supostamente não tem nada, podem chegar para ter um lugar ao sol.

NOTA: 10/10

Sundance 2023 | Passages

 

Por Victoria Hope

Na Paris contemporânea, o cineasta alemão Tomas (Franz Rogowski) abraça sua sexualidade por meio de um tórrido caso de amor com uma jovem chamada Agathe (Adèle Exarchopoulos), um impulso que confunde as linhas que definem seu relacionamento com seu marido, Martin (Ben Whishaw). Quando Martin começa seu próprio caso extraconjugal, ele recupera com sucesso a atenção de seu marido e, ao mesmo tempo, desenterra o ciúme de Tomas. Lutando contra emoções contraditórias, Tomas deve abraçar os limites de seu casamento ou aceitar o fim do relacionamento.

O diretor Ira Sachs (Forty Shades of Blue, Vencedor do Grande Prêmio do Júri Dramático dos EUA no Sundance 2005) retorna com seu oitavo filme para exibição em Sundance: um exame fundamentado da experiência humana que se concentra nas diferenças e semelhanças entre atração física e emocional e coloca a questão de separar a arte do artista. 

A elegante cinematografia é habilmente equilibrada por atuações profundamente complexas nas quais Sachs permite que seus personagens se acomodem em momentos tranquilos e desconfortáveis ​​e enfrentem suas imperfeições. Passages é uma peça intensamente íntima que se recusa a fugir da confusão da vida.

Passages / Foto: Sundance

O próprio título do filme já diz 'Passagens', pois a vida é feita de passagens e momentos e é justamente por essa jornada que o protagonista passa, explorando sua sexualidade  a vida boêmia que Paris proporciona à todas as mentes criativas fervilhando de sonhos. 

Enquanto Martin tenta manter o relacionamento, que já esta caindo aos pedaços, Tomas sai todos os dias de casa para encontros sexuais com Agathe, o que acaba em um gravidez de certo modo, desejada por ambos. Enquanto o diretor destrói a vida dos outros ao seu redor, Agathe e Martin tentam superar aquela pessoa tóxica que marcou suas vidas.

Com excelentes atuações, o drama aborda a natureza humana e explora temas como amores, felicidade, tristeza, vindas e despedidas. É impossível odiar totalmente o protagonista da história, mas ao mesmo tempo, não tem como julgar suas atitudes para com seus dois interesses românticos, afinal, caras que tem tudo, querem ainda mais. O longa estará disponível no MUBI em breve

NOTA: 9/10

Sundance 2023 | Mami Wata

 

Por Victoria Hope

Na vila à beira-mar de Iyi, a reverenciada Mama Efe (Rita Edochie) atua como intermediária entre o povo e a todo-poderosa divindade da água, Mami Wata. Mas quando um menino morre para um vírus, a devotada filha de Efe, Zinwe (Uzoamaka Aniunoh) e a cética protegida Prisca (Evelyne Ily Juhen) alertam a Efe sobre a agitação entre os aldeões. Com a chegada repentina de um misterioso desertor rebelde chamado Jasper (Emeka Amakeze), um conflito irrompe, levando a um violento choque de ideologias e uma crise de fé para o povo de Iyi.

A potente fábula moderna de C.J. “Fiery” Obasi emprega uma vívida cinematografia monocromática em preto e branco, um rico design de som e uma trilha sonora hipnótica em um estilo folk-futurista, tanto terreno quanto sobrenatural. Obasi retrata uma batalha campal entre militantes oportunistas que prometem progresso tecnológico e uma ordem espiritual matriarcal vivendo em frágil harmonia com o oceano. Mami Wata nos transporta para um lugar que parece suspenso no tempo e talvez correndo contra o tempo, à medida que as ameaças da vida moderna chegam às suas margens.

Mami Wata apresenta um emocionante conto folclórico do oeste africano, onde uma comunidade local venera a deusa da água Mami Wata, mas tudo muda quando um forasteiro chega à vila, tudo muda e como neta de mulher africana, que cresceu venerando as entidades yoruba orixás, a trama foi ainda mais emocionante, porque essas são as nossas raízes que devemos honrar a ancestralidade.

A trama aborda diversos temas como patriarcado, fé e o empoderamento feminino passado de gerações em gerações de famílias nigerianas. O ritmo funciona e a direção de forografia, unida ao filtro P&B faz a história ganhar um ar etéreo de magia. A mensagem principal que fica ao final, é de que nunca estamos sozinhas e que as mulheres, juntas, são mais fortes. 

NOTA: 9.5/10

Sundance 2023 | Mutt

 

Por Victoria Hope

Feña, um jovem trans animado pela vida na cidade de Nova York, sofre com um dia incessantemente desafiador que ressuscita fantasmas de seu passado. Lavanderias, catracas de metrô e transferências de aeroporto são o pano de fundo agitado para este drama emocional que se sobrepõe ao passado, presente e futuro. 

Resolver a desarmonia da reviravolta transicional nos relacionamentos familiares, românticos e platônicos é a tarefa de Feña, e seu ato de malabarismo resultante é igualmente habilidoso, desajeitado e honesto. Ao negociar sua obliquidade, os momentos pungentes que ele encontra entre ele e os outros - à medida que a distância entre eles diminui - são calorosos, verdadeiros e tocantes.

A estreia na direção de Vuk Lungulov-Klotz é ao mesmo tempo precisa em sua especificidade e totalmente relacionável em sua grande humanidade. Uma performance de liderança hábil e visceral de Lío Mehiel incorpora o meio-termo de muitas formas. Mutt  triunfa nas discussões mais difíceis por meio de sua ternura em relação à luta de cada personagem com a complexidade da vida trans, da vida latina na América e da vida humana em geral.


Mutt / Foto: Sundance

O filme é estrelado pelo excelente ator trans não binário Lío Mihael, o que mostra que a indústria finalmente esta abrindo espaço para que pessoas pertencentes às comunidades possam representá-las na tela. Ao longo da trama, conhecemos a história desse personagem, bem como a sua relação com seus pais, sendo sua mãe transfóbica que o expulsou de casa cedo, e sua irmã mais nova que o adora e seu pai imigrante chileno que tenta apoiá-lo como pode e decide passar  o tempo com seu filho em Nova York.

Entre encontros e desencontros, Feña acaba reencontrando um ex-namorado e isso põe a prova diversas de suas mudanças enquanto ambos tentam superar o passado, apesar da tarefa ser bem difícil. Logo o filme se transforma em um romance, mas ainda assim, o foco principal se mantém no dia a dia desse personagem que mesmo com as adversidades de sua vida pessoal e amorosa, consegue arranjar formas de ser feliz por ser finalmente seu verdadeiro eu depois de tantos anos. 

NOTA: 9/10

Sundance 2023 | A Thousand and One


Por Victoria Hope

Em 'A Thousand and One', passando por dificuldades, mas assumidamente vivendo em seus próprios termos, Inez está se mudando de um abrigo para outro em meados da década de 1990 na cidade de Nova York. Com seu filho de 6 anos, Terry, em um orfanato e incapaz de deixá-lo novamente, ela o sequestra para que possam construir sua vida juntos. Com o passar dos anos, sua família cresce e Terry se torna um adolescente inteligente, mas quieto, mas o segredo que definiu suas vidas ameaça destruir o lar que eles construíram de maneira tão improvável.

Em seu impressionante roteiro e direção de estreia, a ex-aluna de Sundance, A.V. Rockwell conta uma história profundamente americana de mãe e filho vivendo um para o outro em uma cidade gentrificada, muitas vezes desinteressada na realidade de suas vidas. Com uma atuação vai definir a carreira de Teyana Taylor como uma mãe ferozmente comprometida em fazer um futuro para seu filho, A Thousand and One é um elegante ode ao poder terrivelmente belo da família como uma âncora em um mundo em constante mudança, tornando-nos quem somos de maneiras que só podemos entender hesitantemente.

O destaque do longa com certeza vai para Teyana Taylor entrega uma performance poderosa no drama A Thousand and One, onde Inez, uma mãe recém liberta da prisão, rapta seu filho Terry do orfanato para criá-lo e recuperar o tempo perdido. Com muita autencidade, o filme é uma homenagem belíssima as mães solo que fazem de tudo para dar a melhor vida possível para seus filhos, mesmo sem apoio de outras pessoas e o terceiro ato entrega um plot twist de tirar o fôlego que põe a prova tudo o que a audiência viu até então. 

NOTA: 9.5/10

Sundance 2023 | Infinity Pool

 

Por Victoria Hope

Em 'Infinity Pool', James e Em Foster partem para um refúgio de praia all inclusive no estado fictício de Li Tolqa para ajudar com seu bloqueio criativo de escritor. Seus dias de relaxamento são passados ​​em um caro resort completamente isolado da terra ao redor. Enquanto isso, outro casal, Gabby e seu parceiro, Al que também estão passando as férias por lá, encontram a dupla famosa e como a garota é fã do último romance de James, o casal decide passar algum tempo junto com os Fosters. 

Durante o período juntos, ambos casais planejam uma excursão secreta fora do complexo, viagem essa que termina em um acidente fatal que colocará James como culpado, mas para a 'sorte' do escritor, por um preço alto, existem brechas  na ilha para ajudar viajantes estrangeiros condenados por crimes lá, e é assim que James é apresentado pela primeira vez a uma subcultura perversa do turismo hedonista.

O roteirista e diretor Brandon Cronenberg (Possessor, que teve estreia no Sundance de 2020) retorna a Park City com uma nova viagem de ficção científica pelas perversas façanhas de estrangeiros no exterior. Violência esmagadora e horrores surreais perfuram esta sátira sombria de poucos privilegiados, centrada nas performances depravadas de Alexander Skarsgård e Mia Goth.

Infinity Pool / Foto: Sundance

Mia Goth e Alexander Skarsgård apresentam performances excelentes, num trama que anda em círculos, mesmo tempo é hipnotizante. É uma mistura da ultra violência de Laranja Mecânica com a crítica 'eat the rich' de The White Lotus, além de trazer um tantinho de White Bear de Black Mirror.

Sabemos que o filme vai ser pesado quando nos primeiros 20 minutos já nos deparamos com fluídos corporais do Alexander, se é que me entendem. Por alguns momentos os flashes piscando são excessivos, principalmente a quantidade de cenas de nu frontal feminino, em momentos que se prolongam demais e se tornam arrastados porém, no geral a direção de Brandon Cronenberg é bem criativa.

Em tempos onde os exageros das classes mais ricas são temática favorita em várias produções como The Menu ou Triangle of Sadness, o trunfo de Infinity Pool vai para além das orgias (e matanças) dos personagens, apresentando uma trama muito original, mas que vale ressaltar, não é para todos os gostos e definitivamente vai dividir opiniões, mas sem dúvida, os minutos finais são de tirar o fôlego quando as verdadeiras intenções dos personagens são reveladas!

NOTA: 8.5/10

Sundance 2023 | My Animal

 

Por Victoria Hope

Presa por uma dinâmica familiar opressiva orbitando em torno de sua mãe alcoólatra, mantida à margem do time de hóquei que ela deseja ingressar e aprisionada em sua própria casa a cada lua cheia, Heather luta por sua vida contra as forças constritivas em sua mente em uma pequena cidade do norte.

Mas quando uma patinadora artístico intrigante entra no rinque, a vida, a sexualidade e a personalidade de Heather são finalmente reveladas. Jonny, interpretada por Amandla Stenberg, e Heather, interpretada por Bobbi Salvör Menuez, têm uma química bombástica que se desenrola na tela com muita atitude, estilo e paixão. Longe da típica história de lobisomem, a condição de Heather é uma das muitas razões para seu status de pária, mas felizmente, Jonny fica feliz em se juntar a ela nos momentos mais difíceis.

A diretora Jacqueline Castel traz uma nova profundidade ao mito clássico dos lobisomens com sua abordagem enérgica, deliciosa e romântica em My Animal. Sob a superfície de um drama familiar angustiante, um romance adolescente fumegante e um conto clássico de monstros, Castel reforça esta joia do gênero com um mergulho triunfante rumo a auto-aceitação, 

My Animal / Foto: Sundance

My Animal é o romance queer coming of age que traz uma nova versão do mito dos lobisomens e que o entretenimento tanto precisava. O filme é visualmente maravilhoso, com muitas luzes neon e efeitos strobo, porém alguns momentos da trama poderiam ser desenvolvidas de forma mais ágil. 

Amandla Stenberg, como sempre, encanta e tem ótima química com a excelente estreante Bobbi Salvör Menuez, que interpreta a protagonista Heather. Os olhares e a complexidade da performance da atriz são justamente o que fazem a história crescer e chegar à outro patamar. 

Enquanto acompanhamos o dia a dia de Heather tentando balancear seu dia a dia entre hoquei, controlar sua mãe que perde cada dia mais a sanidade, enquanto ela e seu pai, também lobisomen, tentam controlar suas transformações.

NOTA: 8/10

Sundance 2023 | Cat Person

 

Por Victoria Hope

Margot, uma estudante universitária que trabalha em concessões de arte em um teatro, conhece o cinéfilo - e um local bastante mais velho - Robert, no trabalho. O flerte no balcão evolui para mensagens de texto contínuas. À medida que os dois avançam em direção ao romance, mudanças entre eles, momentos estranhos, red flags e desconfortos se acumulam. 

Margot sente-se ao mesmo tempo apegada e receossa, enquanto suas hesitações torturantes se transformam em devaneios vívidos, onde Robert percebe seu potencial mais ameaçador. À medida que sua desconfiança e incerteza aumentam, uma noite, seu relacionamento e possivelmente suas vidas se desfazem.

Explorando as dinâmicas do poder, a natureza aterrorizante de algumas áreas cinzentas e a maneira como as mulheres jovens devem equilibrar seus relacionamentos consigo mesmas e com seus amantes, Cat Person é um retrato provocativo do namoro moderno. A diretora Susanna Fogel (co-roteirista de Booksmart) traz essas questões para a tela com uma tensão vibrante que dá um soco na nossa cara, auxiliada por ótimas atuações de Emilia Jones (CODA) e Nicholas Braun (Succession). Inspirado na obra de ficção mais lida já publicada no The New Yorker, o conto “Cat Person” de Kristen Roupenian, o filme continua uma conversa cuja urgência é clara, presente e perigosa.

Cat Person / Foto: Sundance

Baseado no conto de ficção da revista The New Yorker, o thriller Cat Person conta a história de uma atendende de cinema chamad Margot que decide ter um encontro com um dos clientes do local, Robert, um homem de 33 anos, mas o que parece ser o date dos sonhos, rapidamente se torna um verdadeiro pesadelo, mas não da forma que o público espera.

O que acontece quando se assume e espera o pior de um encontro? Margot não sabe do que Robert é capaz, mas o homem nunca faz absolutamente nada para causar desconfiança. É aí que a história tem uma grande virada e subverte o gênero do filme, pois verdadeiro perigo está na vendedora.

NOTA: 7/10

Sundance 2023 | Rashad Frett inspira com o curta forte e comovente 'Ricky'

 


Por Victoria Hope

Ricky é o emocionante curta metragem live action de Rashad Frett que teve sua estreia nessa semana durante o festival Sundance, que acontece até o dia 29 de janeiro presencialmente em Utah e simultaneamente online. 

O drama conta a história de um ex-detento que após entrar em liberdade, tenta retomar a sua vida aos poucos enquanto busca por um emprego e conexão com o mundo exterior, agora já praticamente desconhecido para o homem que esteve tanto tempo longe de tudo e todos.

Esse é um curta crucial para mostrar a importância de segundas chances, mas também para mostrar que as vezes a vida entra no caminho e as consequências podem ser dolorosas. Com elegência, Rashad Frett trouxe esse curta que definitivamente merece ganhar um longa metragem para expandir a história tão importante desse personagem. 

Durante esse fim de semana, nossa equipe teve a oportunidade de entrevistar o diretor e mergulhar a fundo por dentro da produção e criação de Ricky, bem como pudemos conhecer um pouco mais sobre a mente brilhante que trouxe essa pequena joia rara ao festival. 


Ricky/ Foto: Sundance

Amélie Magazine: Em primeiro lugar, parabéns pelo curta instigante e poderoso sobre algo que afeta a muitos, que é essencialmente ter uma segunda chance. O que te inspirou a contar essa história?

Rashad: A inspiração para este filme veio de conversas com um amigo de infância depois que ele foi libertado de uma longa pena de prisão. Devido à sua ficha criminal, era difícil encontrar trabalho e ele lutava para ficar do lado de fora depois de tantos anos de encarceramento. Ele, junto com alguns de meus colegas que estavam no sistema de justiça criminal e testemunhando suas lutas após a libertação, influenciou o protagonista do meu filme.

Amélie Magazine: Quais foram os maiores desafios de filmagens para 'Ricky'? 

Rashad: O maior desafio foi um grande defeito no guarda-roupa na noite anterior à filmagem principal e uma tempestade de granizo que interrompeu as atividades do nosso set temporariamente.

Amélie Magazine: Como diretor, você poderia nos falar sobre 3 filmes que mudaram sua vida e o inspiraram a dirigir seu próprio projeto?

Rashad: Três filmes que mudaram minha vida foram “Faça a Coisa Certa” de Spike Lee, pois ver um diretor negro que dirigiu uma obra-prima destemida acendeu uma faísca em mim há muitos anos. Ver “O Profissional” de Luc Besson nos cinemas quando jovem me empolgou para saber mais sobre os meandros do cinema e, finalmente, “Onde Fracos Não Tem Vez” que foi crucial, pois é um clássico instantâneo dos irmãos Coen que me levou incentivou a ter uma carreira no cinema para toda a vida.

Amélie Magazine: E como foi o processo de escalação do elenco de 'Ricky'?

Rashad: O processo de casting foi intenso e levei mais de 6 meses para encontrar o elenco certo. Para o papel de Ricky, demorou ainda mais, já que seu papel era tão complexo. Passamos por muitas auto audições, mas finalmente vendo a performance de Parish Bradley, vi algo único que queria explorar um pouco mais. Fizemos três audições com Parish e depois uma leitura química com Maliq Johnson, que interpretou seu irmão, James. A partir de sua conexão instantânea na tela, foi tomada a decisão de escalar Parish como Ricky.

Amélie Magazine: Como diretor, qual seria o seu projeto dos sonhos?

Rashad: Meu sonho é dirigir um filme autobiográfico sobre uma figura influente em nossa comunidade. Além disso, um ótimo filme da Marvel também serve.

Amélie Magazine: Se você pudesse deixar uma mensagem para jovens negros aspirantes a diretores que também sonham em fazer seus próprios filmes e lançá-los em festivais como o Sundance, qual seria?

Rashad: A grande sacada é nunca desistir e, desde que você continue se esforçando, você chegará lá! Acredite em si mesmo, continue criando e aprenda com seus erros porque você só vai melhorar com o tempo.

Sundance 2023 | You Hurt My Feelings

 

Por Victoria Hope

Em 'You Hurt My Feelings', A romancista nova-iorquina Beth trabalha há anos na continuação de seu livro de memórias de forma bem-sucedida, compartilhando inúmeros rascunhos com seu marido Don, que o aprova e apoia, mas o mundo de Beth rapidamente se desfaz quando ela ouve Don admitir para seu cunhado, Mark, que, na verdade, ele não gosta do novo livro. 

Ela desabafa com sua irmã Sara que décadas de um casamento amoroso e comprometido empalidecem em comparação com essa imensa traição. Enquanto isso, o terapeuta Don enfrenta seus próprios problemas profissionais quando se vê incapaz de se importar ou mesmo de se lembrar dos problemas de seus pacientes infelizes... e eles começaram a perceber.

A roteirista e diretora Nicole Holofcener retorna a Sundance pela quarta vez com um filme inteligente e espirituoso que toca delicadamente as inseguranças, privilégios e narcisismo de seus personagens imperfeitos e bem desenhados. Julia Louis-Dreyfus e Tobias Menzies lideram um elenco uniformemente soberbo e engraçado, enquanto puxam todos ao seu redor para a dúvida de saber se amar alguém também requer amar seu trabalho. Michaela Watkins se destaca como a franca e imperturbável Sara, que administra seu próprio casamento com o sensível ator Mark (interpretado com charme por Arian Moayed), com muito mais habilidade.

O filme é uma delícia de acompanhar e trás aquela dúvida que todo criativo tem sobre a opinião de seu parceiro sobre seu trabalho. Será que as vezes é melhor não saber ou o bom caminho a se seguir é simplesmente aceitar que nem todos os gostos de um casal serão parecidos, aliás, geralmente é isso o que acontece tanto na ficção quanto na vida real.

NOTA: 8.5/10

Sundance 2023 | Girl

 

Por Victoria Hope

A dupla mãe-filha Grace e Ama estabeleceram um vínculo profundo que as protegeu de estranhos, mas quando elas começam de novo em Glasgow, as coisas começam a mudar. A crescente puberdade e curiosidade de Ama desencadeiam lembranças de um passado do qual Grace, de 24 anos, está fugindo. A reconfortante história de origem, semelhante a um conto de fadas, que Grace conta a Ama há anos é interrompida por flashbacks de seu passado doloroso - seu mundo protegido começa a se desgastar por dentro.

O longa-metragem de estreia de Adura Onashile é uma história impressionantemente delicada sobre trauma e amadurecimento. Onde Grace está atordoada e paralisada fora de seu ninho seguro, Ama floresce, explorando o mundo com a nova amiga Fiona. 

O tratamento compassivo de Onashile com o trauma de Grace adota uma abordagem impressionista, revelando habilmente detalhes suficientes e o retrato de Grace de Déborah Lukumuena é sensível e cativante, enquanto uma câmera íntima e uma trilha sonora aumentam a experiência evocativa das realidades de duelo da dupla. Onashile criou uma história comovente sobre a cura e os sacrifícios dolorosos que às vezes são necessários para amar a nós mesmos e às pessoas mais próximas de nós.