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[Coletiva] Diretor Phillippe Le Guay vem ao Festival Varilux para falar sobre novo longa, Um Intruso no Porão

 

Por Victoria Hope

Em tempos de ascensão do negacionismo, Phillipe Le Guay apresenta um dos filmes mais necessários e sombrios do ano, o thriller 'Um Intruso no Porão', que faz parte da programação oficial do Festival Varilux de Cinema Francês, que acontece em cinemas de todo o Brasil, de 25 de novembro a 8 de dezembro.

Essa já é a terceira vez do diretor no Brasil, já que a primeira aconteceu em 2013, também para prestigiar uma das edições do Festival Varilux e a segunda iguamente, em 2016 para apresentar o longa Floride, ao lado de Jean Rochefort e Sandrine Kiberlain. 

Na trama de 'Um Intruso no Porão', em Paris, Simon e Helen decidem vender um porão no imóvel onde vivem. Um homem com um passado conturbado o compra e instala-se lá sem aviso prévio, mas pouco a pouco, a sua presença vai mudar a vida do casal.

Com atuações fortes, essenciais para abordar a temática pesada, o filme demonstra os perigos de quando ideais retrógrados tomam conta e como através da internet e redes sociais, pessoas que se recusam a acreditar na história e na ciência, se organizam para causar dúvida, medo e retrocesso. 

CONFIRA A ENTREVISTA


Amélie: O que você entende pelo medo de ter alguém desconhecido escondido no porão de casa, como aconteceu com o protagonista? 

Phillipe: O medo se instaurou (na França) m relação à estrangeiros. Quis passar no filme, o sentimento que tem crescido no país, de pessoas que tem medo de desconhecidos e como desconhecidos, porém acabar se inserindo na vida de famílias, como no caso do protagonista. Esse é um tema recorrente em diversos thrillers, como em obras de Edgar Allan Poe; o medo do desconhecido sempre será mais assustador. 

Amélie: O que te inspirou a escrever essa história?

Phillipe: Escrevi esse filme porque um casal de amigos meus passaram exatamente por essa situação. Um estranho simplesmente se instalou no porão da família e se recusou a sair. Eles venderam o porão da casa para essa pessoa desconhecida e então, sofreram por mais de 3 anos até que o homem os deixasse em paz e saísse de suas casas. Na França é comum as casas terem porões e é ainda mais comum, famílias alugarem ou venderem porões para pessoas desconhecidas. 

Amélie: Como foi a escolha do ator para o papel de intruso? E como chegou a François Cluzet de 'Intocáveis'?  

Phillipe: Justamente, em minha escolha inicial, havia pensado em atores com rostos estranhos e singulares, diferentes dos que já vimos antes, mas eu não tinha certeza ainda, Há 2 anos, François fez um filme chamado 'Normandia Nua', onde seu personagem era muito simpático, mas que possuía um olhar perturbador. 

É interessante, porque Normandia é um filme muito positivo e aqui no meu filme, ele representa um personagem perturbador, mas que ainda assim, elegante e sedutor, mesmo com o casaco surrado. Eventualmente vemos a máscara por trás do personagem que ele criou, ou seja, o personagem, já que ele se vê como uma vítima da história, mesmo ele sendo a figura negacionista.

Amélie: Esse tema é relevante para o que estamos passando nesse momento e o personagem realmente acredita estar correto.

Phillipe:  A percepção que ele tem é a percepção de um francês que se recusa a ver a verdade da história. Ele, como francês, quer se enganar e dizer que não houve deportação dos judeus na França, como se isso não tivesse acontecido. Ele expressa ódio pela história das famílias judaicas, aborda o tema da colonização dos indígenas americanos e nega todos esses fatos. O pior, ele parece ser uma pessoa comum, como todas as outras e isso é o mais aterrorizante. 

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