Por Gabriella Medeiros
Todos nós já assistimos algum desses. Um filme, uma série. Os nazistas representados como vilões de cartoon, grandes caras malvados, saindo direto das páginas de um gibi, mas em Zona de Interesse, não. O mais novo filme da A24 tem 5 indicações ao Oscar desse ano, incluindo as categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Som, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme Internacional, todas devidamente merecidas, vale ressaltar.
Os Hoss, em Zona de Interesse, são só... Pessoas comuns e esse é o maior destaque do filme. Na trama, acompanhamos uma família composta pelo marido, esposa, filhos e empregados da casa que vive sua vida de maneira aparentemente comum à primeira vista.
Eles poderiam ser uma família normal, se não fosse o fato de Rudolf Hoss ser um comandante nazista, que mora com sua família ao lado de Auschwitz. O filme te poupa do óbvio. Ele não está ali pra te explicar o que está acontecendo, o motivo pelo qual a guerra existe ou que os nazistas são malvados.
Zona de Interesse / Foto: A24 |
O filme trás... normalidade. E é exatamente isso que te mantém na ponta da cadeira durante sua duração. Não existem grandes vilões de desenho ou terríveis bruxas más. Somente pessoas. As mesmas que aceitaram o massacre de milhões de outras pessoas, para beneficio próprio.
Zona de Interesse nos leva a acontecimentos simples da vida dos mesmos. Aniversários. Visitas. Idas a escola. O contraste entre o lindo jardim florido da grande casa, com o muro do campo de concentração, ao fundo, só não supera o trabalho do som e fotografia, que elevam o filme a um novo patamar.
Seja numa bela cena de flores, onde podemos ouvir os gritos e sons pavorosos do outro lado do muro, ou a constante lembrança dos horrores, quando o lindo céu é tomado por uma nuvem de fumaça, vindo dos crematórios.
Zona de Interesse / Foto: A24 |
Tudo isso, sem nenhuma cena terrivelmente explícita. Sem sequer vermos o lado de dentro do muro, por grande parte do filme. E quanto isso acontece, definitivamente, é mais doloroso de assistir do que qualquer outra poderia ser.
E a vida deles segue. Preparando crianças para ir a escola, vestindo casacos roubados de mulheres judias. Brincando com cachorros e falando sobre flores, enquanto ouvimos pessoas sendo executadas ao fundo.
Numa cena, o protagonista aparece bravo após alguém destruir um arbusto de flores. Em outra, ele para na rua, pra brincar com um lindo cachorrinho. A constante lembrança da desumanização. Uma flor, mais importante que milhares de pessoas. Uma linda casa com piscina, fazendo com que o fato de que milhões estão sendo dizimados não importe.
Definitivamente, esse é um filme que vai ser lembrado pela coragem de mostrar, que no final, os monstros muitas vezes são só... pessoas.
NOTA: 10/10