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Festival de Berlim 2024 | Reas

 

Por Victoria Hope

Em Reas, um documentário musical de Lola Arias, Yoseli tem uma tatuagem da Torre Eiffel nas costas e sempre quis viajar, mas foi presa no aeroporto por tráfico de drogas. Nacho é um homem trans que foi preso por fraude e fundou uma banda de rock na prisão. Gentis ou rudes, loiros ou barbeados, cis ou trans, presos de longa data ou recém-admitidos: neste musical híbrido, todos eles reencenam suas vidas em uma prisão de Buenos Aires.

Ao mesmo tempo que o filme é experimental, ele também tem uma doçura que acalenta enquanto acompanhamos a realidade e o dia a dia das pessoas que vivem na prisão. Aos poucos, conhecemos as dores e alegrias de cada personagem e tentamos entender quais foram os caminhos que os levaram até lá. 

O aspecto musical é de longe uma das experiências mais criativas do longa, que não busca a redenção plena de seus personagens, mas sim mostrar a realidade de cada um com diferentes olhos. Das incríveis batalhas de voguing às atividades da banda formada pelos encarcerados, somos desafiados a pensar como funciona esse sistema e também entendemos a importância da arte e da cultura na vida das pessoas, para que as pessoas não enlouqueçam, seja de tristeza ou solidão.

Reas / Foto: Berlinale

A história de amor entre Yoseli e Nacho é um típico conto de fadas às avessas, mas tão linda quanto qualquer outra. Todos vão reconhecer as personagens como pessoas que já passaram por suas vidas em algum momento ou como pessoas desconhecidas que você talvez já tenha ouvido falar alguma vez, o que torna todo o processo ainda mais intimista e acessível. 

Ao final do longa, me veio em mente um trecho de uma das canções mais belas da música popular brasileira, onde Elis Regina diz: 'Viver é melhor que sonhar'. Entende-se por isso que é mais gratificante experimentar a vida real do que apenas imaginar ou desejar coisas no presente e é isso que as personagens de Reas aprendem ao longo do filme. 

Seus sonhos, por mais distantes que pareçam ser, podem estar à um passo. Elas não podem ir à praia nesse momento, mas por quê não trazer à praia até elas, então? Elas podem não estar em tocando nos maiores festivais de música internacionais, mas estão lá na prisão, com sua própria banda, proporcionando momentos de alegria para todos ao seu redor. 

NOTA: 8.5/10 

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