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[Entrevista] Anthony Schatteman fala sobre o romance coming of age Young Hearts

 

Por Victoria Hope

No romance teen 'Young Hearts' que teve sua estreia no Festival de Berlim desse ano, o jovem Elias (Lou Goossens) se apaixona por seu novo vizinho, o belo Alexandre (Marius De Saeger), e começa a ignorar Valérie (Saar Rogiers). A insuportável pressão que o Elias sente, principalmente por sofrer bullying de alunos mais velhos da escola acaba entrando na frente desse relacionamento e aos poucos, ambos os garotos vão ter que descobrir como assumir o relacionamento e encontrar mais aceitação ao seu redor.

O filme é um romance queer para todos os públicos, trazendo o florescimento de histórias de amor queer com uma perspectiva mais positiva e otimista, o que é mais raro em longas que abordam a temática. É raro quando o tema não mostra uma história trágica, mas ao mesmo tempo, Young Hearts não deixa de tocar em temas como homofobia internalizada e obstáculos que todo adolescente pode encontrar pelo caminho.

Durante o Festival, nossa equipe teve a chance de bater um papo com Anthony Schatteman, o diretor do filme que contou um pouco sobre como foi fazer esse projeto, a importância da representatividade nos cinemas e como é ter sua estreia em um dos maiores festivais de cinema da europa. 



Amélie: O Brasil tem uma grande comunidade LGBTQIAP+ e muitos adorariam ter crescido com uma representatividade assim como a de Young Hearts nos cinemas

Anthony: Essa foi minha intenção (risos), eu também queria ter tido essa representação. Não necessariamente para fazer um filme para gays apenas, mas sim para mostrar a todos, até mesmo adultos, que nos dias de hoje, essa história pode ser contada de uma forma positiva, porque é claro, crescemos com histórias coming of age, mas nós sempre vimos apenas uma perspectiva fora do romance e eu não me lembro de ter visto algo assim. Eu queria ver meu grande público reagindo a essa história.

Claro, existem filmes como Me Chame Pelo Seu Nome, que obviamente, não é para todas as idades, então eu realmente queria contar uma história que todo mundo, independente da idade, pudesse assistir. E no fim é tudo sobre o amor, essa é uma história de amor independente de ser uma história gay. Todos já se apaixonaram alguma vez na vida.

Mesmo pessoas que não são queer, em algum momento já se sentiram solitárias, como 'excluídos' e é por isso que eu quis fazer. Eu queria mostrar que independente de tudo, você não está sozinho e que se você alguma vez falar sobre sentimentos e alguém ir até você e te fazer sentir seguro para falar sobre isso, então você pode ser quem você quer ser. 

Amélie: E como foi o processo de escolha do elenco? Principalmente porque estamos falado de um elenco mirim incrível!

Anthony: Nós começamos fazendo testes  abertos entre pessoas de todas as culturas e de idades entre 11 a 18 anos, porque eu não sabia que idades eu estava procurando. Eu tinha escrito idades de 14 e 15 anos antes, mas alguns adolescentes de 15 anos já eram muito maduros (para o papel) e os de 11 anos eram muito infantis e muito novos, mas não buscamos exatamente por uma idade nesse processo, só buscamos pelos garotos certos.

Primeiro encontramos Alexander com Marius, que interpreta Alexander e quando eu o vi, eu sabia que ele era o Alexander, porque ele também é de Bruxelas, ele fala duas línguas e ele não tem medo de nada, ele pinta as unhas, ele é tão incrível! E aí tivemos que encontrar alguém que equiparasse à ele, então buscamos por quem seria Elias e o encontramos semanas depois e nós vimos que ele tinha aquela química, então sabíamos que ele seria nossa escolha, então eles formaram a dupla certa. 

Amélie: Como diretor, você poderia nos contar três filmes que mudaram a sua vida e o inspiraram a se tornar um diretor?

Anthony: Bom, eu cresci nos anos 90 com muitos filmes incríveis, mas os que mudaram minha vida são alguns. Me lembro até hoje da primeira vez que assisti Titanic nos cinemas e ele mudou minha vida porque assim que assisti, eu sabia que era isso que eu queria fazer com minha vida, dirigir filmes. Esse filme me fez sonhar sobre quem eu queria ser.

Filmes como Pânico também mudaram minha vida, afinal sou muito fã do trabalho de Wes Craven e também, outros projetos que me inspiraram enquanto eu crescia, foram os filmes da Disney. Eu era um grande fã na infância, adorava A Bela e a Fera, Aladdin, A Pequena Sereia. 

Muitas coisas aconteceram: Primeiro foi Titanic, depois Disney e aí, Brokeback Mountain aconteceu e quando eu vi Brokeback pela primeira vez, uma história gay que foi tão importante e que chamou tanta atenção mundial, foi a partir daí que eu entendi a importância de histórias assim serem contadas. 

Amélie: Qual foi a sua cena favorita durante o processo de filmagem de Young Hearts?

Anthony: Eu tenho muitas cenas favoritas do filme, mas a mais engraçada foi a cena com os porquinhos, porque eu queria um animal fofinho, então pensamos em porquinhos, mas aí talvez fosse difícil de conseguirmos, então pensamos em pintinhos, mas no fim ficamos com a ideia dos porcos mesmo e foi muito engraçado porque todo mundo da equipe estava segurando um porquinho no colo (risos), para que eles ficassem calmos e relaxados antes das cenas, mas assim que começamos a gravar, esses porquinhos começaram a fazer muito barulho.

E os dois atores estavam rindo tanto que eles não conseguiam parar de rir então foi quase impossível de gravar naquele dia, mas foi ao mesmo tempo tão bom ver aquelas crianças se divertindo com os porquinhos! Tem também uma cena no filme também que faz referência à minha própria juventude que foi um dos momentos mais importantes, pois foi exatamente no dia em que eu cheguei ao set e de repente vi aquele cenário que era exatamente como o lugar que eu cresci, com a casa de amigos que cresci, com a família também e foi incrível ver esse cenário tão familiar, ganhar vida de novo, mostrando como eu gostaria que tudo tivesse sido, então foi algo maravilhoso de ver. 

Foi uma experiência incrível poder passar pelos sets, acompanhar as filmagens, ver que todos os extras do elenco eram pessoas do meu próprio vilarejo, isso foi muito legal. 


Young Hearts / Foto: Berlinale

Amélie: E como é estar no Festival de Berlim? Você teve a oportunidade de acompanhar a reação do público durante a premiere?

Anthony: Sim, eu estava sentado ao lado do meu pai, minha mãe e meu irmão. Para mim era muito importante que eles vissem esse filme, porque eles não viram o screener antes, então eu queria ver qual seria a reação deles. Eu também trouxe uns trinta amigos e ver aquela sala enorme e lotada de gente foi algo surreal, foi maior do que eu esperava, tinham muitas pessoas dinamarquesas também. 

Eu já morei em Berlin, então foi muito especial estar lá para ver, principalmente porque essa foi a cidade onde eu experimentei a liberdade pela primeira vez assim como Elias no filme e isso de uma forma abriu meus olhos, então estar aqui nessa cidade para a premiere, foi muito importante.

A premiere foi quase como meu dia de casamento (risos), na cidade que eu amo, ao lado de todos os amigos e da minha família que amo também, e ver meu irmão chorar me impactou muito, porque essa foi a primeira vez que eu o vi chorar; ele sempre foi muito 'machão', que não demonstrava muito o que sentia, nós nunca conversávamos sobre sentimentos, então vê-lo chorar foi um choque. Eu até zuei ele depois disso e ele falou que não estava chorando (risos).

Na cena do filme depois do beijo entre os dois protagonistas, onde Elias abraça o pai, eu dei um forte abraço no meu e eu fico até emocionado em falar sobre isso e nós temos fotos desses momentos em família e isso vai ficar guardado pra todos nós na memória para sempre.

Amélie: Como diretor, existe um projeto dos sonhos que você adoraria dirigir?

Anthony: Meu maior sonho é fazer a sequência ou remake de Moulin Rouge. E é claro, quero contar minhas próprias histórias. Isso seria incrível se pudesse acontecer. Crescendo vendo esses filmes incríveis, é claro que acho que seria muito legal poder ter a chance de contar essas histórias na telona.

Amélie: Pensando na temática de Young Hearts, se você pudesse mandar uma mensagem ao jovem Anthony e dizer para ele como você se tornou um diretor hoje, qual seria? 

Anthony: Eu diria que se você contar histórias que tem no coração e sobre coisas que você conhece e com emoções que você conhece e se você tiver a chance de seguir seu coração, você vai poder alcançar o que quiser. Nenhum sonho é grande demais se você acreditar que pode.

Amélie: Qual lição de vida o público do Festival poderá levar para a vida com Young Hearts?

Anthony: A mensagem é que quando você encontra o amor verdadeiro, é muito difícil jogar fora. Siga menos seu 'chapéu' e siga mais seu coração. Eu aprendi na vida que você não precisa pensar demais nas coisas, siga o que você sente, isso é a coisa mais importante. Eu espero que as crianças vejam meu filme e saibam que elas podem pular os obstáculos e se tornarem quem elas querem ser. 

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