Por Victoria Hope
Ritmos da Alma e da Resistência
'La 42" é um filme hipnotizante de José Maria Cabral, que nos transporta para o coração pulsante da Rua 42 em Capotillo, um microcosmo da vida afrolatina, repleto de dança, música e sonhos esmagados. A trama segue a vida entrelaçada de três personagens principais, cada um personificando diferentes aspectos da busca por fama e reconhecimento em um ambiente marcado pela opressão e vulnerabilidade.
O filme captura com maestria a aura caribenha com todas as suas nuances e pluraridades. O filme não se esquiva das alegrias e das tristezas, da beleza e do assustador, da esperança e do desespero. Ele retrata a vida como ela é, com seus momentos de êxtase e seus momentos de dor. A questão das drogas e da vulnerabilidade social são abordadas com honestidade e sem julgamentos, expondo a realidade de muitos que vivem à margem da sociedade.
A noite das ruas ganha vida em "La 42", com festas são vibrantes, completamente caóticas, embaladas por uma música contagiante, fazendo a dança dos personagens florescer. É fascinante observar como a dança se torna uma forma de resistência, de celebração e de conexão para esses artistas. Ela é a linguagem que transcende as barreiras sociais e econômicas, permitindo que eles se expressem livremente e compartilhem sua paixão com o mundo.
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La 42 (42nd Street) / Foto: Prodigy |
Embora o filme passe rapidamente pelo tema do tráfico de drogas e pela cena do crime que assola Capotillo, este funciona mais como um pano de fundo para a trama principal. A breve incursão nesse submundo serve para ilustrar a vulnerabilidade dos personagens, por conta do local em que vivem, no entanto, o foco principal do documentário permanece na conexão profunda que os une à arte e na forma como essa conexão pode ser a chave para futuros promissores.
É incrível como cada detalhe é minucioso nesse filme lembra da nossa cultura latina aqui do Brasil, desde os sapatos atirados nos fios de eletricidade das ruas ao ritmo frenético e as tragédias, mas também como o povo, em meio a dor consegue perseverar e seguir em frente, afinal não há escolha. Muitos ainda vão lutar para perseverar e para evitar as tentativas de gentrificação do local.
NOTA: 8.5/10