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SXSW 2024 | Entrevista com Anu Valia, a diretora de We Strangers

 

Por Victoria Hope

Do drama existencial moderno 'We Strangers', Rayelle Martin (Kirby Howell-Baptiste), trabalha como faxineira comercial em Gary, Indiana. Ela é travessa, brincalhona e hábil em se adaptar ao ambiente. Um dia, enquanto estava no trabalho, Ray é abordado pelo Dr. Neeraj Patel, um terapeuta que a contrata para trabalhar como governanta. Quem vai dizer não ao dinheiro extra? Não, Ray.

Anu Valia, a diretora do filme, é uma escritora/diretora cujas raízes estão na Índia e em Indiana. Os créditos de direção de TV de Anu incluem o piloto de "The Big Door Prize" da Apple TV, "She-Hulk", "The Afterparty", "And Just Like That", "Shrill" e "Never Have I Ever". Seu curta-metragem, "Lucia, Before and After" ganhou o Short Film US Fiction Award no Sundance e foi exibido no SXSW e nós tivemos oportunidade de bater um papo com a diretora e falar sobre esse belíssimo drama que terá sua estria no Festival SXSW desse ano.

Para a diretora, o ponto principal do filme é criar esse sentimento que ela já sentiu uma vez na vida, mesmo com ela sendo muito diferente de Ray, a protagonista, afinal, Ray é observadora, mas não necessariamente passiva, principalmente pela personagem ser tão sincera quando está desconfortável em algum momento ou quando ela fala o que pensa. 

Essencialmente, We Strangers é um filme sobre ser si mesmo, é sobre o peso que muitas pessoas de diferentes backgrounds, sente certa pressão em agir de certa forma, uma vez que as pessoas como indivíduos cedem a essa pressão, mas que eventualmente, conseguem se liberar disso. 



Amélie: Como foi o processo de casting e como foi trabalhar com Kirby Howell-Baptiste? 

Anu: Sabe, no fim, o filme é sobre os atores. Esse elenco entendeu o filme tão bem. Todas as pessoas entenderam e eu realmente só poderia trabalhar com pessoas que entendessem esse filme verdadeiramente e Kirby, nós nos tornamos amigas depois. 

Há anos atrás, ela havia lido apenas um rascunho do que seria o roteiro e depois de um tempo, quando começamos as filmagens, eu pensei: 'Nossa, ela poderia ter escrito isso!', porque ela entendeu tanto a personagem e trouxe tanto de características dela mesma para esse papel. Ela estava atuando, mas ela doou tanto dela, que ela poderia ter dirigido esse filme.

Ela sabia exatamente onde esse filme deveria ir e tudo foi feito de forma tão boa. Tive muita sorte em trabalhar com Kirby. 

Ela inclusive se mudou para perto de onde eu estava e ela mesma também já trabalhou temporariamente como faxineira por um tempo, então, não necessariamente isso adiciona mais experiência ao papel, mas tipo, você precisa fazer o trabalho e ela achava isso algo meditativo, então funcionou demais para a personagem. Foi algo lindo de ver, é um presente para a audiência ver um filme e um presente para os atores que interpretam.

Amélie: Três filmes que a inspiraram a ser diretora.

Anu: Eu vou falar de filmes que me inspiraram, mas primeiro, quero falar sobre um que me inspirou a escrever esse aqui especificamente, claro que não é um 1:1, mas foi com certeza 'A Mulher sem Cabeça' de Lucrecia Martel, um filme de 2008, um filme incrivelmente interno. Você acompanha essa mulher viajando pelo mundo e o filme traz essa atmosfera interna perfeita, de forma tão bela, então essa foi uma das inspirações. 

Aí um filme que estávamos assistindo outro filme durante o processo de edição desse, que foi 'Retour à Séoul', que também é a história de uma mulher passando por muitas mudanças e eu amo como esse filme é estruturado. Crescendo, meu pai sempre me mostrou filmes internacionais e eu cresci assistindo esses filmes, então títulos como 'Morangos Silvestres', me marcaram demais, foram tão seminais para mim. É um filme sobre vida e morte, essencialmente.  

Meu pai também me mostrava filmes de Fellini e não era para ser prepotente sobre isso, era pra mostrar 'olha só, ele escreve poemas e poesias'. Eu adoro temas contemplativos e que exploram nosso propósito do mundo, então tudo o que eu escrevo é pensando sobre isso. We Strangers é sobre assimilação e o que a assimilação tira de você e também estou escrevendo um novo projeto que mostra nossa relação com nossos ancestrais e a natureza dos romances entre outros temas relacionados.

Mas para falar sobre terceiro filme mesmo, eu tive uma época em que estava fissurada em Lars Von Trier na época do colegial, me lembro que assisti dançando no escuro e aquele filme me destruiu por completo. E me fez pensar 'nossa, esse filme é tão emocionante que faz você se relacionar com o personagem e tipo, quem não ama estar completamente mergulhado nesses personagens? 

Amélie:  E como é estar no SXSW como diretora pela primeira vez?

Anu: A parte que eu mais amo de festivais é assistir muitos filmes, então estou muito animada. A parte mais legal de estar numa sala de cinema é perceber as pessoas ao seu redor e sentir aquela energia e ver que todos estão lá para focar em uma coisa. É aquela energia de sair da sala de cinema completamente mudado, transformado e ficar pensando sobre esse filme assim que você deixa o cinema, quando você só quer falar sobre isso. 

Estar no SXSW, é muito bom, mas eu não tinha parado pra pensar muito nisso, mas agora, a realização de que o filme estará disponível para o mundo inteiro ver e ter a chance de ver meu filme em um festival que verdadeiramente apoia o cinema independente e que incentiva pessoas com jeitos únicos de contar histórias, é realmente muito bom. Sou muito grata por esse filme ter essa possibilidade de ser assistido e sentido pelo público. É tão diferente de quando você assiste algo no computador, é difícil mergulhar, então eu peço à audiência, se entregue a esse momento quando estiver no cinema.

Amélie: Se você pudesse mandar uma recado para a jovem Anu e dizer para ela que agora ela é uma diretora e que vai ter uma estreia num dos maiores festivais de cinema dos EUA, qual seria essa mensagem? 

Anu: Que pergunta mais linda! Acho que ela diria: 'Nossa, demorou, hein?' (risos), mas brincadeiras à parte, acho que esse sempre foi o sonho. Acho que eu diria pra ela que a verdadeira recompensa, é que se você realmente amar arte, pegue a oportunidade de criar mais arte. Pessoalmente, os melhores momentos para mim são estar no set de filmagens; eu choro, eu fico animada, é tão bonito. Quando você edita um projeto e é algo mágico, então eu imagino que eu criança me emocionaria em estar vivendo meu sonho.

Eu diria para ela aprender absolutamente todos os detalhes e aspectos necessários para se fazer um filme, porque até hoje, isso é algo que estou constantemente estudando e eu acho que para a 'eu' de agora, estou mais animada em saber e ouvir o que vocês, expectadores sentem sobre o filme e o que acham desse projeto. É sobre conexão no fim das contas. 




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