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SXSW 2024 | Entrevista com Helena Stefansdottir, diretora do intenso thriller familiar Natatorium

 

Por Victoria Hope

Natatorium de Helena Stefánsdottir é um thriller psicológico que acompanha a visita de Lilja, de 18 anos, à casa dos avós, os quais não vê há muito tempo, para audições que acontecem na cidade. Durante sua estadia, ela começa a descobrir mistérios obscuros que residem na casa. 

Apesar dos misteriosos segredos de família e de seu pai ser contra a ideia, Lilja se sente em casa no lar dos avós, sem saber que corre risco naquele local. O filme se passa dentro das paredes de uma casa em Reykjavík ao longo de cinco dias, onde aos poucos, a audiência percebe que está lidando com uma família para lá de disfuncional. 

O filme terá sua estreia no SXSW (South by Southwest) 2024, que começa na semana que vem no Texas e nós tivemos a oportunidade de conversar com a diretora islandesa Helena sobre o filme e explorar um pouco mais sobre o universo desse intenso thriller. 


Natatorium / Foto: SXSW

Amélie: Qual foi a sua inspiração para a contar a história de Natatatorium? 

Helena: Foram tantas coisas, porque levei tanto tempo escrevendo esse roteiro, mas no começo eu tinha uma ideia de meio irmãos que gostavam um do outro e tinham uma relação sexual entre eles, mas eles são irmãos então obviamente, nunca poderiam ser um casal. 

Então enquanto eu estava escrevendo o roteiro final, sempre senti que teria uma grande história sobre família disfuncional por trás disso. Eu visualizei esse grande jantar familiar, onde todos deveriam estar celebrando, mas na verdade todos em volta da mesa estão sofrendo e você, que está assistindo, sente essa tensão no ar. A cena é linda, mas você pode sentir a tensão no ar.

Foi assim que aconteceu, coloquei os irmãos lá e a assim a trama fluiu. Uma vez li uma história sobre um homem que tinha fetiche por ser afogado, ou seja, asfixia, e isso me inspirou, me deixou muito interessada sobre o assunto e aí peguei essa trama e coloquei na história. Aí pensei: 'Uma pessoa sozinha não pode fazer isso, alguém tem que fazer por ela', então foi aí que surgiu a ideia de colocar a avó para fazer isso e por aí vai.

Amélie: E em que local foram feitas as filmagens. Apenas na Islândia ou em diversas cidades?

Helena: Apenas em Reykjavík, mas tínhamos uma equipe inteira finlandesa por trás da produção do filme e o longa em si foi editado em Helsinki.

Amélie: Como foi o processo de casting da família?

Helena: Tive ajuda de uma agência para escolha de alguns personagens específicos, mas a vó, por exemplo, eu encontrei na internet. Procurei pessoas com traços familiares  e semelhantes para formar o núcleo da família. 

Mas do meu lado, o processo é um pouco diferente, porque eu não vejo audições, para mim, o mais importante era olhar nos olhos de cada um dos atores e ver se eles eram generosos, humildes e aí um laço era criado entre nós, foi assim que escolhi o elenco, mas também, é claro que o lado físico era importante, porque eles precisavam parecer fazer parte da mesma família, então ficamos um pouco restritos. 

Amélie: Todos nós sabemos de histórias de famílias tóxicas e avós tóxicas. Para você, falar sobre famílias disfuncionais era um ponto importante pelo que vimos. Com isso em mente, o que poderia falar sobre a personagem Árora, avó e matriarca da família.

Helena: Quando eu percebi que ela precisava ter Munchaüsen, que é uma síndrome que faz com que as mães mantenham os filhos, principalmente crianças, doentes para receber reconhecimento e respeito dos outros. Obviamente comecei a ler mais sobre isso e hoje sei praticamente tudo sobre a síndrome.

E aí quando comecei a trabalhar com os atores, nós começamos a pesquisar juntos, porque para mim é extremamente importante não dizer ao ator algo do tipo 'agora você tem Munchaüsen, então você agora irá atuar como alguém que tem essa síndrome.' Por que nós vemos as pessoas de forma diferente do que elas mesmas se veem.

Nos aprofundamos para saber o que essa pessoa sentiria e descobrimos em nossas pesquisas que claramente quase todas foram vítimas de abuso e são todas são muito traumatizadas, que as afeta no futuro e a forma que elas encontram para sobreviver, é fazendo justamente isso, escolhendo alguém para cuidar. É claro que visto de fora, é um comportamento vil e violento com as crianças, mas se você enxerga o que fez a pessoa fazer isso, você até cria uma certa empatia e percebe que todos nós somos humanos, independente de tudo.


Natatorium / Foto: SXSW

Amélie: Tem uma memória durante o processo de filmagem que você vai levar para a vida?

Helena: Meus dias favoritos foram as filmagens da cena do jantar, porque essa era a minha intenção desde o começo e a cena se saiu exatamente como eu imaginava e isso me deixou muito feliz e satisfeita e eu também tinha quase todo o elenco nessas cenas e eu amo tanto todo o elenco, então era tão bom estar e trabalhar com eles.

Depois foi a cena da mãe banhando o filho, porque essa cena é tão reminiscente e me lembra Maria lavando Jesus, dava pra sentir uma aura divina, como se eu estava fazendo uma pintura religiosa e com o movimento das paredes, não sabíamos que era possível fazer e aquele reflexo não tem CGI, foi uma iluminação que surgiu naturalmente com a luz refletida, foi incrível.

Amélie: E como é fazer parte do lineup do SXSW desse ano? Você já esteve no festival?

Helena: Estou muito animada" Essa é a minha primeira vez lá, eu nunca fui para o Texas antes e o lineup de filmes é muito incrível! Eu queria poder ficar mais tempo lá para poder assistir todos os filmes em cartaz (risos). 

Amélie: Três palavras que definem Natatorium? 

Helena: A primeira seria 'Belo', em seguida, denso e depois... Sombrio. Mas também tem uma quarta palavra, impressionante, eu diria! 

Amélie: Como diretora, você tem algum projeto dos sonhos que adoraria trabalhar no futuro?

Helena: Sim, claro! Eu adoraria trabalhar com o roteiro de outra pessoa. Eu quero muito me desafiar, então no próximo projeto, dirigir o roteiro de alguém criativo, seja de qualquer lugar do mundo. Será que tem alguém aí no mundo com um roteiro legal para eu adaptar, apareça por favor (risos). 


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