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Coletiva | Benoît Delepíne fala sobre longa 'Apagar o Histórico' no Festival Varilux de Cinema Francês

 

Por Victoria Hope

E vamos para mais um sucesso do cinema francês, vencedor do Urso de Prata na última edição do Festival de Berlin, 'Apagar o Histórico', do diretor Benoît Delépine. O compõe a lista de títulos que marcam o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano. 

Na trama, em um loteamento no interior da França, três vizinhos se descobrem vítimas das novas tecnologias e redes sociais. Marie é alvo de chantagem devido a um vídeo de conteúdo sexual; Bertrand vê a filha ser objeto de bullying na escola e Christine, motorista de carros de aluguel, se mostra inconformada ao constatar que as notas dadas por seus clientes se recusam a melhorar. Juntos, decidem declarar guerra aos gigantes da internet. Uma batalha perdida de antemão.

Durante a coletiva que aconteceu nessa terça (25), o diretor  e comediante Benoît Delépine falou sobre distanciamento social, a influência das redes sociais e sobre a produção do longa premiado.

Benoît Delepíne durante a coletiva virtual

Benoît: (Nessa pandemia) Com as pessoas confinadas em casa, a gente pode imaginar o que teria acontecido, ou se a gente fosse condenado a assistir a televisão. Talvez teria sido mais complexo. Isso ajudou muita gente a segurar a onde e vai de encontro com nosso filme.

Entrevistadora: Isso é a mesma coisa para você?

Benoît:  Eu acredito que a Netflix nunca se deu tão bem, assim como a Amazon também. Acho que isso (isolamento), aumentou a bolsa para eles, mas isso nos colocou numa situação de solidão ainda mais exacerbada, e talvez após sairmos desse período, talvez vamos querer ficar mais juntos que antes, eu espero.

Entrevistadora: O filme corresponde à um desabafo pessoal ou um desabafo e crítica sobre o mundo?

Benoît: É um pouco das duas coisas. Nós gostamos de fazer filme contemporâneos, nós temos um olhar sobre a sociedade. Nosso 10º filme e toda vez a gente tenta falar o que acontece, mais focando a classe média, mais no campo da França, mas são muitas vezes, contextos que podem ser universalizados. 

Benoît: Nós falamos há algum tempo em um filme, sobre as áreas comerciais e dessa vez, a gente queria falar sobre as redes sociais e falar desses heróis que moram nesses conjuntos habitacionais. Por isso a gente tinha essa vontade de observar essa sociedade, mas ao mesmo tempo, é uma vingança pessoal (risos). A gente teve tanta dificuldade com essas redes sociais. 

Benoît: A gente queria desabafar nossas dificuldades e rir um pouco, além de se vingar um pouco dos americanos (risos).

Entrevistadora: Agora que você falou de irritar dos americanos, gostei muito (risos). Tem um momento que não sabemos se foi improvisação com a Blanche ou se foi filmado. Foi feita de que forma essa cena?

Cena de "Apagar o Histórico" / Bonfilm


Benoît: Vou te falar o truque. A gente sabia que não poderia filmar nos Estados Unidos, mesmo porque chegando lá, a gente teria que encarar processos, então não tínhamos essa possibilidade. Então como 'covardes", nós pedimos para o nosso assistente fazer o trajeto da nossa heroína, Blanche. Ele fez uma confusão lá, foi expulso, mas ele filmou com o celular. Então a gente teve que reconstituir o que ele fez, misturando imagens da Blanche. 

Entrevistadora: Nossa, parabéns, porque eu realmente acreditei (risos).

Benoît: Eu espero que sejamos selecionados, tem um festival em São Francisco em abril, espero que possamos ir e vamos mostrar pra eles. Será muito engraçado.

Entrevistadora: Qual foi a principal dificuldade que vocês tiveram em fazer esse filme?

Benoît: Na verdade aconteceu tudo muito bem. A sorte estava com a gente, tanto com os atores quanto com a filmagem em si, a filmagem na ilha Maurice, foi muito bom. A gente teve algumas dificuldades depois em representar alguns personagens, por conta dos advogados deles. Nossos heróis tem máscaras e a gente usou máscara, como os Anonymous, que pra nós os representavam, um símbolo de uma certa anarquia, só que essa máscara vem de um quadrinho e o autor Frank Miller estava de acordo para a gente usar, só que os estúdios Universal, tiveram um filme, que usava a mesma simbologia, aí a gente teve que tirar imagem por imagem dessas cenas do filme, o que nos custou muito dinheiro.

Entrevistadora: Como você acredita que a gente possa ter um uso mais positivo das redes? Tendo em vista que elas possuem métricas que aumentam o vício digital, o afastamento, e muitas vezes, o ódio? Como estimular a coletividade e união por meio das mesmas ferramentas?

Benoît: Na verdade, teria que pegar só as partes boas dessa ferramenta. Ela é uma ferramenta tão extraordinária, é tanta cultura à sua disposição, em um pequeno retângulo. Eu sou sobretudo, roteirista, eu escrevo também para um programa de televisão, mas é incrível poder ter informações imediatas no segundo que você precisa, sobre um elemento específico. 

Benoît: Antes eu teria que ter ido à uma biblioteca. É claro que nesse aspecto, isso é uma forma de progresso incrível, é genial, agora, tem o lado de ser 'gótico' demais, muito focado em si mesmo, para de dar sua opinião em tudo e julgar as coisas, isso é uma espécie de 'dita' liberdade, mas que muitas vezes são inteligências artificiais, né? Que nos classificam, que nos mostram produtos que temos interesses. Isso nos torna previsíveis, então, sejamos imprevisíveis!

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