Por Victoria Hope
Memórias de Paris de Alice Winocour é talvez um dos filmes mais relevantes para o momento mundial que estamos vivendo nesse exato momento, então a estreia dele no Festival Varilux desse ano, que terminou nessa quarta (22), foi muito bem vinda.
A trama se passa em um dos momentos da vida real que marcou para sempre a vida dos franceses há alguns anos. Para quem não se lembra, No dia 13 de novembro de 2015, Paris foi abalada por uma série de ataques terroristas coordenados e a boate Bataclan foi o alvo mais proeminente, mas vários restaurantes também foram vítimas e nesse caso, a diretora Alice Winocour foi diretamente afetada por esses acontecimentos, pois seu irmão sobreviveu à explosão do Bataclan.
O filme é baseado em um ataque fictício a um restaurante chamado “L’Etoile d’Or” por homens armados naquela noite fatídica. A trama acompanha Mia (Virginie Efira), que estava jantando sozinha quando o ataque começou. Seu parceiro, que é médico, estava no hospital enquanto isso, sem saber que Mia estava em perigo e nesse meio tempo, vemos ela tentando se proteger do ataque e é impossível não sentir o coração vir à boca.
O que aconteceu no restaurante antes e durante o ataque assombra Mia por um bom tempo, afinal, o que ela passou foi um verdadeiro pesadelo que ninguém deveria passar e só de pensar que isso aconteceu na vida real com o Bataclan e outros locais, faz um frio correr pela espinha.
Memórias de Paris/ Foto: Divulgação |
Após alguns meses tentando lidar com o trauma em um grupo de autoajuda de sobreviventes, todos se reúnem no reformado “L’Etoile d’Or”, mas será que ela realmente está pronta para encarar aquele local que quase acabou com sua vida e a vida de centenas de pessoas? Entre os sobreviventes está Thomas (Benoit Magimel), um financista que comemorava seu aniversário naquela noite fatídica e rapidamente os dois personagens começam um relacionamento.
Mesmo com a situação tensa que passou no passado, quem está na mente de Mia um imigrante africano (Amadou Mbow) que segurou a sua mão antes dela desmaiar durante o ataque e esse é o único conforto que ela teve naquele dia, então decidida, ela, com ajuda de Thomas, se reúnem para encontrar o rapaz que a confortou e o que encontram é um dilema que abrange a Paris do direito dos brancos europeus e dos imigrantes negros no país.
Apesar do filme abordar temas e subtramas demais, Winocour fez uma trama que acerta ao mostrar um pouco da dor constante, tanto física quanto mental, que um ataque terrorista cria nas vítimas. O uso frequente de flashbacks do que aconteceu no restaurante antes e durante o ataque dá uma ideia de como os acontecimentos traumáticos assombram a existência de Mia, mas ao mesmo tempo, o filme examina como a protagonista lida com essa temática e se cura gradativamente,
Memórias de Paris não é um documentário em termos de representar a dor que um ataque terrorista pode causar, mas é uma visão perspicaz, cuidadosa e sensível sobre um ataque terrorista, focando nas dores de seus sobreviventes e em quem 'consegue se curar' e quem precisa seguir em frente por não ter escolha e isso é um grande acerto.
NOTA: 9/10