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Uma conversa com Anne Novion sobre O Desafio de Margueritte

 

Por Victoria Hope

A 14ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês começa oficialmente neste quinta (9), mas já conta com alguns filmes sendo exibidos em diferentes salas de cinemas por todo o Brasil e um dos aguardados filmes em cartaz é 'O Desafio de Margueritte', que teve sua estreia no Festival de Cannes desse ano.

Na história, conhecemos Marguerite (Ella Rumpf), uma jovem e brilhante matemática que é a única garota na sua turma da faculdade. Totalmente dedicada à matemática, Marguerite vê todos os seus esforços desabarem quando descobre um erro em sua tese. Ela decide, então, abandonar a faculdade, esquecer de vez a matemática e começar uma nova vida. Descobrindo novas amizades, paixões e experiências, Marguerite não espera, mas é exatamente graças à nova fase que conseguirá achar a solução de seu teorema.

Durante o Festival Varilux de Cinema desse ano, nossa equipe teve a oportunidade de entrevistas a brilhante diretora Anne Novion sobre o longa e sobre o que o público pode esperar do filme, que também vai estar em cartaz nos cinemas nacionais durante o festival até dia 22 de novembro.

O Desafio de Margueritte / Foto: Festival Varilux, divulgação

Amélie: 'Trocar' ou mudar de sonhos é algo que em algum momento acontece na vida e Marguetitte parece estar passando por esse momento no filme. Poderia falar sobre isso?

Anne: Não acho que Margueritte troca de sonho, pelo contrário, o filme mostra a que ponto uma derrota pode ser virtuosa. Graças a essa derrota ela vai se descobrindo e eventualmente, ela vai achar seu lugar e crescer. Enquanto mulher e enquanto matemática.

Amélie: Como foi o processo de casting para escolher a protagonista Margueritte?

Anne: Eu tinha uma versão antiga do roteiro e vi muitas atrizes, mas em nenhuma eu encontrava a minha 'Margueritte', aí eu percebi que tinha algo errado, que não batia e que algo não funcionava, então eu reescrevi o roteiro e nessa versão, acompanhei o teste de algumas poucas atrizes, o processo foi durante o começo da pandemia, aliás e então a atriz Ella Rumpf veio até minha casa e foi a única que não fiz passar por teste. De cara eu sabia que ela era minha escolhida!

No começo, ela não tinha a aparência que eu imaginava para Margueritte, porque a atriz é muito bonita, muito integrada na sociedade, mas eu percebi um motor interno, um engajamento e uma obsessão pelo trabalho de Ella, que convinha para a personagem.

E ela também tinha outra característica, já que no humor francês, costumamos falar que existem dois graus e Ella ainda não entendia o segundo grau (risos), então é por isso que ela era perfeita para esse papel. 

Amélie: Quais são as três lições que você gostaria que o público levasse do filme para a vida?

Anne: Aprender a nunca desistir,  seguir sua paixão e não ter medo da derrota.

Amélie: É interessante pensar no lado da matemática do filme, porque se pensarmos, ainda existem poucas mulheres na área, apesar disso estar mudando e mulheres tem ganhado mais espaço. Com isso em mente, o que pensa sobre isso?

Anne: Quando comecei a me interessar por esse universo matemático, comecei a perceber que as mulheres eram uma minoria bem nítida e sinto isso também na área do cinema, apesar de que aqui a diferença não é tão dramática.

Esse problema existe e eu queria mostrar como a legitimidade poderia ser expressada através dessa personagem. 

Amélie: Falando sobre cinema, qual diretora é uma grande inspiração para você?

Anne: Várias, Agnès Varda, Jane Campion, vencedora da Palma de Ouro também por 'O Piano', inclusive ela foi a primeira mulher a vencer a categoria na premiação. Ela fala muito bem da falta de mulheres no mercado cinematográfico e ela representa muito bem esse exemplo. 

Amélie: Uma mensagem para mulheres que gostariam de trabalhar com cinema, principalmente na área de direção? 

Anne: Tenha confiança, olhe bem para onde está indo e não acredite em quem diz que não existe lugar pra você ali.


Amélie: Existe um projeto que gostaria de dirigir e uma temática que gostaria de abordar nos próximos anos? 

Anne: Sim, claro! Meu próximo filme será sobre desapropriação. Uma casa que todos querem ter, então seria uma história em torno disso. Existe uma personagem, uma mulher que terá que lutar contra o patriarcado dos homens da casa de uma maneira muito diferente.

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