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Entrevista com Bruno Chiche, diretor do sensível drama familiar francês Maestro(s)

 

Por Victoria Hope

Em 'Maestro(s)' sensível e poderoso longa de Bruno Chiche, que conta com Yvan Attal, Pierre Arditi, Miou-Miou e Caroline Anglade, acompanhamos maestro Denis Dumar  que ganhou mais um prêmio nas Victoires de la Musique Classique, evento anual de premiação de música clássica francesa. Logo em seguida, seu pai, François – um brilhante maestro de renome internacional – recebe um telefonema anunciando que foi escolhido para reger a orquestra do Teatro Scala de Milão. 

Sendo esse seu maior sonho, ambos vibram com a notícia. Porém, Denis rapidamente se desilude ao descobrir que, na verdade, ele é quem foi escolhido para ir à Milão, e não seu pai e é a partir desse momento que os conflitos começam.

Durante o Festival Varilux de Cinema Francês, o diretor Bruno Chiche conversou com a nossa equipe sobre família, música e sobre 'Maestro (s)', que está em cartaz no festival que acontece até 22 de novembro em diversos cinemas espalhados pelo Brasil!

Maestro (s) / Foto: Divulgação, Festival Varilux 2023

Amélie: Muitos filmes relacionados ao universo da música tocam no tema da obsessão e da busca pela perfeição. Como foi dirigir esse longa que permeia também o universo musical? Você acredita que Maestro (s) navega também toca nessa 'ferida'? 

Bruno: O sentido da vida para ambos pai e filho (no filme), é a música e os dois são obsessivos, então sucessivamente eles tem um conflito por conta disso. Mas a proposta na verdade não foi tanto sobre música e sim sobre uma relação entre pai e filho, em um momento onde o filho recebe uma proposta que é o sonho do pai, então essa trama poderia ter sido trabalhada de várias formas.

Ambos poderiam ser dois cirurgiões, dois atores e não necessariamente maestros, mas eu gosto muito de música clássica e no começo, o pai e o filho eram professores de história, mas eu tenho uma amiga que comentou 'Que estranha essa relação entre o pai e o filho, porque isso aconteceu com alguém da minha família e os dois são maestros!' A partir daí eu retomei o roteiro e transformei em uma história que permeava o mundo da música.  

Amélie: Falando sobre o relacionamento complicado familiar. O filho está vivendo o sonho do pai, mas como o pai se sente nessa situação? Pois como pai, ele tem orgulho, mas ao mesmo tempo, é o sonho pessoal dele. 

Bruno: Eu sou ao mesmo tempo filho e pai, então é engraçado você trazer essa questão, justamente porque o filme mostra o ponto de vista do filho. Eu penso, como pai, que posso dizer que sou artista, por exemplo e posso dizer que estou sempre com medo pelo meu filho e eu acho que o pai no filme, que é interpretado pelo Pierre Arditi, está com medo também e tem um momento que ele verbaliza isso.

Eu acho que toda essa relação complexa entre o pai e o filho no filme é o ponto central, por conta de um certo medo que o pai sente não do filho, mas pelo filho, entende? Porquê o pai sabe do que ele é capaz, mas ele não 'confia' muito no filho. Ele não sabe se o filho pode encarar essa profissão tão difícil. Tudo isso acaba em uma atitude um pouco complexa, pois ao mesmo tempo em que ele ama o filho, ele tem medo do filho fracassar, mas ao mesmo tempo, ele tem um pouco de ciúmes também, portanto eu acho que o eixo disso é o medo.

Outro fator também é que a geração desse pai, desse maestro, é diferente, pois era uma geração que costumava estudar muito, fazer estudos de música muito puxados, eram muito rigorosos, já a geração do filho é mais despojada, mais instintiva e isso o pai não gosta, ele acha que não é a maneira correta de se fazer música.

O interessante é que tem um conflito dentro de cada um. O filho está quase recusando esse papel na escala por conta do pai. Ele reflete 'será que eu devo ir? Eu não quero matar o meu pai (de desgosto)'. Então o protagonista tem esse conflito interior. E tem o conflito desse pai que quer ser o 'número um', mas o dilema maior cai mesmo sobre o filho.  O pai poderia até ter essa vontade de ver o filho realmente ter todo esse sucesso, mas ao mesmo tempo, ver o filho alcançar tudo isso marca o fim da carreira dele, porque vem nova geração, então de certa forma, ele se sente empurrado na morte.

Amélie: No começo você comentou que a vida de ambos os personagens é a música. E para você, o que é música?

Bruno: A música para mim é o tempo inteiro. Eu sou bastante angustiado como muitas pessoas nessa profissão, com certa angústia e a música me acalma, é como uma 'droga' (risos). Mas depois da filmagem, confesso que enjoei um pouco de música clássica. Aí comecei a escutar jazz e depois voltei pra música clássica (risos).

Amélie: Quais são as três lições que a audiência poderá levar para a vida com 'Maestro (s)'

Bruno: Uau...Essa pergunta é difícil. Para os jovens, acho importante gostar do que faz e fazer o que gosta. A segunda lição seria ter certeza de que está num momento da vida onde você possa sempre manter a curiosidade viva. Ser curioso nesse mundo é importante, porque perder a curiosidade é o maior risco e a terceira é beber uma boa cairpirinha (risos)!

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