Por Victoria Hope
A Pequena Sereia definitivamente foi um dos filmes mais antecipados do ano e toda a espera valeu a pena, mas é claro, apenas para aqueles que realmente estavam animados com a escalação da cantora Halle Bailey do duo ChloexHalle no papel titular. Desde o anúncio, o filme recebeu uma enxurrada de críticas feitas por fãs da Disney que criticaram sobre tudo o fato de Bailey ser uma atriz negra.
Tampouco importou para esse público o material original de Hans Christian Andersen, autor do conto, amplamente utilizado não apenas em todo material promocional do filme, como também em todas as referências em cena e muito menos importou ainda, a bela voz da protagonista, pois as principais críticas recaíram sobre ela.
É claro que o trailer inicial de A Pequena Sereia também não ajudou, pois tudo o que o público encontrou foram cenas escuríssimas, onde mal dava pra se ver, tudo isso colocado ali intencionalmente para aumentar o clima de mistério sobre o filme, mas talvez se as imagens mais vivas e coloridas do longa tivessem sido utilizadas, a recepção seria um pouco diferente.
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Lado esq; Cena oficial de A Pequena Sereia (2023) / Lado dir; Primeira ilustração da Pequena Sereia em livro de Hans Christian Andersen por Edmund Dulac (1911) |
Para a surpresa de todos, o filme não é puro breu como se pensava, muito pelo contrário, ele conta com cenas tão claras e coloridas e compostas de uma forma tão bela que chega a ser impossível desviar o olhar, principalmente em momentos como o icônico som '
Under the Sea' e até mesmo na cena clássica de Úrsula, que é praticamente uma representação exata da mesma cena da animação.
Esse ponto da semelhança com cenas do desenho, por um lado é algo positivo, já que cenas muito importantes que marcaram o clássico estão lá, mas ao mesmo tempo, o demérito é o fato de que as melhores cenas ficam por conta da reprodução quadro a quadro desses momentos da animação dos anos 90.
As canções que o público mais queria ouvir estão lá, mas para tentar manter a 'originalidade', o novo filme da Pequena Sereia traz duas novas canções, a primeira bem interessante cantada pelo Príncipe Eric, que nesse filme tem uma personalidade bem mais desenvolvida e uma nova história de origem que é muito interessante. Alguns vão achar que o ator, Jonah Hauer-King, não tem carisma algum e em alguns momentos ele realmente parece estar devaneando, mas quando o público entende que ele está sempre 'no mundo da lua', é porque assim como Ariel, ele aqui se sente um peixe fora d'água.
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A Pequena Sereia / Foto: Walt Disney Studios |
Mas nem tudo são flores, ou melhor, anêmonas marinhas, nesse novo live action. O mesmo problema quanto ao ritmo e o uso nítido de telão verde / CGI encontrado em todos os mais recentes live actions da Disney pode ser encontrado aqui, além de que os animais realmente não parecem ter vida alguma, o que é sofrível de ver, porque temos exemplos como Detetive Pikachu, onde todos os Pokemons digitalizados pareciam até ser de carne e osso.
Personagens como as irmãs de Ariel e o próprio Tritão (Javier Bardem) fazem apenas uma ponta de luxo e o grande problema está aí. As personalidades das irmãs são quase nulas; pois tirando o design ultra colorido e diferente de cada uma, parece que é a mesma atriz falando, não tem diferença fora que o Tritão, ao invés de estar estoico, mas amável, aqui está praticamente uma rocha, o que é uma interpretação no mínimo equivocada do rei do mar.
Melissa McCarthy está excelente no primeiro arco de sua aparição do filme, mas o segundo arco não faz jus a personagem e decepciona um pouco, Pessoalmente acredito que a personagem Úrsula deveria ser representada por uma drag queen, já que Divine, ícone drag dos anos 80, foi a verdadeira inspiração pra personagem e salvo referências, entendo a escolha e como os estúdios que tem feito tudo, menos tomar riscos, fariam de tudo pra evitar o boicote, mas pouco adiantou, pois o review bombing foi inevitável, já que antes mesmo da estreia, o filme estava com 1 estrela de 5 em sites como IMDB e metacritic.
Para fechar, o filme é muito bom e apesar de poder ter sido melhor, foi sem dúvidas um dos melhores live actions modernos dessa nova leva da Disney e eu, como pessoa negra, sigo feliz porque Halle é #MinhaAriel e essa é a primeira vez que me vejo verdadeiramente representada nas telas.
NOTA: 8.5/10