Navigation Menu

[Review] O Quarto Ao Lado é uma fábula sobre luto, escolhas, encontros e desencontros da vida

 

Por Victoria Hope

Em 'O Quarto Ao Lado', mais novo filme de Almodóvar que levou o Leão de Prata durante o Festival de Veneza desse ano, Ingrid, uma escritora best-seller reconecta-se com sua melhor amiga, Martha após perder contato com ela por vários anos.

Na trama, Martha (Tilda Swinton) está passando pelo tratamento de câncer e sua ex-melhor amiga do passado, a escritora Ingrid, acaba descobrindo o estado da amiga e decide visitá-la no hospital, mas o que era para ser apenas um encontro casual, transforma completamente a vida das duas personagens.

Quem já teve uma amizade muito querida no passado, onde ambas as partes se afastaram por nenhum motivo específico, mas sim porque são coisas que acontecem na vida, com certeza vai se identificar com essas duas personagens tão complexas, e ao mesmo tempo, tão simples e fáceis de entender. O filme faz um trabalho excelente em mostrar que quando amizades são verdadeiras, não importa quantos anos passem, as lembranças boas, em grande parte, continuam enraizadas.


O Quarto ao Lado / Foto: Warner Bros. 

Tilda Swinton e Juliane Moore apresentam uma química sem igual na tela, conseguindo passar aquele sentimento de pessoas que um dia já se conheceram profundamente, mas que ainda tem muito o que aprender e descobrir sobre a outra pessoa.  

Esse filme é um drama, mas não aquele drama de fazer arrancar lágrimas, mas sim aquele drama com uma boa pitada de comédia, onde rimos da dor e encaramos a realidade com uma certa ironia. A temática da eutanásia é de longe, um dos maiores tabus abordados em filmes e aqui não poderia ser diferente, mas Almodóvar consegue transmitir aqui, a temática com muito humor, mesmo que esse humor seja mórbido.

Quem conhece o trabalho do cineasta espanhol, sabe como ele nunca se esquivou de temas polêmicos e controversos e é claro que 'O Quarto 'o Lado', adaptação do livro 'O Que Você Está Enfrentando', da escritora norte-americana Sigrid Nunez (Ed. Instante, 2021), aborda mais um tema sensível e complexo sobre uma temática nada convencional, principalmente com obras centradas em mulheres e que trabalho magnífico ele faz aqui.


O Quarto ao Lado / Foto: Warner Bros. 

O Quarto ao Lado é essencialmente, um filme sobre a morte, mas também sobre a vida e sobre os pequenos momentos que fazem a existência de alguém ser especial. Todos nós somos o nosso passado, presente e futuro e Martha demonstra isso a cada instante, principalmente ao tentar provar o quanto ter escolhas sobre nossos próprios corpos e vidas, talvez seja a única forma de verdadeira liberdade que podemos ter.

Diferentemente de seus filmes anteriores, esta é a primeira vez que Almodóvar apresenta uma obra em língua inglesa e as diferenças são nítidas, principalmente quanto a entrega das falas, que funcionam bem por conta da força da natureza que são Swinton e Moore juntas, porém é quase impossível imaginar outras atrizes entregando esses trabalhos que foram entregues por ambas pelas mãos do diretor.

A morte aqui não é representada apenas como um sentimento, mas como um personagem vivo que segue cada um dos passos de um indivíduo e das pessoas ao seu redor. O tema do suicídio assistido ainda é muito discutido na vida real, mas Almodóvar não apresenta uma resposta ou sequer uma pergunta para isso; o que ele faz aqui é trazer um estudo filosófico de personagens que passam por um turbilhão de emoções: Medo, alegria, dor, amor, conforto e desconforto; é um tema complicado e as emoções humanas são complicadas e feitas para ser sentidas, é isso o que o filme aborda.

Nota: 8.5/10

0 comments: