Por Victoria Hope
"Ainda Estou Aqui" é um dos filmes mais emocionantes do ano. Começo essa crítica de forma rara, já consagrando esse como um dos longas metragens mais importantes na história do cinema brasileiro, tanto pela questão histórica e política quanto pelo trabalho impecável do elenco, incluindo Fernanda Torres, em uma performance que merece indicação ao Oscar ao lado do igualmente excelente Selton Mello e grande elenco.
Na trama adaptada do livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva e Eunice Paiva, que são os protagonistas dessa história, acompanhamos a vida do ex-deputado com sua esposa e seus vários filhos durante a chegada da ditadura no Brasil.
O filme toca numa ferida recente na história do país e vem no momento mais oportuno para nos lembrarmos de um passado que muitos tentam apagar ou fingem que nunca existiu. "Ainda Estou Aqui", é uma carta de amor à mulheres fortes como Eunice, que mesmo não tendo escolha a não ser ter força por si mesma e por seus filhos, nunca perdeu as esperanças em encontrar seu marido, que foi sequestrado e consequentemente teve sua vida tirada.
Ainda Estou Aqui / Foto: Sony Pictures |
A ambientação e a escolha da trilha sonora também são dois pontos altos do filme; é nítida a pesquisa muito bem trabalhada pela equipe de produção, levando em conta todos os cuidados que tiveram com figurinos, veículos em cena e ambientes, todos minuciosamente detalhados para que os anos 70 fossem representados da forma mais correta possível.
Uma trilha sonora envolvente amarra todas as cenas, trazendo diversas mensagens, hora subliminares hora completamente claras para que o público entendesse o que estava acontecendo naquele momento da história.
A violência não é mostrada de forma aberta, porém, esse é um filme muito forte e que usa da ambientação e dos sons para construir essa atmosfera aterradora, sombria, que faz gelar a espinha só de pensarmos que esse período aconteceu na vida real; período esse que jamais pode ser esquecido e que precisa sim ser revisitado quantas vezes necessário para que não aja revisionismo.
Ainda Estou Aqui / Foto: Sony Pictures |
É impossível assistir a esse filme sem tocar em uma história pessoal, pois minha avó, Wilma Veridiana, faleceu esse ano de demência e não apenas foi uma figura de empoderamento na família no passado, bem como sempre contou histórias desse momento obscuro da ditadura no Brasil.
Dito isso, "Ainda Estou Aqui' convida à audiência a não tratar o tema como um tabu, mas sim como uma história que precisa ser revisitada, contada de geração para geração e jamais esquecida. Esse é o tipo de filme que daqui há anos continuará sendo aclamado e que posso apenas torcer para que receba o respeito e aplausos que merece.
Mas não se engane, pois esse é um filme pesado apesar de não demonstrar violência física; é um tipo de longa metragem que faz as entranhas queimarem, os olhos ficarem marejados e o coração acelerar com a vontade de ver um mundo melhor, para que a gente não esqueça jamais de toda a luta daqueles que nos deixaram, mas que ainda assim, batalharam até o fim em prol de um Brasil melhor para todos.
Nota: 9.5/10