Ricardo dos Santos
O Superman de 1978 é um filme que marcou o cinema e as adaptações de quadrinhos, representando um grande avanço no universo do Homem de Aço e na carreira do ator que o interpretou, sendo eternizado no coração de fãs e admiradores da sétima arte como um todo. Em 17 de outubro de 2024, chega aos cinemas o primeiro documentário com a marca DC Studios: Super/Man: The Christopher Reeve Story, dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, que também são responsáveis pelo roteiro.
O documentário Super/Man é uma reconstrução histórica realizada a partir de imagens de arquivo e registros inéditos, revelando a trajetória do ator, desde seu papel definitivo como Clark Kent/Superman até seu envolvimento em diversos projetos cinematográficos.
O filme conta com entrevistas exclusivas de amigos próximos, como sua esposa Dana Reeve, seu filho Will, e os filhos Mathew e Alexandra, além de outras pessoas que participaram de momentos importantes da carreira e da vida do maior intérprete do Homem de Aço.
Super/Man: A História de Christopher Reeve / Foto: Warner Bros. Pictures |
Tecnicamente, Super/Man é um documentário muito bem elaborado, pois não se limita a seguir os elementos comuns desse tipo de produção. Mesmo quando analisado sob essa perspectiva, ainda executa de maneira muito competente os requisitos pertinentes ao gênero. No entanto, ele vai além, abraçando uma estrutura cinematográfica que parece ser não ficcional, convidando o público a explorar o lado mais afetuoso em torno de Christopher Reeve.
A figura apresentada desperta uma emoção inevitável ao longo de diversos momentos dessa jornada. Esse lado cinematográfico funciona como um excelente comparativo entre a visão mais abstrata construída sobre o ator, simbolizada por sua interpretação do Superman, e os eventos reais que impactaram sua vida, indo além do acidente, que é um marco trágico não só na história de Christopher, mas de toda a família Reeve.
O documentário utiliza de forma coerente imagens da própria filmografia do ator para ilustrar momentos de sua vida, como, por exemplo, sua habilidade na equitação, enquanto reconstitui os primeiros momentos após o acidente. Essa dicotomia permeia todo o documentário, que se propõe a revelar muitas facetas do astro por meio dos relatos de pessoas próximas, relações familiares e colegas de trabalho que tiveram a oportunidade de conviver com ele. Além disso, o filme revela os próprios pensamentos de Reeve sobre diversos temas, como a fama, relacionamentos amorosos e sua própria história de vida.
Super/Man: A História de Christopher Reeve / Foto: Warner Bros. Pictures |
É evidente que a direção do filme não se preocupa em preservar a imagem de Reeve apenas como um bom ator, filantropo e pessoa resiliente, especialmente após o acidente. O documentário fala abertamente sobre seus erros em diferentes aspectos da vida, algo raro em comparação com outros documentários, que costumam construir uma imagem idealizada da figura central.
Outro ponto de destaque são as reflexões sobre sua vida antes e depois do acidente, bem como sobre a tetraplegia. A compreensão de Reeve sobre o privilégio de ser uma pessoa famosa com deficiência em uma época tão excludente foi crucial para que ele tivesse uma rede de apoio nos momentos mais difíceis. Essa conscientização culminou na criação da Lei de Assistência Acessível Christopher e Dana Reeve.
Super/Man: A História de Christopher Reeve / Foto: Warner Bros. Pictures |
A condução do documentário não se limita a iluminar o aspecto da mudança drástica na rotina de Reeve após o acidente e sua perspectiva como uma pessoa com tetraplegia, mas também se dedica a mostrar o impacto que isso acarretou em sua família e, especialmente, na vida da pessoa que se tornou sua cuidadora, sua esposa Dana, que esteve ao seu lado durante toda a jornada.
Fico em dúvida se devo dizer que Super/Man é o melhor documentário lançado este ano ou se teria a ousadia de afirmar que é o melhor filme de 2024, independentemente de qualquer gênero. A onda de emoções que esta experiência proporciona transcende o que podemos definir apenas como arte, sendo também uma mensagem sobre muitos temas, inclusive a esperança, que Christopher Reeve nos transmitiu tanto nas telas quanto em sua vida.