Por Victoria Hope
Contratempos já começa caótico com uma mãe correndo com seus filhos pelas ruas para levá-los até a escola antes de ir trabalhar. Nossa protagonista Julie, é uma camareira que trabalha em um hotel da cidade e assim como muitos, almeja encontrar uma oportunidade melhor de emprego melhor em meio ao caos.
O longa é um relato e uma carta sobre a classe trabalhadora, que luta, corre no dia a dia, que sofre com salários baixos, com a falta de tempo para cuidar não apenas da família, como também do próprio bem estar, mas vive com a esperança de dias melhores. A câmera frenética de Contratempos em sintonia com a atriz Laure Calamy é um dos pontos altos que faz com que a adrenalina de quem está assistindo entre em uníssono com as reações da protagonista.
Toda a rotina do filme é embalada não apenas pela vida de Julie, mas também por protestos que estão acontecendo por Paris, o que é uma das grandes características da cidade há séculos. A leve quebra da rotina da protagonista é com um completo estranho em um vislumbre do que poderia ser a vida dela caso ela fosse aos protestos o invés de trabalhar.
Contratempos / Foto: Festival Varilux |
Uma das mensagens do filme é algo de extrema relevância para esse momento em que todos vivemos, afinal, muitos trabalhadores pensam 'por quê eu deveria ligar para protestos? Preciso ir trabalhar para colocar comida na mesa'. Toda luta por justiça social ou busca por mais direitos trabalhistas é deixada de lado para que a 'máquina' seja abastecida com a força de trabalho, para que no fim, mesmo os funcionários exemplares, sejam simplesmente descartados após anos de dedicação.
Todos que já passaram pelo mercado de trabalho com certeza vão se identificar com as alegrias e tristezas que Julia nos apresenta e o alívio, quando ela consegue, mesmo depois de perder quase tudo, finalmente realizar seu sonho de recolocação no mercado.
Porém, todo o sonho possui uma consequência, sendo essa a escolha difícil da mãe de ter que passar menos tempo com os filhos a fim de conseguir dar conta da nova função. Quantas mães solos não tiveram que passar pela mesma situação? Os momentos finais de Julie são catárticos e só entenderão esses últimos minutos, aqueles que já tiveram que fazer escolhas difíceis em busca do sonho.
Nota: 8.5/10