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[Review] Belle de Mamoru Hosoda

 

Por Victoria Hope

Do mesmo criador de 'Wolf's Children', uma das pérolas do cinema de anime japonês, Belle é a nova fábula moderna do genial Mamoru Hosoda, que recebeu mais de 14 minutos de palmas no Festival de Cannes 2021 e é um dos favoritos ao Oscar de 2022 na categoria de Melhor Animação. 

Em Belle, conhecemos a história da melancólica Suzu, uma jovem que perdeu a sua mãe na infância para um acidente em um rio e que cresceu afastada do pai e dos amigos devido ao trauma. Inicialmente percebemos que a estudante guarda seus sentimentos e carrega em si uma tristeza palpável.

Todos os dias, Suzu se levanta, acorda, rejeita os convites de almoço ou café da manhã dados por seu pai, rejeita os pedidos de interação com seus colegas de classe e faz sempre o mesmo caminho, passando pelo rio que levou sua mãe. 

Suzu de 'Belle' / Studio Chizu

Era de se imaginar que Suzu não tinha amigos ou pessoas que se importavam, mas na verdade ocorre o oposto, todos querem sua amizade, mas a garota se fechou em sua concha após aquele fatídico dia e nunca mais foi a mesma, mas tudo muda quando é lançada uma nova rede social.

Belle traça um retrato da juventude que já cresceu com celulares na mão e que utiliza a tecnologia não apenas por questões banais, mas para se conectar com pessoas, sejam amigos, família ou conhecer novas pessoas em um ambiente totalmente virtual.

É um filme necessário, que precisa ser assistido numa tela de cinema, de preferência em salas com qualidade de som e imagem para que a experiência seja completa. O trabalho do Studio Chizu precisa ser prestigiado por essa produção.  

Belle / Studio Chizu

No universo de 'U', os participantes dessa rede social podem ser quem eles quiserem, assumir qualquer identidade e ser o que eles realmente gostariam de ser. Se alguém tem timidez na vida real, nesse mundo virtual a pessoa se torna livre para ser quem ela realmente é, sem filtros e sem o medo de ser vista por pessoas reais.

É nessa rede que Suzu encontra felicidade pela primeira vez após tantos anos de luto. Ela cria um avatar chamado 'Bell' e decide que em U, ela será uma estrela. É possível notar logo no início do filme que a protagonista era apaixonada por canto, mas o luto a impedia de seguir em frente, porém, em U, tudo é diferente, já que ela não precisa ser 'ela mesma'. 

Rapidamente, Bell se torna uma sensação pop da rede social. Inicialmente ela se depara com os típicos haters, como em todo jogo de realidade virtual ao estilo Second Life ou VR Chat, mas com destreza, ela consegue ignorá-los com o tempo e continuar a cantar.

Universo de 'U' / Studio Chizu

Belle é um espetáculo visual e narrativo e a partir do momento em que entramos nesse universo, é impossível sair ileso. O estúdio fez um trabalho primoroso ao usar animação 2D para retratar a realidade de Suzu e o 2D mesclado com 3D no universo virtual de 'U', técnica que mostra perfeitamente a inclusão da tecnologia em sintonia com a arte tradicional intrincada do gênero anime.

Um verdadeiro conto de fadas moderno e futurista, Belle traz muitas mensagens além da típica frase de seguir em frente; ele mostra que mais do que sobreviver, temos que ajudar uns aos outros e como a internet, mesmo com o anonimato, possibilita salvar vidas, tanto no sentido figurado quanto real.

Em dado momento, somos introduzidos à segunda subtrama da história, que é o aparecimento de um monstro que ataca a rede social e atende pelo nome de 'Dragão' ou 'Fera'. Imediatamente, Belle se sente intrigada pela figura, enquanto o monstro apenas tenta afastá-la.

Dragão e Belle / Studio Chizu

Aos poucos percebemos que a trama de Belle, nada mais é do que uma releitura de Bela e A Fera em uma versão repaginada aos moldes do nosso presente ou futuro próximo. A Fera não é quem parece ser e aos poucos, o público é introduzido a uma outra faceta completamente inesperada do personagem. 

Belle é uma história de amor e empatia, mas também uma história sobre conexões e como juntos, podemos ser mais fortes e mudar o mundo, mesmo em ambientes virtuais. O paralelo entre o sacrifício da mãe de Suzu e o da própria, que se arrisca também para salvar quem precisa dela, foi belíssimo, mas Vale o aviso de gatilhos antes de terminar essa crítica, pois o filme aborda a temática de abuso infantil, mas a resolução vem como um abraço quentinho e esperado.

O longa definitivamente merece o Oscar de Melhor Animação, não apenas pela forma deslumbrante que aborda a história, como também pela fotografia belíssima e trilha sonora incrível que ficou por conta da genial compositora e cantora, Kaho Nakamura, que com certeza vai arrancar muitas lagrimas do público. 

NOTA: 10/10

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