Navigation Menu

[Entrevista] Diretor Tadeusz Lysiak e atriz Anna Dzieduszycka falam sobre The Dress, curta na shortlist do Oscar

 19/01/2022

Por Victoria Hope

Com direção de Tadeusz Lysiak e estrelado pela atriz polonesa Anna Dzieduszycka, 'The Dress', é uma das apostas na shortlist para o Oscar 2022 na categoria de Curta Metragem. Na trama, conhecemos Julia, uma camareira que possui nanismo e que deseja encontrar amor e busca por uma conexão através do toque. 

Ao longo da trama, acompanhamos a luta diária da personagem, que navega por seus dias trabalhando no hotel ao lado de sua melhor amiga Renata, entre risos e lágrimas, em uma história que mostra a conexão entre as mulheres e como mesmo com a vida de sofrimento, juntas podemos fortificar umas as outras.

Em tempos onde buscamos conexões e o verdadeiro significado que que é ser amado e acolhido, o longa de Lysiak toca no dedo da ferida do preconceito, abordando esse tema que é tão pouco explorado nos cinemas e que merece mais destaque. 

Nessa quarta (19), tivemos a oportunidade de entrevistar o diretor e a atriz sobre o filme e desvendar diversos detalhes e curiosidades relacionadas a essa forte produção. Você consegue conferir a nossa crítica completa de 'The Dress' aqui.

CONFIRA A ENTREVISTA

Tadeusz, Anna e o intérprete oficial durante a coletiva 

Amélie: Quais foram os maiores desafios durate as filmagens do curta? 

Tadeusz: Sabe, foram muitos desafios, alguns foram mais práticos e outros foram mais relacionados ao lado emocional. Escrevi esse roteiro super longo de uma página que continha 52 cenas nele e nós só tínhamos seis a sete dias para filmar. Então nós trabalhos provavelmente em 9 cenas por dia, o que foi extremamente difícil para nós.

Já os aspectos mais emocionais foram relacionados à amizade feminina e feminilidade, então tive que mergulhar em mim mesmo para buscar isso, então, eu tive que 'ser' uma mulher enquanto escrevia esse roteiro, tanto na produção quanto pós-produção, tive que buscar essa sensibilidade e também tive que buscar as emoções em Julia através das minhas experiências.

Quando eu era mais novo, no ginásio ou até mesmo mais novo, eu era muito magro, mas de uma forma nada saudável se me entende, nem me lembro quanto eu pesava, mas foi horrível, fui rejeitado pelas pessoas ao meu redor, eles zombavam de mim, então acessei justamente essas memórias para me identificar mais com Julia.  Então essa foi uma jornada emocional para todos nós, na verdade. Nós falamos muito sobre nossas experiências, eu e a Anna, até encontrarmos o que havia de comum em nossas histórias e nas histórias de todos a nossa volta.

Amélie: Além da sua performance, você conseguiu ver muito de você na personagem? 

Anna: Consegui me identificar com Julia porque também sou uma pessoa com baixa estatura e também enfrento esses problemas diários, como por exemplo, não consigo alcançar algumas coisas, fora que as pessoas ficam olhando porque tenho essa característica específica. 

Me identifiquei também pelo lado das emoções e da amizade feminina, justamente pela amizade entre Renata e Julia. Também me identifico com a primeira vez dela com um homem, mas acho que para muitos, a primeira vez pode ser 'insana', difícil e ou talvez possa ter sido até mesmo boa e feliz para nós, então, eu me identifico sim com a personagem, mas só até um determinado ponto, porque sou uma pessoa diferente dela. 

Sou uma pessoa que gosta de zoar e sair por aqui, acredito que sou bem 'soltinha', sempre com um amor, sempre socializando e conhecendo pessoas novas.

Amélie: O que o inspirou a escrever essa história nesse momento?

Tadeusz:  Eu estava procurando um assunto apropriado para o filme, porque essa é a minha formação,  acadêmica, então eu sempre começo com a pergunta: 'Qual é a história que eu quero contar? 'Quais são as emoções universais que eu quero abordar?' Eu queria fazer um filme sobre solidão, amor ou a falta dele, desejo, rejeição e todos esses sentimentos universais. 

Aí na internet, achei um artigo sobre pessoas com nanismo e quando eu li, isso abriu meus olhos, porque eu não sabia quais desafios eles enfrentavam diariamente, então me aprofundei ainda mais, li blogs e artigos sobre o assunto e fiquei chocado em saber que não existem tantos filmes sobre pessoas com nanismo com foco nelas. Existem alguns atores por exemplo, como Peter Dinklage, mas não tanto, então eu pensei, 'vamos nos aprofundar ainda mais nisso'.

Conheci então Anna e ela foi minha maior inspiração para esse filme, porque a encontrei quando eu já havia finalizado o roteiro, mas ele não estava bom, então quando me aproximei dela, ela me deu vários toques sobre o roteiro e como mudar o personagem para fazê-la mais real e autêntica, além de torná-la mais poderosa, porque quando vi o tão poderosa e forte Anna é por dentro e tão maravilhosa, seu senso de humor, o quão direta ela é.

Eu peguei tudo isso e acrescentei à Julia. Eu ia colocar Julia ouvindo músicas tristes, mas Anna me disse 'Não, vamos colocá-la ouvindo algo mais pesado', como death metal. 

Dorota Pomykała / Foto: Divulgação

Amélie: Como foi trabalhar com a maravilhosa Dorota? Ela foi completamente hilária. 

Anna: Dorata é simplesmente maravilhosa como pessoa, ela é tudo e é uma atriz de prestígio muito conhecida na Polônia, que tem muita experiência, mas ao mesmo tempo ela muito calorosa e muito aberta como pessoa e eu acho que a escalação dela para esse filme foi perfeita, porque quando a conheci pela primeira vez, nossa química durante a leitura do roteiro foi instantânea. Nos conectamos imediatamente e eu adorei ela. 

Amélie: O que significaria pra você vencer o Oscar desse ano na categoria de Melhor Curta? 

Tadeusz:  Meu Deus (risos), eu vejo esse filme como um ponto de ignição e isso significaria muito para mim, não porque apenas quero ganhar esse troféu lindo para ter em casa, claro que seria legal, mas o que eu realmente quero é que esse filme seja reconhecido e que ele seja visto pelas pessoas, mudar o mundo um pouco, para melhor, é claro. 

Por exemplo, vamos pegar o cinema, sejamos mais inclusivos, vamos trazer mais diversidade aos filmes, vamos falar sobre pessoas com nanismo, mas não apenas delas, vamos falar sobre pessoas com outras características únicas também, vamos falar sobre esse assunto que é muito importante para mim (inclusão). 

Levar esse prêmio seria uma grande honra e seria importante porque traria atenção para esse filme e mais pessoas assistiriam, porque esse é o nosso principal objetivo. Nós já alcançamos muito, mesmo com a finalização desse curta e com todas essas indicações, mas na verdade, somos mais felizes quando recebemos mensagens, emails e as pessoas nos buscam e nos agradecem pelo filme.

Quando ouvimos que alguém com lágrimas nos olhos,  nos agradecendo pelo curta, essa é nossa maior recompensa. As lágrimas são nossos Oscars (risos). 

Amélie: Para concluir nosso papo, esse filme é pesado, mas também nos traz uma importante mensagem sobre inclusão. Qual recado você gostaria de deixar para outras atrizes com nanismo que gostariam de entrar para a indústria?  

Anna: Minha mensagem seria: Não tenha medo de viver sua vida, não tenha medo de acreditar em você mesma. Se você sente algo em suas entranhas, vá em frente com seus objetivos. Julia mostrou isso para todos nós no filme, ela queria se tornar uma mulher (no sentido carnal e ela se tornou. 

Claro que não aconteceu da forma que ela gostaria que acontecesse, então quanto a isso eu só digo, não tenha medo de seguir seus sonhos e mais importante que tudo, trate as pessoas da mesma forma que gostaria de ser tratado. Então é isso, não tenha medo de viver em sociedade, não tenha medo de viver sua vida. 

0 comments: