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Sundance 2022 | Entrevista com diretores Rachael DeCruz, Jeremy S. Levine, e Dorothy Oliver, estrela do curta The Panola Project

 

Por Victoria Hope

Durante essa edição do Sundance, tivemos a oportunidade de assistir o delicado e necessário curta 'The Panola Project', que conta a história de uma única mulher, Dorothy, que tomou a decisão de cuidar de sua região na comunidade negra rural dos Estados Unidos, realizando campanhas de prevenção ao Covid-19.

Em tempos onde o medo das vacinas e o movimentos anti saúde estão a todo vapor pelo mundo inteiro, é refrescante notar que existem pessoas como Dorothy, que lutam pela conscientização e pela saúde de todos a seu redor. 

Tivemos a oportunidade de entrevistar a diretora e a própria Dorothy sobre esse documentário para desvendar os segredos dessa importante produção. 

CONFIRA A ENTREVISTA 

The Panola Project/ Foto: Sundance

Rachael DeCruz & Jeremy S. Levine

Amelie: Em tempos de distanciamento social, seu filme toca num importante assunto: Heróis anônimos que estão tentando proteger seus bairros / cidades. Com isso em mente, o que vocês acham que as pessoas irão aprender com o Panola Project? 

Rachael DeCruz & Jeremy: Existem alguns elementos chave que queremos que as pessoas levem de The Panola Project: A força e poder da mulher negra. Todos os dias, vemos mulheres negras dos Estados Unidos tomado a iniciativa com suas próprias mãos, já que nossas instituições falham com suas comunidades. 

Nós queremos celebrá-las e queremos recompensar seu ótimo trabalho. Imagine quantas benfeitorias poderíamos fazer se pudéssemos investir em líderes comunitários como Dorothy e Ms Jackson ao redor do país! Mas nós também sabemos que isso não pode depender apenas de nós. Como um país, nós precisamos trabalhar para garantir que os recursos sejam direcionados para as comunidades necessitadas, para que não haja um fardo tão grande colocado em cima de indivíduos como Dorothy.

Os esforços de Dorothy são uma modelo que pode ser replicado ao redor do país e do mundo. Sua estratégia resultou na vacinação de 99% da população de Panola em um dos estados com um dos menores números de vacinados do país. Ela iniciou esa conversa com curiosidade, fez as perguntas para as pessoas para entender mais profundamente sobre seus pontos de vista e os ofereceu informações que eles precisavam. Ela nunca desistiu, nem mesmo quando as pessoas a menosprezavam e ela seguiu até que as pessoas começassem a agir. 

Há uma falta de investimento e infraestrutura nas comunidades rurais, especificamente nas comunidades rurais negras, então o Panola Project revela todas as barreiras sistêmicas que impediam os membros da comunidade a se vacinarem, incluindo a falta de acesso ao sistema de saúde (por exemplo o hospital mais próximo fica a 40 milhas), desafios com o acesso à internet e transporte e a falta de informações gerais do governo.

Amelie: Todos nós tivemos Dorothys em algum ponto de nossas vidas. Vocês já tiveram uma Dorothy em suas vidas antes quando mais precisavam e se sim, qual mensagem gostariam de transmitir para elas?

Rachael DeCruz & Jeremy: Dorothy é um tipo de heroína, mas sim, nós dois tivemos pessoas em nossas vidas que nos formaram e tomaram frente para tomar conta de nós e nossas famílias enquanto enfrentávamos momentos difíceis. Nós somos gratos a eles, pois seu amor e cuidado significam muito. Até mesmo pessoas que não conseguem verbalizar sua gratidão no momento, atos de bondade (não importa quão pequenos), são os blocos construtores para nos ajudar a criar uma sociedade mis conectada e acolhedora.

Amelie: Como se sentem por ter seu curta estreando no Sundance, uma das maiores iniciativas da indústria de cinema indie na America?  

Rachael DeCruz & Jeremy: Estamos animados em estar no Sundance! Essa é a nossa primeira vez no Sundance e significa muito ver a história de Dorothy ser reconhecida dessa forma. Nós somos gratos pela oportunidade de compartilhar a história dela com a comunidade do Sundance e esperamos que todos se apaixonem por ela tanto quanto nós. Esse também é o primeiro filme que eu, Rachael DeCruz faço, então isso fica ainda mais especial. 

Amelie: Quais foram os maiores desafios que vocês e suas equipes tiveram que lidar durante as filmagens?

Rachael DeCruz & Jeremy: Foram tantos desafios durante as filmagens e sendo um deles a Covid. No começo, nós não tínhamos certeza de que as pessoas se conectariam com Dorothy e as outras pessoas do filme se não pudessem ver seus rostos. Dorothy é tão expressiva e animada que no fim, isso não foi um problema e as máscaras ajudaram muito na sala de edição.

Outro desafio foi que nós estávamos tentando terminar o filme o mais rápido possível para que pudéssemos lançá-lo pelo mundo. Quando você faz um filme, existe uma conexão tão grande com o momento, que você usa todo o seu poder para lançá-lo da forma mais oportuna. Nenhum de nós imaginava que após um ano desde quando começamos, o filme estaria mais relevante que nunca. 

Amelie: O que mudou em suas vidas após a pandemia e três lições que vocês aprenderam durante a produção de Panola Project? 

Rachael DeCruz & Jeremy: Essa é uma pergunta muito boa! Uma das coisas que mudou foi o ritmo da vida. Essa pandemia tornou a socialização algo muito desafiador, então nos deu espaço para priorizar estar em casa e nos permitiu ter uma rotina mais lenta, o que foi mais intencional. Três lições que foram reinforçadas durante a criação do curta 'The Panola Project'

#1 | A importância da confiança e de relacionamentos. Isso foi o que permitiu Dorothy a incentivar pessoas a tomarem a vacina; foi a força das relações de Dorothy que fez esse filme ser possível. Dorothy foi a coprodutora de muitas formas, porque quando ela diz que algo precisa ser feito, as pessoas ouvem!

#2 | Quando estamos em tempos de crise, é mais importante que nunca nos unirmos e apoiarmos uns aos outros. Dorothy e Ms. Jackson modelaram isso de forma tão bela em Panola que isso resultou no aumento dos números de vacinação nessa pequena comunidade do Alabama. 

#3 | Se você está tentando fazer as pessoas tomarem atitudes, é importante entender em que lugar elas se encontram, entrar em conversas com curiosidade e paciência e ser persistente  no seu follow-up. Quando nós entramos em conversas de forma julgadora e que que os envergonha, isso irá fechar as linhas de comunicação e tornar impossível nos conectarmos uns com os outros. Amor, respeito e compaixão — É assim que iremos mover as pessoas e concretizar mudanças reais. 

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The Panola Project / Foto: Sundance

Dorothy Oliver, a protagonista do projeto

Amelie: Você é uma verdadeira heroína. Com isso em mente, nos diga como é a sensação de ter a possibilidade de ajudar tantas pessoas? 

Dorothy: É incrível! Nunca imaginei que meu trabalho pudesse atingir esse nível de atenção ou que qualquer um me consideraria uma heroína. Tenho sido ativa em minha comunidade por tantos anos que a possibilidade de prover é natural porque todos da cidade são como família, e você sempre quer o melhor para sua família. Enquanto eu nunca fiz nada para ganhar reconhecimento, eu espero que as pessoas  que veem minhas ações como heróicas, sejam incentivadas também a fazer o mesmo por suas comunidades. 

Amelie: Como é poder contar sua história em um dos maiores festivais de cinema indie dos Estados Unidos?

Dorothy:  Essa foi a experiência mais incrível. Eu acho que no começo, eu não havia entendido a magnitude e larga escala do Sundance, meus filhos tiveram que me explicar, mas estou encantada em ver minha história nessa plataforma. Sou grata a Rachael e Jeremy por tornarem possível minha história ser contada e compartilhada, e com sorte, espero que ela seja o catalizador para que outros façam a mudança em suas comunidades.  Foi uma benção tão grande estar trabalhando com eles e vendo a paixão enorme deles em  mostrar como a pandemia afetou pessoas, que de outra forma, não tinham voz ativa e como nós nos juntamos como comunidade para lutar contra a Covid. 

Amelie: O que a inspirou a ajudar sua comunidade e criar esse projeto para Panola?

Dorothy: Eu realmente amo minha comunidade. É uma cidade pequena onde todos são muito próximos e todos se conhecem. Panola fica localizada na área mais pobre do estado do Alabama, então não há muitos recursos para ajudar a região.  Me senti na obrigação de educar meus vizinhos e ajudar a assegurar que todos soubessem a importância de tomar a vacina e realizar os testes. Perder alguém da comunidade, seria uma perda para todo e eu senti que era minha responsabilidade tomar as rédeas da situação e assegurar que o maior número de pessoas estivesse saudável.

Amelie: Você gostaria de um dia expandir esse projeto para outras regiões dos Estados Unidos também? 

Dorothy: Estou agora em um emprego fixo para assegurar que Panola esteja 100% vacinada e que todos tenham a dose de reforço. Eu espero poder expandir meus esforços para outras cidades do condado; por conta da cidade ser muito rural, não temos os mesmos recursos que condados maiores possuem. Não sei se meu calendário me permitiria viajar para outras regiões, particularmente com os casos de Covid aumentando, mas eu estaria mais do que feliz em poder dar conselhos e prover ajuda para todos que buscam.

Amelie: Se pudesse mandar uma mensagem para o mundo inteiro sobre a pandemia, qual mensagem seria?  

Dorothy: Eu diria que nós devemos aprender a tratar uns aos outros como se fôssemos vizinhos, realmente ligar uns para os outros e para nosso bem estar. Eu perdi membros da família devido ao Covid ao redor dos Estados Unidos e pessoas da minha comunidade que conheço há anos. Eu vi os efeitos da ansiedade nas pessoas tentando ficar saudáveis, vi donos de pequenos negócios sofrendo, assim como nossa loja geral (da cidade). Tem tanta desinformação sendo compartilhada, que eu gostaria de compartilhar mais da minha experiência pessoal com a pandemia e os impactos dela na comunidade e na família. Mesmo que Panola esteja há milhares de quilómetros de quem está lendo isso, nós devemos trabalhar juntos como uma só comunidade para manter todos a salvo e saudáveis para que logo voltemos a normalidade. Nós merecemos isso. 

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