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[Review] The House (Netflix)

 16/01/2022

Por Victoria Hope

A mais nova animação stop-motion original da Netflix, 'The House' é um respiro para o gênero e se faz necessária, principalmente em tempos de isolamento. Na antologia, conhecemos três distintas histórias, dirigidas por três dos maiores animadores stop motion contemporâneos, Emma de Swaef & Marc James Roels, Niki Lindroth von Bahr e Paloma Baeza.

Nessas três histórias, os visionários diretores contam a história da relação de três personagens diferentes em uma mesma casa, ao longo das eras, passando desde o passado na era Vitoriana ao possível futuro, que pode ser mesmo durante ou após 2022. 

Com a proposta de horror, mas erroneamente divulgado como humor dark, a antologia propõe uma nova visão ao universo stop motion, provando que o gênero, unido ao terror e drama em uma trama voltada para adultos, funciona tão bem quanto em animações mais divertidas voltadas ao público infantil. 

Capítulo 1 / Foto: Netflix

No capítulo 1 dirigido pelo casal Emma de Swaef e Marc James Roels, acompanhamos a vida de uma família humilde da era vitoriana, em 1800, que apesar do pouco que tem, vivem uma vida de harmonia, até a mãe de Raymond, que é nosso protagonista, chegar e humilhar o filho, dizendo que ele é tão pior quanto seu pai, já que segundo sua mãe, o mais velho tinha problemas com bebida.

Isso é o suficiente para que o  Raymond estremeça e caia na bebedeira noite a fio, até que misteriosamente, ao andar sem rumo pela floresta, ele encontra uma misteriosa carruagem e a partir daí, sua vida e a vida de sua família mudam para sempre. 

Simplesmente adorei a metáfora de materialismo dessa primeira parte da antologia e a metáfora do materialismo e como rapidamente, por pura ganância, os pais desistiram de sua antiga casa para se encantarem por essa nova. Nota-se que Raymond tomou todas as decisões sem consultar a família, tudo o que ele fez foi por si mesmo e até a nova casa demonstra, com as cores azuis da parede e mesa distante, o quanto os pais foram se afastando das filhas e ficando cada vez mais gananciosos.

A metáfora da riqueza e luxo são pontuais, afinal, existem muitas marcas hoje que pessoas abastadas consomem apenas por status e foi este mesmo status que causou a ruína dessa família. Antes eles tinham um lar, mesmo que humilde, agora eles só tem uma casa e nada mais. 

Capítulo 2 / Foto: Netflix

[TW: Dissociação, depressão, insetos e despersonalização] O Capítulo 2, foi talvez um dos mais fortes e surreais da antologia, com direção de Niki Lindroth von Bahr. Na trama, acompanhamos a vida de um rato que é desenvolvedor e está tentando vender uma mansão, por meio de fraude imobiliária. 

Foi genial a forma em como mostraram a deterioração da saúde mental do protagonista nessa segunda parte e eu particularmente vi a infestação de insetos na casa como uma metáfora própria saúde mental dele piorando cada vez mais. 

Ele inventa essa vida fictícia pra ele, que não real não passa de uma fraude imobiliária, ele inventa na cabeça que tem uma relação amorosa, quando na verdade está importunando o próprio dentista, chamando ele por apelidos carinhosos. Tudo isso é uma ilusão e não sabemos se na verdade, tudo aquilo é real, ou se o personagem está se dissociando. 

Acredito que a invasão de ratos-inseto na casa dele, mostra apenas o agravamento da questão de saúde mental do protagonista e gosto de imaginar que ele acabou indo pro hospital por conta de um surto psicótico ou de um ataque de pânico. 

Ao final, vemos os insetos (a saúde mental deteriorada dele), o dando boas vindas calorosas e também vemos ele passando por uma despersonalização mais uma vez, esquecendo completamente de quem ele é. Ou será que ele sempre foi aquilo que vemos no final? Seria aquele o verdadeiro 'eu'? 

Capítulo 3 / Foto: Netflix

Já o capítulo 3, que encerra a antologia, foi um dos que mais me pegou. Com direção de Paloma Baeza e vozes de Helena Bonham Carter, Mia Goth e Cillian Murphy, acompanhamos a vida de uma caseira que aluga a mansão para pessoas de fora, mas a mansão atualmente está coberta por água e sumindo cada vez mais. 

Esse aqui me pegou, eu literalmente chore no final da história porque me identifiquei demais com a protagonista, Rosa. Acho que as metáforas nesse são bem mais óbvias: A protagonista não queria deixar seu passado, ela estava presa à casa e não queria seguir em frente. 

Acredito que o objeto 'A Casa' é uma extensão da mente dos protagonistas, ou seja, se a casa representa o estado mental dela, Rosa estava quebrada por dentro, precisava mudar, mas ela tinha muito medo. Mesmo com ela tentando esconder as falhas com o papel de parede bonito, nada funcionava, mas ela queria muito focar na tal reforma, porque ela se sentia segura assim, já que pensar na reforma a fazia 'esquecer' que a casa estava sendo inundada. 

Ela precisou de três diferentes pessoas ( que talvez nem estejam mais vivas), pra seguir em frente e mesmo assim, quando ela triunfa, ela leva a casa junto com ela, porque percebe que ela não precisa se desprender totalmente de seu passado, ao invés disso, ela pode levar uma parte dele pra se lembrar de quem é, esse vai ser um fardo que vai seguir ela, mas não é por isso que ela precisa criar raízes e não sair do lugar. Levar a vida com leveza e ter um pouco mais de fé, são as lições que a protagonista aprende ao longo da história, pois mesmo com medo, ela vai rumo ao desconhecido. 

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