Por Victoria Hope
Baseado em fatos reais, '892' é a estreia de Abi Damaris Corbin no Sundance 2022, estrelado por John Boyega e Michael K.Williams, em seu último filme em vida. O longa conta a história real de um veterano da marinha americana que se vê forçado a criar uma situação aterrorizante a fim de ser ouvido pela mídia e pela polícia.
Vivendo em um motel barato em Atlanta, o doce e educado veterano Brian Easley, que sofre de estresse pós traumático, é tomado por forças além de seu controle, possivelmente por não ter tomado seus medicamentos, em um dia fatídico onde decide invadir um banco com uma bomba atrelada ao corpo. Sua intenção era fazer alguns reféns para chamar atenção da mídia e tirar a própria vida logo em seguida, caso os oficiais da justiça não atendessem suas demandas.
Inicialmente o motivo desse ataque planejado pelo rapaz não é explicado, mas logo, jornalistas, policiais, canais de TV e até mesmo a S.W.A.T passam a se envolver no caso a fim de salvar essas vítimas. O que levou um homem tão pacato a ter um dia de fúria? Essa pergunta é desvendada ao longo da trama, demonstrando que Bryan quer dinheiro, mas não do banco que ele invadiu, não de sua família, mas sim do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, que lhe deve dinheiro por serviços prestados ao país.
Michael K Williams em seu último papel no cinema / Foto: Sundance |
Nessa montanha russa emocional, John Boyega entrega uma das performances mais complexas e intricadas de sua carreira, ao lado de Michael K. Williams, que igualmente apresenta um trabalho maravilhoso, apesar de contido, na pele do policial mediador, nesse que foi seu último papel, que sem dúvida ficará marcado na lista extensa de sua carreira tanto na televisão quanto no cinema.
892 aponta o dedo para as injustiças da guerra e para a importância da responsabilidade social para com soldados veteranos americanos; muitos estes, principalmente negros, que entram para o exército por obrigação e não por escolha e que no fim, aposentam-se cedo quando mal alcançam trinta anos de idade e passam a ser deixados de lado, sem suporte emocional, financeiro ou governamental, mesmo após arriscarem suas vidas por seu país.
Mesmo com a empatia que as reféns demonstram ao ouvir a história do veterano, ao final quem vence não é a razão, pois Bryan, apena aos 33 anos de idade, se torna apenas mais uma estatística. Nos últimos letreiros, descobrimos que mesmo após a morte do veterano pelas mãos de atiradores profissionais na vida real, a família do rapaz até hoje não recebeu a compensação financeira que ele tanto queria do Departamento de Assuntos de Veteranos, demonstrando que mesmo com a razão, arriscar seu pescoço pela pátria por tantos anos, de nada adiantou a essa vítima do sistema.
NOTA: 9/10